Estou me sentindo um pouco suspeito para falar deste filme, por três motivos. O primeiro é que sempre gostei de filmes de época, especialmente os que se passam no continente europeu, entre os séculos XVIII e XIX. O segundo é que me interesso muito pelo enredo, que investiga até que ponto a diferença de classes sociais pode influenciar os sentimentos das pessoas, às vezes contraditórios, em relação ao preconceito e ao orgulho, quando elas, na verdade, estão dominadas pelo amor. O terceiro é que, desde que vi pela primeira vez a atriz Keira Knightley, no filme Simplesmente Amor, ela entrou para a minha lista das atrizes jovens mais talentosas da atualidade, porque consegue ser extremamente bela e sensual, mesmo com um rosto sem grandes atrativos e um corpo de ossos sobressalentes. Um exemplo claro disso foi a personagem Guinevere em Rei Artur.
Vou começar então pelos defeitos. O filme é um pouco maior do que deveria ser. Tem alguns momentos lentos e bocejantes e um final um tanto abrupto, principalmente para quem espera ver o desfecho da história do casal em beijos calorosos e com uma trilha sonora melosa. Basicamente os pontos negativos são esses. Agora vamos aos elogios.
O romance de Jane Austen, adaptado pela segunda vez para a telona – o primeiro filme data de 1940 e teve Laurence Olivier e Greer Garson como protagonistas – este longa dirigido por Joe Wright conta a história de cinco irmãs que vivem no campo, na Inglaterra do final do século XVIII, sendo encorajadas pela mãe a encontrar maridos que lhes dêem a segurança financeira de que necessitam. Elizabeth (Knightley) é a personagem principal, uma jovem decidida e orgulhosa que, enquanto apóia a irmã mais velha Jane em seu flerte com o solteiro rico Sr. Bingley, acaba se envolvendo em um conflito amoroso com o também rico Sr. Darcy (Matthew MacFadyen em uma interpretação inspirada), o belo e aparentemente esnobe amigo do Sr. Bingley. Elizabeth visivelmente está apaixonada pelo Sr. Darcy, mas não é capaz de admitir isso a si própria, pois escuta boatos a respeito dele e não considera possível casar-se com um homem de tal arrogância, mesmo porque acredita que ele nunca iria querer alguém de família humilde como ela. O fato é que, apesar de tudo, o Sr. Darcy não é arrogante como parece e também gosta de Elizabeth.
Com a grande história de Jane Austen nas mãos e uma direção competente, Wright retratou a Inglaterra da época, de um modo realista, sem muito glamour e, com isso, traçou um interessante panorama dos relacionamentos, sejam eles familiares ou não, com os quais estamos acostumados a lidar todos os dias, mas, às vezes, sem nos darmos conta de que determinados sentimentos ruins são naturais ao ser humano e sempre existiram. Obviamente, essas minúcias bem desenvolvidas dos personagens são mérito, em grande parte, do bom elenco, formado não só por jovens talentos, como também por grandes veteranos. Brenda Blethyn está hilária como a mãe que tenta fazer as filhas casarem a todo o custo e Donald Sutherland como o pai, está calado e cínico na medida certa. Além deles, há também a participação da sempre boa Judi Dench, como a tia do Sr. Darcy, que deseja ver o sobrinho casado com sua filha e não com alguém da estirpe de Elizabeth.
Orgulho e Preconceito ainda conta com uma notável equipe de arte e figurino e possui uma boa trilha sonora – três categorias pelas quais foi indicado ao Oscar, juntamente com Keira Knightley, que teve sua primeira indicação ao prêmio de melhor atriz – o que faz dele um filme que merece ser visto, ainda que o interesse seja somente no fiel retrato dos costumes ingleses do século XVIII, em detrimento do romance. É quase impossível, entretanto, com atores deste nível, que o espectador fique indiferente ao amor projetado na tela. Ele está em cada fotograma. Em cada paisagem. Em cada silêncio, contido como um bom inglês, escondido por preconceitos e orgulhos, no fim, é ele que permanece. Um belo filme, sem dúvida.