O Perfume – História de um Assassino

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Foi no ano de 2005 que eu fiquei sabendo da existência deste livro. Na ocasião, comecei a rodar pelos festivais de cinema com o curta-metragem Anya, filme este que, por causa de minha ótima equipe, da qual o Cyrino também fez parte, tive um grande prazer em ter sido o diretor.

O fato é que, depois de algumas sessões do filme, pessoas vieram a mim dizendo que Anya os fez lembrar do best-seller O Perfume, de Patrick Süskind e perguntavam se eu tinha me inspirado no livro. Quando eu dizia que não, alguns me olhavam até com desconfiança, como se perguntando: “Como assim?”. Daí eu tinha que explicar que, como o roteiro do curta não tinha sido escrito somente por mim, mas também pelo Cyrino e por mais um de nossos colegas do curso de cinema, talvez um deles tivesse se inspirado, de fato, no livro, mas eu, pra dizer a verdade, não sabia nem do que tratava a história, a não ser que a obra lidava, assim como também o fazia o nosso pequeno trabalho de conclusão de curso, com o tema do “fugaz reino dos perfumes”.

Há pouco mais de uma semana, estava eu passando uns dias sossegados no interior sul-mineiro, quando, ao comentar com o meu pai que o filme Perfume: A História de um Assassino logo ia estrear na telona, escutei dele, para a minha surpresa, que não só este livro era o único best-seller que ele tinha lido na vida – e gostado muito – como a obra estava lá mesmo, num dos quartos do apartamento, esquecida e por anos intocada, ao lado de outras grandes obras da literatura, que, apesar de grandes, não tinham se tornado best-sellers.

Em pouco mais de oito dias, eu li prazerosamente as duzentas e sessenta e duas páginas do livro de Süskind e fiquei fascinado. Tudo o que é contado ao longo de toda a trajetória deste “homenzinho” de incrível poder olfativo, chamado Jean-Baptiste Grenouille, exerce um estranho encanto sobre o leitor que só acaba quando terminam as páginas.

A maneira um tanto sarcástica com que o escritor alemão lida com a história desta figura “genial e detestável”, repleta de descrições e comparações das mais variadas, surpreende o tempo todo, pois, assim como o mundo dos odores, transita entre o belo e o feio, entre o cheiro bom e o fedor, entre o prazer e o nojo, de modo rápido e, às vezes abrupto. Cada parágrafo lido é como uma fungada em um local repleto de diferentes odores. Você nunca sabe se o próximo cheiro será bom ou ruim.

Exatamente por isso, ou seja, por essa mudança repentina entre o belo e o grotesco, com a qual somos obrigados a lidar o tempo todo, do início ao fim do livro, é que acaba fazendo muito mais sentido para quem está lendo, o modo peculiarmente bizarro através do qual a história de Jean-Baptiste se conclui.

Comparando com o filme (em cartaz nos cinemas), que assisti logo que terminei o livro, obviamente há muita coisa que foi cortada na adaptação cinematográfica, outros acontecimentos foram acrescentados, a ordem de alguns deles foi também alterada, para dar mais suspense e, além disso, alguns personagens que ocupam consideráveis páginas do livro, sequer foram citados.

Entretanto, ainda assim, posso sem dúvida afirmar que entre o livro O Perfume – História de um Assassino e o filme Perfume: A História de um Assassino, assim como acontece com a quase imperceptível mudança dos artigos nos respectivos títulos, a diferença é mínima, considerando é claro o fato de servirem a veículos da comunicação completamente distintos.

O filme é uma boa adaptação porque serve de complemento ao livro, enquanto este é indispensável para que se goste do filme. Um exemplo claro disso foram as reações que eu presenciei na saída da sala de cinema. Muitos saíram, assim como o Corrales, querendo gritar na cara do funcionário que abriu a porta, de tão indignados que estavam com o filme, achando que o tempo deles ali foi inteiramente perdido. Outros, ao contrário, comentavam: “Puxa, eu achei uma adaptação muito fiel. Fiquei surpreso”.

A conclusão que cheguei (calma, caro delfonauta, já estou terminando, agüente mais um pouco!), depois de todos esses parágrafos de divagações e explicações foi a seguinte: o filme é infinitamente melhor para o espectador que tiver lido o livro. Caso contrário, é bem mais provável que você fique p… da vida quando subirem os créditos finais.

Portanto, não gaste o seu dinheiro na sessão do filme antes de ter lido o livro (que você pode comprar aqui), mesmo que tenha que esperar o lançamento em DVD. Os que leram o livro, ao contrário, podem ir sem medo. Você não vai se decepcionar. Isso eu garanto.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
o-perfume-historia-de-um-assassinoAno: 1985<br> Autor: Patrick Süskind<br> Número de Páginas: 262<br> Editora: Record<br>