Paradise Lost – Tragic Idol

0

O Paradise Lost sempre teve por característica principal não se repetir. Ao longo de sua discografia, encontramos discos excelentes, medianos e ruins, mas nunca iguais. Este é o caso neste Tragic Idol, o décimo terceiro da carreira dos ingleses.

A banda surgiu em uma época em que o doom metal estava realmente em alta no mundo. Tanto que o Paradise Lost e os também ingleses do Anathema e do My Dying Bride iniciaram as atividades mais ou menos no mesmo período. Os três ainda estão na ativa, embora todos com a sonoridade bastante diferente daquela praticada naqueles primeiros anos. Dentre os três, o Paradise Lost talvez tenha sido o que mais mudou.

Neste disco novo, o principal diferencial é o retorno das guitarras pesadas e a ausência quase completa de teclados. Pessoalmente, nada tenho contra teclados. Até gosto. O problema é quando eles começam a chamar mais atenção que os riffs e os solos de guitarra, que, em última análise, são os elementos que caracterizam o heavy metal – em qualquer subgênero – dos demais estilos musicais. Este disco tem uma coleção invejável de riffs e aqueles solos minimalistas que sempre estiveram presentes na discografia da banda.

Embora inicie com uma canção não tão forte, apesar da introdução cheia de pompa, as coisas começam a engrenar a partir da terceira faixa. Fear of Impending Hell tem um riff maravilhoso e um refrão realmente hipnótico. Assim, rapidamente, tornou-se a minha favorita do disco (e uma das minhas preferidas em toda a discografia da banda, especialmente pela letra fantástica). A partir daí, o disco só melhora. Honesty in Death, In This We Dwell e a faixa que dá nome ao disco são os outros destaques. Mas isto não significa que as outras músicas estão lá só para preencher espaço. O disco inteiro é bastante coeso e apresenta uma uniformidade sonora raras vezes vista, até mesmo em trabalhos de bandas consagradas.

Diferentemente do que ocorreu com o seu antecessor (o insosso Faith Divides Us – Death Unites Us, de 2009), este novo trabalho tem diversos pontos positivos. Pessoalmente, fiquei impressionado com o trabalho do competentíssimo Adrian Erlandsson (D). Com passagens por bandas mais pesadas que o próprio Paradise Lost (como o At the Gates e o Brujeria, só para citar duas), ele se encarregou de acrescentar peso e velocidade ao gothic metal da banda, e foi possível sentir isso não apenas nesse disco, mas também ao vivo. As melodias construídas por Greg Mackintosh (G) continuam repletas de sentimento e trazem aquela pegada minimalista de sempre, mas sem se repetir. Não há como deixar de destacar a versatilidade de Nick Holmes (V), que explora a agressividade e a suavidade – muitas vezes na mesma música – sem soar forçado.

O álbum tem músicas muito fortes, como a pesadíssima e incrivelmente rápida (para os padrões de uma banda de gothic metal) Theories From Another World. To the Darkness é outra que foge aos padrões gerais também pela velocidade e pela levada guiada pela guitarra hipnótica de Greg Mackintosh e pela base pesadíssima.

Em linhas gerais, Tragic Idol joga terra sobre o fraco álbum anterior e mostra que o Paradise Lost ainda está vivo. Apesar de estar bem longe da qualidade de trabalhos clássicos da banda, como o Icon, de 1993, ou o aclamadíssimo Draconian Times, de 1995, este disco novo não faz feio na discografia da banda. Ainda bem que algumas das grandes bandas pesadas dos anos 90 continuam ativas e – na maioria dos casos –lançando bons trabalhos. Se não é a salvação do heavy metal, pelo menos é a prova de que o estilo ainda tem muito a oferecer, seja por meio de bandas novas, seja pelos velhos medalhões.