O Príncipe

0

Se você quer virar um super-vilão e conquistar o mundo, o que vai te guiar nessa empreitada? As batalhas de Victor Von Doom? As crônicas de Galactus? O Senhor do Anéis? Ou vai se guiar no exemplo de Lex Luthor que, apesar de tudo, continua a ser um respeitado empresário (dizem que é o Rei do Crime magro, mas é intriga da oposição!)?

Minha sugestão é: leia O Príncipe de Nicolau Maquiavel. Talvez sua sobrancelha se arqueie interrogativamente ao pensar nisso. Um livro italiano medieval poderia ser útil nos meus planos de dominação mundial? E em menos de 200 páginas? Mas é a verdade, caro delfonauta. Esta obra lhe ajudará a conquistar o mundo (insira risada maligna aqui)!

Mas Maquiavel era um diplomata. Viveu boa parte da vida por dentro do poder político como conselheiro, embaixador ou perseguido político. Após décadas de trabalho árduo, resolveu compilar conselhos para O Príncipe da Itália, que ele esperava que unificasse os estados italianos num poderoso império. É verdade que o Maquiavel em si não teve grandes conquistas, mas compilou o que observou e aprendeu dos governantes com os quais lidou. O fato de alguém o ler quase 500 anos depois é a prova de que algo útil ele tem! Não é das leituras mais fáceis, mas valerá a pena.

Dependendo da edição que você pegar, terá uma diversão a mais. Eu estou com uma versão (clique aqui para comprar essa edição) que tem comentários de Napoleão Bonaparte sobre os conselhos do Maquiavel. E é simplesmente hilário. Sério, eu achava meu ego grande e inflado, mas os comentários dele me superam em muito. Até que eles concordaram bastante, apesar dos 300 anos de diferença e do fato de que Bonaparte realmente era um conquistador e não apenas um funcionário.

Porém, o livro não é apenas para políticos e tiranos. As idéias apresentadas são úteis para ganhar, manter e aumentar o poder em qualquer círculo social. Seja no trabalho, na família ou no oráculo do DELFOS, os conselhos de Maquiavel retratam como o ser humano reage frente ao poder e como quem o detêm deve lidar com isso.

O Príncipe normalmente é retratado como um livro que ensina os políticos e qualquer um que lide com o poder a ser amoral, tirânico e violento – e tem um fundo de verdade nessa acusação. Porém, ele é bem mais que isso.

Os capítulos XV ao XXIII, que tratam de como o príncipe deve se portar, são extremamente importantes para aqueles que querem (irão) tomar o poder de alguém. Aí você vai entender porque os grandes vilões da ficção, e alguns da vida real, não conseguem se manter no poder quando o alcançam.

Pra alcançar o poder – segundo Maquiavel – vale tudo: mentira, trapaças, crueldade, traição, furar o olho, puxar o cabelo, chamar o pai de careca e a mãe de cabeluda. Mas para manter o poder é preciso mais sutileza. Afinal, você não pode chacinar o povo todo. Senão quem vai lutar na guerra? Quem vai pagar impostos? E quem você vai dominar e oprimir? Nem pode matar e oprimir indiscriminadamente, senão eles se revoltam. E seu objetivo é tomar e ficar no poder.

Então o que fazer? O que estes capítulos sugerem, entre vários conselhos, são comportamentos para ganhar a admiração e confiança do povo e das elites derrotadas. Por exemplo: aplicando pessoalmente as coisas boas e mandando peões aplicarem as coisas ruins. Dando privilégios para as elites derrotadas (nada muito vital ou importante). Massacrar publicamente alguns inimigos e malfeitores. Fala também de não violar a mulher e a terra do povo. Afinal, eram as únicas duas coisas que um pobre medieval tinha: uma mulher e um terreno. Trabalho e diversão, respectivamente. Mas eu estou divagando.

O que é interessante nesses capítulos, é que você poderá notar que muitas dessas táticas são usadas quando há mudanças na diretoria de uma empresa. Mais ainda se a empresa está com problemas. Também são muito usadas por políticos que tomam o poder usando escândalos contra seus inimigos, ou mesmo quando é empossado um novo presidente, governador, prefeito, síndico ou mestre de RPG.

Os primeiros capítulos falam sobre como tomar o poder. Mas não nos interessa muito, já que a aplicação não é tão prática quanto o resto do livro. Afinal, hoje você não precisará decidir entre contratar um exército mercenário ou fazer alianças com outras nações tão traiçoeiras quanto você mesmo. E essa parte, de tomar o poder, é relativamente fácil. Veja os exemplos acima citados nos quais você deve se espelhar. Quantas vezes eles dominaram o mundo e o universo? Só o Thanos já dominou o universo umas 35 vezes. Tá bom, o Lex Luthor é ridículo, mas os outros são tremendões do lado negro.

Claro que no plano político essas táticas ainda são bem usadas. Por exemplo: governos, por causa de leis internacionais, não podem massacrar seus opositores usando as força militares oficiais. Mas podem, camufladamente, facilitar a ação de grupos para-militares para fazer esse serviço sujo. Mesmo em algumas corporações, podem ocorrer alianças para derrubar alguém da chefia usando as técnicas de Maquiavel para montar um exército conquistador. Relatórios, diagramas, organogramas e memorandos são as armas usadas neste tipo de batalha. Mas esses capítulos analisam os prós e os contras de cada opção.

Espero que essa resenha e O Príncipe tornem você um super-vilão melhor e, quando você finalmente tiver dominado o mundo, lembre-se de mim e me dê algum privilégio, ainda que pequeno. Tipo ser o governador do Brasil ou imperador dos EUA. Aceito qualquer migalha para servir ao senhor, ó, meu soberano.