É, meu caro delfonauta, você não está lendo errado não. Esta é uma resenha do novo álbum dos Raimundos, Cantigas de Roda. Aposto que muita gente nem sabia que a banda ainda existia, mas este novo álbum veio para marcar o retorno da banda em grande estilo.
A primeira coisa que você precisa saber sobre Cantigas de Roda é que ele é independente, ou seja, não tem gravadora por trás do CD. Ele foi feito através de um crowdfunding, que nada mais é do que um financiamento coletivo. Os fãs abraçaram a ideia e Cantigas de Roda nasceu.
Esqueça o vocalista Rodolfo. Ele é passado, e com este novo CD, o passado está bem enterrado e você não vai sentir falta. Digão finalmente apresentou todo seu potencial e mostra aqui que cantar rápido, como o ex-vocalista fazia, não é mais nenhum problema. “E as letras sacanas, como fica?”, pergunta o mais afoito dos delfonautas. Pois as letras voltaram também. E não ficam devendo em nada em relação às antigas. É o Raimundos de volta, meu caro, com direito a triângulo nas músicas, sacanagem nas letras e muito hardcore.
Cantigas de Roda começa com Cachorrinha, um hardcore de primeira que entraria facilmente no CD de estreia da banda. Já é possível notar que eles não economizaram no peso das músicas, pois a segunda música do álbum é a BOP, e aqui temos a faixa mais pesada, com direito até ao triângulo, instrumento que os Raimundos sempre souberam usar como ninguém no mundo do rock.
Na terceira faixa, Baculejo, já é possível identificar que a banda não perdeu a mão para fazer músicas prontas para tocar na rádio. Ela deve ser tocada nos shows da banda, assim como Gato da Rosinha, uma das melhores do CD, com uma letra bem sacada de duplo sentido e bem divertida.
A quinta faixa, Cera Quente, vai fazer você lembrar das músicas mais comerciais dos Raimundos. Letra sacana e uma pegada que não fica devendo em nada para I Saw You Saying e A Mais Pedida. Se não for o próximo single, não digo nada.
Logo em seguida vem Rafael, um hardcore de primeira que lembra e muito as músicas do primeiro CD deles. A sétima faixa, Descendo na Banguela, tem um refrão marcante e um ótimo riff de guitarra. Aliás, se pararmos para analisar, o Digão subiu muito no meu conceito como guitarrista. Sempre gostei dele como músico, mas depois de Cantigas de Roda, o cara mostrou que pode tocar muito pesado e ainda ser pop. Isso sem contar a evolução gigantesca que ele teve como vocalista. O Digão virou um frontman de responsa!
A oitava música é certamente uma surpresa para todos os fãs e uma evolução para a banda. Dubmundos tem uma letra simples, pra cima e flerta diretamente com o ska. E ainda tem a participação legalzuda do Sen Dog, do Cypress Hill. Eu sinceramente gosto quando o Raimundos “brinca” com outros estilos, como fez agora e com Reggae do Manero. São músicas sempre pra cima e hits quase instantâneos.
Nó Suíno e Importada do Interior são as próximas faixas. A primeira tem uma pegada bem hardcore e me lembrou bastante algumas músicas do Suicidal Tendencies. Se tocarem essa ao vivo, é certeza que vai abrir roda. E Importada do Interior também segue a mesma linha, com muito peso e poderia facilmente estar no Lapadas do Povo.
A décima primeira música é Gordelicia, que volta a flertar bem de leve com o ska e tem uma letra bem ao estilo Raimundos. Virou uma das minhas faixas preferidas.
Fechando o álbum vem Politics, faixa que você já deve ter ouvido nas rádios, pois foi lançada ano passado, pouco depois das manifestações que invadiram o Brasil em julho. Tem uma letra bem séria e uma pegada bem pesada, principalmente do meio da música para frente. Eu apostaria fácil nela para abrir os shows da banda, pois a introdução, com triângulo, é perfeita para agitar o público. A faixa tem participação do Billy Graziadei, líder do Biohazard.
Em pouco mais de 37 minutos, os Raimundos mostraram que estão de volta, com um CD à altura do legado da banda. E só não levou nota máxima aqui, pois, se comparado ao Lavô Tá Novo e Só no Forevis, álbuns que receberiam o selo delfiano com certeza, ele é um pouco inferior. Mas nada que diminua o grande trabalho feito pela banda.
Vale, e muito, ser ouvido!
Curiosidades:
– O valor pedido no financiamento coletivo pela banda foi de R$ 55 mil, que incluiria todos os gastos da banda com o CD, incluindo a viagem que teriam que fazer aos EUA, para gravar no estúdio do Billy Graziadei. Eles conseguiram arrecadar cerca de R$ 123 mil. O valor a mais deve ser usado para fazer clipes, ajudar na divulgação e outras coisas para os fãs, já que agora a banda é independente e não tem gravadora para sustentar os gastos.
– O CD físico terá edição limitada. Somente quem colaborou com o projeto da banda vai receber uma cópia. Se você não é um deles, se contente com o formato digital.