É engraçado como alguns jogos claramente são construídos sobre um template bastante claro. No caso de Pharaonic, a proposta é clara. E se Dark Souls fosse em 2D? Se você tem boa memória ou é fã da série, provavelmente se lembrou de Salt and Sanctuary. Só que, apesar de PharaonicSalt and Sanctuary terem propostas semelhantes, eles são jogos totalmente diferentes, que apenas partiram do mesmo template.

Salt and Sanctuary é quase uma fan-fiction, emulando o clima e detalhes de design do clássico japonês. Pharaonic empresta suas ideias, as coloca em um visual cartunesco e colorido e foca principalmente no combate.

Pharaonic, Delfos
Felizmente, as armadilhas podem matar tanto você quanto seus inimigos.

Além disso, Pharaonic escolheu por seguir o caminho do 2.5D. E, meu amigo, ele usa muito bem este 0.5D a mais. Embora você ande o tempo todo para a esquerda ou direita, é comum a câmera se aproximar, se afastar ou mudar a localização, dando um ar mais cinematográfico à porradaria.

MAPAS ELABORADOS

Além disso, as fases têm andares e caminhos alternativos que você pode seguir. Se você pensa que level design em 2D é mais simples, dá uma olhada neste mapa.

Pharaonic, Delfos
Quê? Cadê eu?

Pois é, assim como em Dark Souls, há uma miríade de caminhos diferentes e formas de atingir o seu destino, bem como atalhos, checkpointssidequests. Ao contrário de Dark Souls, no entanto, ter um mapa à disposição (você precisa encontrá-lo ou comprá-lo antes, no entanto) ajuda muito e torna a exploração bem mais aprazível.

Se você já jogou Dark Souls e seus congêneres, com certeza já rolou de estar desesperado por um checkpoint, ter dois caminhos a seguir, escolher um e morrer, apenas para descobrir que no outro caminho tinha uma fogueira ou um atalho. Pois é, tendo um mapa sua exploração pode ser muito mais guiada, ainda que os mapas de Pharaonic não detalhem absolutamente todos os caminhos e sejam um tanto confusos.

Pharaonic, Delfos
Isso claramente é um atalho, mas como chegar do outro lado?

As fases são tão elaboradas e cheias de segredos e atalhos que, mesmo com um mapa, você precisa planejar bem a sua exploração para encontrar todos os caminhos e itens. Lado bom? Não existem colecionáveis. Tem armaduras, armas e outros itens usáveis, mas nada que esteja lá apenas para ter troféus.

Os troféus são focados em matar chefes e cumprir sidequests, o que me manteve bem motivado durante todo o jogo, já que são coisas que eu gosto de fazer de qualquer jeito.

SAQUE SUA ESPADA

O combate é bastante familiar. Você tem uma barra de vida, de resistência e de magia. Atacar com sua arma consome resistência, então as lutas são lentas e metódicas, normalmente envolvendo atacar um pouquinho, recuar e atacar mais um pouco. Sim, a barra de resistência recupera naturalmente, bastando parar de atacar por alguns segundos.

Há uma infinidade de magias, com efeitos como cura ou aumento no poder de ataque, mas eu usei quase o jogo todo um tiro de energia que é bem útil para acertar vários inimigos ao mesmo tempo. Usar magia, é claro, consome a barra de magia e também a de resistência. A barra de magia, por outro lado, só se renova nos altares (checkpoints), então você precisa usá-la com parcimônia.

Pharaonic, Delfos
Sabe aquele momento em que você mata todo mundo, mas morre no processo?

Para recuperar sua vida, você pode beber água, e adivinha só, a água é renovada também nos altares.

O grosso do jogo é o combate, que é excelente. É bem raro andar por alguns segundos sem precisar lutar. Em alguns casos, as saídas são bloqueadas e você só pode sair dali vivo se matar todo mundo. Normalmente estas lutas são recompensadas por um baú que contém algum item apetitoso ou algo necessário para uma sidequest.

Estas lutas talvez sejam o momento mais fraco do jogo, especialmente quando você se aproxima do final, pois elas se estendem por mais tempo do que deveriam. Você mata um cara com escudo e um com uma lança apenas para outros dois inimigos iguais poparem e continuarem popando até o jogo dizer chega. Felizmente, uma vez que você as vença, elas não acontecem de novo mesmo que você morra, ao contrário das lutas padrão, que são todas reativadas na morte ou quando você reza em um altar.

CHEFES

Pharaonic, Delfos
Olha só o efeito 2.5D em ação.

Eventualmente, há também chefes, que costumam aparecer de surpresa – e alguns estão em caminhos opcionais. A maioria destes chefes são versões mais fortes dos inimigos normais.

Há alguns chefes mais pintudos, no entanto, e caçá-los é o seu principal objetivo. Estas são lutas mais elaboradas, mas não são assim tão legais. Uma em especial, contra um tal de War Golem, é bem mal planejada e fiquei travado nela por mais de uma hora.

Pharaonic, Delfos
Este é o maledeto, em meu momento de vitória.

O problema deste chefe é que ele tem um ataque que faz cair pedras do teto em padrões aleatórios. O jogo todo, especialmente os chefes, é focado em defesa e esquiva, mas não há defesa contra essas pedras. E como os padrões são aleatórios, às vezes caem três bem próximas, tornando impossível desviar delas a tempo. Basicamente, você vai ficar preso neste chefe até dar a sorte de ele não usar tanto este ataque e focar nos outros. Esta luta se torna ainda mais chata pelo fato de ter dois inimigos entre o checkpoint e o chefe, o que não acontece nos outros bosses.

UM JOGO QUE RESPEITA O SEU TEMPO

Um problema de Dark Souls e de Salt of Sanctuary é quão longos eles são. Isso, somado à dificuldade e à atmosfera opressora, faz com que muita gente desista antes de chegar ao final. Pharaonic é bem mais leve, focando em um visual cartunesco e colorido, além de músicas épicas e bonitas.

Ele é um jogo difícil, sem dúvida alguma, mas tirando a parte do Golem, eu não fiquei travado por muito tempo em nenhum trecho, sempre fazendo progresso constante. Além disso, o jogo tem a duração que deveria ter, e termina no momento certo.

Pharaonic, Delfos
O visual é bem colorido e agradável.

Sua dificuldade, portanto, está mais próxima de Nioh do que de Dark Souls. Em outras palavras, você precisa prestar atenção e jogar com cuidado, mas ele não vai testar a sua paciência, pelo menos não na maior parte do tempo.

PHARAONIC

A primeira impressão que o jogo passa, não vou mentir, não é muito boa. Apesar do design dos personagens ser bacana, os gráficos não são exatamente bons, e a história contada em textos não ajuda muito.

No entanto, o combate, que é o foco, é excelente. Quando você se acostuma com a estranheza das animações, vai até começar a curtir o visual.

Pharaonic, Delfos
Convenhamos, os personagens são bem simpáticos.

Eu não esperava muito de Pharaonic, mas ele acabou me trazendo cerca de uma dezena de horas de diversão. Se você curte o combate de um Dark Souls, mas está a fim de um jogo menos opressor e mais leve, recomendo com força.

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Nota:
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
pharaonic-reinterpreta-a-formula-de-dark-soulsDisponível: PS4, Xbox One e PC<br> Analisada: PS4<br> Desenvolvedora: Milkstone Studios<br> Editora: Milkstone Studios<br> Lançamento: 29 de setembro de 2017 (consoles) e 28 de abril de 2016 (PC)<br> Gênero: Dark Souls em 2D, mas totalmente diferente de Salt And Sanctuary<br>