Shadow of Rome

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O universo dos gladiadores sempre causou fascínio nos nerds. Das aventuras de Asterix e Obelix a filmes do Ridley Scott, muitas mídias já abordaram o tema. Faltava apenas um bom game que tratasse do assunto. Pois é, faltava.

Shadow of Rome começa tremendão. Você está no backstage de um combate de gladiadores e logo que entra na arena, tem que batalhar por umas poucas armas. Ainda na mesma batalha, você será incumbido de executar uns criminosos indefesos em um dos momentos mais sádicos da história dos games.

Depois disso, a história volta no tempo para a época em que o gladiador que você estava controlando (chamado Agrippa), era um soldado do exército romano. Daí em diante, você divide o controle entre o futuro gladiador e Octavianus, o sobrinho do Júlio César, que acaba de ser assassinado. Ah, sim, o grande objetivo do game é descobrir quem são os culpados pela conspiração que assassinou Júlio.

As fases de Agrippa são beat’em ups semi-puros, enquanto as de Octavianus são stealth daquele tipo mais irritante. Vamos começar com esse. As missões do descendente de César variam entre se infiltrar em algum lugar, seguir alguém ou ouvir conversas. Para isso, o máximo que o carinha pode fazer é se disfarçar e torcer para ninguém estranhar. Se isso acontecer, corra pela sua vida, entre em um vaso e torça para o cara ir embora sem quebrá-lo. E é basicamente isso.

Agora são nas fases de gladiadores que Shadow of Rome realmente brilha, principalmente para aqueles doentes entre nós que adoram uma violência explícita. Saca só essa descrição de uma cena comum no jogo: após uma violenta batalha, Agrippa corta um dos braços de seu adversário. O cara cai no chão se contorcendo de dor, mas Agrippa não tem dó e dá várias pisadas no coitado, que finalmente levanta, apenas para ser estapeado pelo próprio braço. Não satisfeito, o protagonista corta o outro braço do infeliz, deixando-o mais ou menos como o cavaleiro negro do Monty Python (o mais engraçado é que, assim como o personagem do sexteto inglês, os inimigos desmembrados continuam atacando com chutes). Finalmente, você decide que chega de brincadeira, ajuda o animal a se levantar e, enquanto ele fica tonto e completamente indefeso, o jogador (que é até mais sádico que o personagem) manda carregar o golpe final que vai cortar a cabeça dele fora. O cotoco que restou dele finalmente cai no chão, sem vida. A platéia vai ao delírio quando Agrippa pega a cabeça decapitada de sua vítima e a ergue, apenas para depois jogá-la na cara do próximo adversário.

Fofo, não? Pois é, delfonauta. Shadow of Rome não é para os facilmente impressionáveis. Infelizmente, além de ter que dividir tempo de tela com Octavianus, o jogo demora várias horas até colocá-lo novamente na arena dos gladiadores após a apresentação. E mesmo depois que você vence o torneio, ainda tem várias fases pela frente como soldado romano, o que é bem menos violento e bem menos divertido.

Assim como no clássico Pit-Fighter, aqui você é recompensado pela violência. A fofa cena descrita acima é apenas um exemplo, mas tem muito mais que pode ser feito para animar a galera, como cortar o adversário ao meio, esmagar a sua cabeça com uma maça ou até mesmo jogar uma rosa neles. Aliás, a rosa é a coisa mais bizarra, pois você pode também jogá-la na direção da platéia. Ah, sim, caso você não seja tão fã da audiência, pode jogar armas ou mesmo pedaços de corpos para a galera. Eles vão ao delírio de qualquer jeito.

Durante as fases de gladiador, existe um medidor na tela que mostra a satisfação do povo. Quando ela chegar ao máximo, é só você dar um grito que eles jogam uma big fucking weapon na sua direção. E aí é só alegria, pois um golpe completamente carregado de uma dessas armas tem efeitos devastadores. No mínimo, quebra o braço do cara, deixando-o um alvo ambulante, mas na maior parte das vezes, pedaços voam pela arena. O que eu, particularmente, gosto de fazer quando coloco minhas mãos nessas armas, é sair aleijando todo mundo, pois assim eles ficam completamente indefesos e eu posso acabar com eles da forma mais sádica que conseguir. Bwa-há-há, como eu sou mau.

Infelizmente, também, as fases de gladiador não são sempre porrada pura. Os eventos mais legais são chamados de Battle Royale, o equivalente a um deathmatch, ou seja, todo mundo contra todo mundo e o último que ficar de pé ganha. Infelizmente, só existem dois desses no jogo inteiro e as outras modalidades não são tão legais.

Algumas ainda são bem divertidas, como em uma onde você tem que matar mais gente que seu rival ou outras onde é todo mundo junto contra você. Também tem as que são mais irrelevantes, como algumas em que você luta contra animais. Mas tem outras que são uma pentelhação só, principalmente uma chamada de Team Battle. Nessa, você precisa destruir as estátuas do adversário dentro de um limite de tempo, o que já é bem chato. Mas para piorar ainda mais, você precisa da ajuda de um carinha controlado pelo computador, que tem que ficar segurando uma alavanca que expõe a estátua às suas armas. Se alguém bater nele, ele larga a alavanca e a estátua é protegida novamente. Mas o pior é quando o cara decide mostrar quão longe a raça humana ainda está de uma inteligência artificial decente e puxa a alavanca errada ou decide pegar uma arma inútil (já que você não precisa matar ninguém nesses eventos) que o faz andar bem mais devagar do que o faria normalmente.

Ah, falando em armas, o combate aqui é bem diferente do normal. As armas duram muito, muito pouco e, quando elas quebrarem, você fica desarmado e com três opções: roubar a arma de alguém (o que é muito difícil), procurar alguma caída pelo chão (o que normalmente não existe) ou então mostrar que você tem “grandes bolas romanas” (palavras do jogo) e encarar os inimigos na mão. Mesmo que eles tenham espadas, machados ou maças enormes. E aí, o que você escolhe?

Embora em alguns momentos, isso deixe a dificuldade do jogo acima do necessário, acrescenta um grau de estratégia e emoção bem diferente da que normalmente temos em beat’em ups, ou seja, foi uma inovação bem-vinda.

Se você curte história e grandes épicos, o roteiro desse jogo é muito legal. Não espere uma aula do que realmente aconteceu, já que não é essa a intenção, mas como obra de ficção, Shadow of Rome funciona muito bem. Praticamente toda a história é contada nas fases de Octavianus, pois para as de Agrippa, tudo que você precisa saber é “vença o torneio”.

Os gráficos são de medianos para ruins, mas não chegam a interferir negativamente na qualidade do jogo. A música é orquestrada e pomposa como tem que ser para épicos, mas não é nada que vai ficar eternamente marcado na sua cabeça. Para completar, o jogo é simplesmente o mais longo que eu tive saco de ir até o fim (minha primeira jogada deu mais ou menos 22 horas de jogo, contra apenas sete da primeira vez em God of War, para citar um exemplo), o que acaba servindo como um atestado de qualidade. Tudo bem que eu cortaria fácil as fases de Octavianus e, com isso, diminuiria bastante isso aí. Mas fazer o que se parece que as desenvolvedoras parecem ficar com medo de fazer um jogo de ação puro?

Resumindo? Vale a pena. A sensação de fatiar um inimigo em pedacinhos é algo que merece ser vivenciado por qualquer pessoa com algum traço de sadismo em sua personalidade. Aqui poderia ter um jogo digno do Selo Delfiano Supremo se tivessem mais fases Battle Royale e menos Octavianus. Como isso não aconteceu, fica apenas com um sólido 4,5. O que já o deixa acima da grande maioria de jogos que experimentei nos últimos meses.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
shadow-of-romeAno: 2005<br> Gênero: Porrada/Stealth<br> Plataforma: PS2<br> Fabricante: Capcom<br> Versao: PS2<br> Distribuidor: Capcom<br>