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“Corrales, você não gosta de videogame! Você reclama de mundo aberto, de dificuldade, de estatísticas!”. Estes são comentários comuns feitos aqui por quem lê minhas resenhas. E eles têm alguma razão. De fato eu não gosto do estado atual do mundo dos games. Mas eu ainda gosto do potencial que os games têm. Do que eles realmente podem oferecer de bom. Prova disso é que hoje vamos falar de Astro Bot, um jogo que faz a gente se lembrar porque se apaixonou por esta mídia tão mágica décadas atrás.

REVIEW ASTRO BOT

Astro Bot é um jogo de não ficção que conta o que acontece quando nosso PS5 dá problema. Os robozinhos que moram dentro dele se espalham por vários planetas e o capitão vai atrás para recuperar todos. Ele faz isso através de fases de plataforma 3D extremamente criativas, com uma enorme quantidade de variação e de mecânicas. Enquanto isso, os que já foram resgatados se esforçam para reconstruir o videogame.

Astro Bot, Sony, Team Asobi, Delfos, Plataforma
Em Astro Bot, tudo tem carinha feliz. Como na vida real!

Astro Bot era de longe o jogo mais esperado de 2024 para mim. Um daqueles raros casos em que eu não via possibilidade de me decepcionar. E, de fato, não me decepcionei. Temos aqui um nível de qualidade tão absurdamente alto que ele olha nos olhos da realeza dos games de plataforma e fala “eu sou tão bom quanto você. Quiçá melhor!”.

ASTRO BOT X SUPER MARIO

Astro Bot, Sony, Team Asobi, Delfos, Plataforma

O mundo dos jogos de plataforma costuma ser área quase exclusiva da Nintendo. Tem muita coisa mais independente que sai, mas até por limitações de orçamento, dificilmente chegam ao nível de um grande Super Mario 3D. Porém, a Nintendo é severamente limitada pelos seus consoles tecnicamente datados. Seus artistas e game designers são excelentes, entre os melhores da indústria. Mas tem coisas que não dá para fazer em um videogame com tecnologia de mais de 10 anos atrás.

Este é o trunfo de Astro Bot. Temos aqui um jogo que olha para o passado e para o futuro ao mesmo tempo. Para o passado porque é um plataforma 3D bem tradicional. E para o futuro porque é totalmente next-gen. Carregamento instantâneo, gráficos em alta resolução, partículas e objetos interagíveis em excesso. É incrível pensar que algo com este visual e tão animado roda a 60 fps lisos.

ASTRO BOT É DELÍCIA EM FORMA DE VIDEOGAME

Astro Bot, Sony, Team Asobi, Delfos, Plataforma
Olha a quantidade de pedrinhas! E absolutamente tudo reage a seus movimentos.

De nada adianta o virtuosismo técnico se o jogo não fosse simplesmente fantástico. E aí entra o que o torna tamanha delicinha. Absolutamente tudo que está no jogo existe para te fazer sorrir. Tem um monte de coisinhas pequenas, que parecem supérfluas. Mas daí você percebe que justamente por causa dessas coisinhas, você passa todo o tempo com um enorme sorriso no rosto.

São frescurinhas como passar dentro de uma moita e borboletas coloridas saírem voando. Astro Bot é cheio de detalhes assim que fazem muita diferença. Como os backing vocals em uma deliciosa música de rock farofa, é o tipo de coisa que você quase não percebe individualmente, mas elas absolutamente contribuem para o sabor geral da experiência.

O nível lúdico é tão alto que até coisas tecnológicas viram brincadeiras. Por exemplo, as telas de carregamento. Astro Bot poderia tranquilamente fazer aquele carregamento estilo cartucho – tela preta por um segundo e daí o jogo aparece – mas ele transforma o que poderia ser irrelevante em algo divertido. Homo Ludens e tal.

CRIATIVIDADE ABSURDA

Astro Bot, Sony, Team Asobi, Delfos, Plataforma

Totalmente contra as tendências, Astro Bot não é um forever game. Dá para fazer 100% em um final de semana, mas ele recompensa o tempo que você investe com um sabor inalcançável pela maior parte dos games. Pelo papagaio caolho de Odin, que final de semana gostoso eu passei com Astro Bot. Não há momento ruim, entediante ou chato. Pelo contrário, Astro Bot traz alegria e diversão a cada minuto de jogo.

A variação é absurda. Cenários e músicas mudam com frequência, mas mais impressionante é a quantidade de mecânicas. Jogos de plataforma costumam ser divididos em mundos, com as fases dentro de um mundo apresentando experiências e visual semelhantes. Aqui não. Cada fase é diferente, e o que une os mundos é apenas o chefe que vem ao final.

MECÂNICAS E MAIS MECÂNICAS

Astro Bot, Sony, Team Asobi, Delfos, Plataforma

O básico é realmente básico. Astro Bot pula, dá uma voadinha nos pulos e é capaz de socar. Porém, várias fases dão roupinhas com habilidades extras. Estes não são upgrades propriamente ditos, mas modificadores de mecânicas. A fase que vem a seguir é totalmente construída para o uso desta habilidade. Esta pode ser câmera lenta, ficar pequenininho, voar ou… meu, não quero estragar suas surpresas. Cada nova habilidade é um sorriso a mais em meio a centenas de outros. A variação é enorme, e também tem bastante tempo para brincar com as habilidades tradicionais do robozinho.

Este é um ponto que não me agradou em Astro’s Playroom. Lá, metade das fases traziam roupinhas e a maioria delas não era muito divertida, além de “desligar” o robozinho. Aqui a maioria não modifica totalmente sua movimentação e, quando o fazem, o timing é bom. Astro Bot está mais próximo de Astro Bot: Rescue Mission do que de Astro’s Playroom e você sabe como eu gosto daquele jogo.

DUALSENSE

Astro Bot, Sony, Team Asobi, Delfos, Plataforma
Não é à toa que o controle vibra tanto, com tantos robôs morando dentro dele.

Este é o intertítulo obrigatório para quem jogou Astro’s Playroom. Afinal, aquele jogo era um tech demo para mostrar o que era possível fazer com o Dualsense. E desde então ninguém mais usou tão bem o controle do PS5. Como esperado, Astro Bot não decepciona. A vibração é excelente e extremamente elaborada. Mas o truque para mim é o uso que ele faz do alto-falante do gamepad. Quando você passa no meio de plantinhas ou pisa na areia, a vibração é muito importante, mas o seu controle fazer o som que você ouviria nesta situação aumenta muito a sensação sinestésica.

O controle é extremamente ativo durante o jogo inteiro. Ele não para de fazer sons e de se mexer, a ponto que se você o coloca perto do ouvido fica surpreso com a quantidade de barulhos que ele produz. Prepare-se para um verdadeiro derretedor de bateria. Em um dia jogando, eu precisei trocar de controle duas vezes. Basicamente, no tempo que um carregava, o outro descarregava.

Porém, o fato é que embora esta sensação tátil seja muito forte no início, você logo para de perceber. É muito legal estar lá, e é uma pena que mais jogos de PS5 não façam este tipo de uso do controle, mas considerando o trabalho que deve dar criar isso, e o benefício real deste trabalho, é compreensível que as desenvolvedoras prefiram investir em outras coisas.

OS MELHORES CHEFES DA HISTÓRIA

Astro Bot, Sony, Team Asobi, Delfos, Plataforma

Em geral eu diria que não gosto de chefes. Aquele tipo de inimigo que demora muito para cair e que é um teste de habilidades definitivamente não me agrada. Para mim, chefes deveriam ser diferentes. Deveriam ser exatamente o que são em Astro Bot. Estas são batalhas que se destacam não por serem difíceis, mas por serem épicas e impressionantes. São lutas contra inimigos enormes, com uma absurda quantidade de efeitos visuais. O gameplay segue a linha Nintendo, mas o visual e o espetáculo vai muito além do que os videogames da Nintendo são capazes de mostrar. Um exemplo é a batalha contra o polvo. Ele pula por cima de você, derrubando água em toda a arena. É muito impressionante. E nem vou falar sobre a batalha contra o falcão, que você precisa vivenciar sem saber nada.

Por um lado, os chefes são os mesmos personagens que em Astro Bot Rescue Mission. As batalhas, porém, são novas, com mecânicas novas. O lado bom é que algumas fases trazem chefes secundários, sem o mesmo nível de orçamento e espetáculo que os principais, mas também são batalhas épicas e empolgantes.

OS PERSONAGENS DE PLAYSTATION

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A fase de Uncharted é muito mais legal do que parece.

Além dos chefes, cada mundo tem também uma fase tematizada em outro jogo. São momentos em que você assume a habilidade de outro protagonista, como Kratos ou Nathan Drake, e atravessa um cenário com desafios e mecânicas tematizadas. Como as fases musicais de Rayman Legends, são momentos bem diferentes do jogo base, mas muito divertidos. Seria bacana até se tivesse mais delas, mas apesar de toda a nostalgia Playstation presente aqui, Astro Bot é um jogo próprio, e faz o suficiente para se tornar um personagem tão icônico para a marca quanto os homenageados nessas fases.

UNIÃO FAZ A FORÇA

Astro Bot, Sony, Team Asobi, Delfos, Plataforma
A união faz a força.

Tão divertido quanto as fases em si é a base, onde o PS5 é consertado. Esta base é constantemente aumentada conforme você coleciona robozinhos, e várias de suas áreas e colecionáveis são abertos com eles. Tipo, você pode precisar de 60 robozinhos para fazer uma ponte para atravessar o abismo. Isso dá à base um jeitão de Pikmin simplificado, que é bem gostoso e bem-vindo.

Além disso, os robozinhos personalizados têm animações e reações bacanas ao seu personagem. Experimente, por exemplo, bater no Ken e no Ryu, e ficar no meio deles. Várias dessas interações presenteam com troféus, e o caminho para a platina em Astro Bot é uma das mais gostosas que já tive o prazer de fazer. Os personagens homenageados também não são apenas da marca Playstation. É verdade que todo mundo já apareceu em um console da marca, mas muitos deles são de outras empresas e de games multiplataforma, como Capcom, Konami e Sega. Mais difícil do que terminar o jogo, no entanto, é reconhecer todos eles. Teve vários que eu não reconheci.

QUASE PERFEITO

Astro Bot, Sony, Team Asobi, Delfos, Plataforma
Dante Bot fazendo um combo eSSStiloso.

Plataforma 3D é meu gênero de videogame preferido. E, neste momento, Astro Bot é meu jogo preferido do gênero. Mas ele faz uso de algumas técnicas que não me agradam. No estilo Nintendo, as fases de história são relativamente fáceis, e o grosso dos desafios vem em fases opcionais. Meu problema com elas não é com o desafio em si, que neste gênero até me agrada. É com outro problema que a Nintendo também tem.

O problema é que você precisa vencer estas fases “expert” em uma única vida. Nenhuma delas é realmente longa, mas a quantidade de desafios por segundo é tamanha que dá uma senhora preguiça morrer e precisar fazer de novo 20 coisas desafiadoras que vieram antes. Se teve algum momento que não me diverti em Astro Bot foram nas fases mais cabeludas, não pelo desafio cascudo, mas sim pela ausência de checkpoints e a repetição que isso causa.

ASTRO BOT É O MELHOR JOGO DE PS5

Astro Bot, Sony, Team Asobi, Delfos, Plataforma

Eu esperava que Astro Bot fosse bom. Tinha dúvidas se ele seria tão bom ou melhor do que os melhores games lançados pela Nintendo. Mas fico feliz de dizer que é, sim. O PS5 teve alguns poucos jogos quase perfeitos, como Marvel’s Spider-Man 2Ratchet & ClankAstro Bot se junta a eles. Não como mais um quase perfeito, mas como o melhor deles. É simplesmente o melhor jogo disponível para PS5 e uma grande demonstração do motivo pelo qual gostamos tanto de videogames.

É curioso, e não dá para evitar a comparação. Concord saiu há poucos dias, feito por um time de centenas de pessoas, ao longo de oito anos de trabalho. Ele representa tudo que há de errado nos videogames hoje em dia, e já foi desativado. Astro Bot foi feito em três anos por 60 pessoas, e é o melhor jogo de PS5, destinado a ser amado por décadas. Como diz o agente Smith para Neo no primeiro Matrix, um destes caminhos tem futuro. O outro não. A indústria dos games vem fortemente buscando um deles em detrimento quase total do outro. Apenas eu vejo o óbvio problema nesta situação?