Um filme com o Johnny Depp (por acaso, meu ator favorito) no elenco sempre merece atenção. Quando o filme em questão se chama O Libertino – aparentemente uma promessa de uma película cheia de sacanagem e festas homéricas – isso praticamente o tornaria imperdível.
Mas, como centenas de outros filmes com boas premissas e execuções mais ou menos que abundam por aí, este também fica no meio do caminho, o que é uma pena.
E a projeção até que começou bem, com uma espécie de introdução onde o personagem de Depp (de Em Busca da Terra do Nunca) se apresenta falando diretamente com o público. Depois entramos direto em sua história. Falo de John Wilmot, o Segundo Duque de Rochester e o libertino do título.
Para a Inglaterra da época (ele nasceu em 1647 e morreu em 1680), ele era uma figura no mínimo controversa. Era um pegador (e casado), boêmio que vivia bêbado e não respeitava a nobreza e tampouco o rei Charles II (John Malkovich, aquele cara que todo mundo quer ser), o que obviamente lhe causava alguns problemas.
O filme é centrado em seus últimos anos de vida, quando Charles II lhe pede para escrever uma peça que enalteça seu reinado (apesar dos problemas que John lhe causava, o rei ainda assim gostava dele), mas ele prefere continuar com sua vida de fanfarronices, até conhecer a atriz Elizabeth Berry (Samantha Morton, de Código 46). Ele decide ajudá-la a tornar-se a maior atriz de teatro de sua época, e a partir dessa convivência seu coração finalmente poderá ser domado. Ou não!
Como eu disse, o filme nunca engrena plenamente, falta punch (e com isso eu quero dizer pegada e não porrada). Honestamente não sei dizer se a culpa é do roteiro clichezento e comportado – afinal, para um filme chamado O Libertino, este não tem sacanagem nenhuma, indo até mesmo contra a natureza de seu protagonista – ou se é porque é um filme de época e eu nunca tive o menor interesse na Inglaterra de mil seiscentos e bolinha. Mas acho que a primeira opção é a mais válida mesmo. Com um personagem controvertido desses (e isso somente naquela época, hoje ele seria apenas mais um na multidão hedonista), a película deveria ser bem mais ousada. E isso é em grande parte uma função do texto.
Aliás, pra se ter uma noção da falta de originalidade da película, basta dizer que ela é assustadoramente parecida com Contos Proibidos do Marquês de Sade, tanto na similaridade entre os protagonistas quanto na estrutura narrativa, praticamente igual.
A parte técnica é boa, como em quase todos os filmes de época. Cenografia e figurinos fazem uma boa reconstituição. Só achei a fotografia um tanto escura demais em determinadas passagens, mas nada de muito grave. E o finalzinho do filme é um tanto longo demais. Já está na cara o que irá acontecer, então não há a necessidade de enrolar tanto. Na parte de atuação, Johnny Depp já é um mestre em interpretar esse tipo de personagem, diferente dos outros, esquisito e meio outsider. Como sempre, ele manda bem, embora não vá ser lembrado futuramente por seu trabalho nesse filme.
Em suma, tinha todos os elementos para ser legalzão, mas a execução burocrática (ah, eu sempre quis usar isso numa resenha!) atrapalhou e o tornou mais um produto a ser deletado da memória depois de uns 30 minutos. Aos fãs do Johnny Depp e de dramas de época (e creio, só a eles mesmo), eu digo: levando estes fatores em conta, até merece uma conferida, mas se agüentar esperar o filme chegar em vídeo, quem sabe ele não vire um programa melhor?