Resident Evil 2: Apocalipse

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Filmes baseados em jogos dificilmente trazem resultados satisfatórios. Durante minha adolescência, no século passado (meu Deus, como sou velho!), passei um bom tempo ansiando pelo filme do jogo Street Fighter, que parecia não sair nunca. Com a decepção com o filme (dizem que Raul Julia – que faz o vilão M. Bison – morreu de desgosto ao ver o resultado final), minhas esperanças de gamemaníaco cinéfilo se voltaram para o filme de outro jogo conhecido por ir sempre na cola do Street Fighter mas criando sua personalidade própria. Esse filme era Mortal Kombat, uma outra decepção sem tamanho (poxa, mataram o Scorpion logo no começo!).

Algum tempo depois, já no século seguinte, apareceu mais um filme baseado em outro sucesso da Capcom (softhouse responsável também por Street Fighter): Resident Evil – O Hóspede Maldito. Não vi ninguém, absolutamente ninguém, falar bem desse filme. Aparentemente, porém, as bilheterias foram suficientes para financiar uma continuação, ou melhor, duas, já que decidiram transformar o troço em uma trilogia (mas que mania de Hollywood é essa por trilogias?).

Segundo a divulgação de Resident Evil 2, a primeira parte era o prelúdio para o jogo, a segunda parte é o que acontece no jogo e a terceira parte é o que vem depois do jogo. Depois de tanto usar a palavra jogo, devo admitir que não conheço muito bem o jogo. O jogo é um daqueles jogos que eu joguei muito pouco – por medo. Já o filme, é uma versão com mais ação dos famosos filmes de zumbis, que foram ressuscitados em Hollywood desde o sucesso de Extermínio (leia também a resenha do filme Madrugada dos Mortos, a última incursão do estilo).

É, você não leu errado. A versão cinematográfica de um dos jogos mais assustadores da história é um daqueles filmes cheios de porrada, tiros, tripas e miolos para todo lado. E, como dá para perceber, os miolos estão apenas na tela, já que a história é aquelas em que a gente coloca o cérebro em Stand By e fica torcendo para os zumbis dominarem o mundo (ah, vai dizer que você não torce para os vilões?). Inclusive, várias cenas levam o público a gargalhadas, dado a forma como são tratadas. Eu diria até que Resident Evil, o filme, é um bom exemplo de como deveria ser um filme do jogo Serious Sam, por exemplo, ou seja, violento, engraçado e completamente despretensioso, sem se levar a sério em nenhum momento. E, como diria Jerry Seinfeld, não que tenha algo de errado com isso. A não ser, é claro, o nome do filme.

Todos os clichês da série de zumbis imortalizada por George Romero estão aqui. Desde a mordida que mata e ressuscita a vítima em pouco tempo, até a heroína (feminino de herói, vê se pára de pensar em drogas, meu!) machona e sem sentimentos, que extermina sem dó qualquer um que tenha vestígios de contaminação. A diferença é que aqui o terror sai para dar espaço à ação. E verdade seja dita, algumas das cenas de ação são realmente emocionantes. O engraçado é notar o grau de influência que Matrix exerceu no cinema de ação hollywoodiano. É praticamente impossível vermos uma cena do estilo sem aquelas movimentações de câmeras estilosas e o famoso Bullet Time que ajudou a popularizar os filmes dos irmãos Wachowski. Novamente, não acho que isso seja exatamente um problema, pois ninguém pode negar a perfeição técnica da série estrelada por Keanu Reeves. O problema é que isso ficou de tal forma associado à marca Matrix (tanto que apenas lendo esse parágrafo, sem nenhuma descrição das movimentações e do Bullet Time, você sabe exatamente do que estou falando, não sabe?) que, cada vez que isso é utilizado em outro filme, é como se fosse uma mensagem subliminar, uma propaganda à marca Matrix e não uma técnica de filmagem, que é o que realmente é.

Mas voltando a essa segunda parte de Resident Evil, é o seguinte: se você gosta de zumbis, violência gratuita, muito sangue, membros arrancados e de dar umas boas gargalhadas, assista o filme e se divirta. Agora, se essa descrição não o agrada, apenas ignore-o. Afinal, você não vai perder nenhuma obra-prima que vai entrar para a história do cinema – putz, agora me lembrei de um disco do Twisted Sister que tem uma citação a uma resenha de suas primeiras demos, onde fala “nunca vai dar certo”. Espero que isso não aconteça comigo e com essa resenha.

Resident Evil 2 – Apocalipse estréia dia 8 de outubro.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).