O Hobbit: A Desolação de Smaug

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Outro dia eu vi na TV um comercial de O Hobbit: A Desolação de Smaug e me surpreendi. “Ué, mas Uma Jornada Inesperada estreou ainda outro dia”. Que nada, delfonauta. Já faz um ano. E conhecendo meu público, aposto que temos dois grupos: os que concordam que o ano passou muito rápido e os que não aguentavam mais esperar por essa continuação. De qual deles você faz parte?

MY PRECIOUS

A Desolação de Smaug começa sem previously e sem qualquer auxílio para aqueles que assistiram ao anterior apenas uma vez um ano atrás. Acho isso um tanto espartano demais. Se até na TV as séries te relembram o que aconteceu, mesmo os episódios tendo intervalos de apenas sete dias, por que não fazer igual no cinema?

Felizmente, a história de O Hobbit não é assim tão complexa, então é fácil de recapitular. Gandalf, Bilbo Bolseiro e um grupo de anões espoletas estão querendo recuperar a terra dos anões, capturada muito tempo atrás pelo temível dragão Smaug. E agora eles estão bem perto de chegar lá, mas bastante coisa vai acontecer ao longo das quase três horas de projeção.

E são três horas belíssimas, amigo delfonauta. Na parte de trilha sonora não temos grandes novidades (os temas dos hobbits e do Um Anel continuam predominantes), mas arrisco dizer que temos aqui o melhor trabalho de mixagem sonora da história.

O efeito surround do cinema nunca me pareceu algo muito utilizado, mas não é o caso aqui. Sons, efeitos e vozes saem de todos os lados, dando uma sensação de realmente estar ali compartilhando da aventura dos baixinhos. Só pelo som já valeria assistir no cinema.

Mas tem mais. O visual continua tão esplendoroso quanto sempre foi (especialmente a arquitetura élfica) e o 3D é caprichado, daqueles poucos que realmente valem o premium do ingresso.

Na minha resenha do primeiro filme, eu comentei que o dito-cujo já tinha duas das partes mais famosas do livro (os trolls e o Gollum) e que, tirando o Smaug, não havia mais nada de realmente famoso para os filmes futuros. Hoje eu reitero essa opinião.

Você, leitor do livro e inteligente delfonauta, pode alegar que agora temos Beorn e as aranhas, entre outras coisas. E claro, eu sei que estes momentos são importantes para os fãs e o Blind Guardian já fez músicas sobre eles, mas não são famosos para o carinha que só vai no cinema para se divertir e que não tem nenhuma relação afetiva com a obra de Tolkien. E convenhamos, todos os personagens do Tolkien já foram musicados pelo Blind Guardian.

NECROMANTE

Além desses trechos tirados diretamente dos livros, Peter Jackson e sua patotinha continuam expandindo a história, se aproveitando de notas deixadas por Tolkien. É o caso, por exemplo, de toda a história do necromante, que aqui acaba sendo muito mais desenvolvida do que se poderia esperar.

É também quando se afasta do material original ou, para ser mais claro, da história principal, que A Desolação de Smaug mais esfria. Toda a participação de Legolas (Orlando Bloom) soa desnecessária, sendo nada mais do que um fanservice, pois poderia ser qualquer outro elfo. Sua história com Tauriel (Evangeline Lilly, de Lost, que curiosamente não fica tão bonita ruiva) também é um tanto maçante e igualmente desnecessária. Em geral, sempre quando a narrativa se afasta do núcleo do Bilbo com os anões, o filme dá uma esfriada.

A Desolação de Smaug tem também uma das melhores cenas de ação do ano, e envolve um bando de anões descendo as cataratas em um barril, o que mostra que o Pica Pau é igualmente popular na Terra-Média.

A cena em questão é fantástica e empolgante, daquelas em que fica difícil não levantar da cadeira e tocar Johnny Be Goode na sua air guitar preferida. Envolve um belo plano-sequência, Legolas sendo tremendão e bastante humor, então quando os anões entrarem nos barris, respire fundo e prepare-se, pois vem aí a cena mais legal do filme.

SMAUG, BABY

E é claro, dessa vez temos o Smaug. Quem já acompanhava o DELFOS quando o elenco estava sendo escolhido deve se lembrar que nosso mascote Alfredo De la Mancha estava entre os finalistas para o papel. E devo dizer, ele teria sido uma escolha melhor. Ok, ele não é tão grande quanto o dragão escolhido, mas convenhamos, ele é vermelho, o que significa que é mais poderoso. E é bem mais fofinho.

A cena com Smaug vem bem no finalzinho e é muito boa. Gostei especialmente de como sua barriga acende quando ele está para soltar fogo. É também neste momento que vem o principal problema do filme, pois tem uma hora que o Thorin vai totalmente para o lado negro, e depois mais nada é falado sobre isso. O Bilbo sequer solta um “pô, véio, qualéquié?”, e todos nós sabemos que essa é exatamente a linguagem típica de um hobbit.

Tem também o final, que é deveras repentino, daqueles que parece que cortou uma cena no meio mesmo. Dividir uma história única em três partes não é fácil, mas o Pejotão realmente falhou ao cortar esta segunda parte de forma tão repentina. Ele fez um trabalho melhor na divisão da trilogia original, mas afinal, eram três livros, então o trabalho era mais fácil.

A última coisa que quero comentar também está ligada à resenha do primeiro filme. Lá eu comentei como o filme em questão era mais divertido, mais leve do que O Senhor dos Anéis. Pois não é mais.

Se Uma Jornada Inesperada realmente era mais “bonitinho” e divertido, o clima de A Desolação de Smaug está bem semelhante ao de As Duas Torres. Sim, existe humor, mas as cenas de perigo estão mais sérias e até a fotografia é mais azulada e menos colorida do que anteriormente.

No geral, devo dizer que, nesta primeira assistida, eu gostei mais de A Desolação de Smaug do que de Uma Jornada Inesperada, mas creio que a trilogia vai ficar ainda melhor quando pudermos assistir aos três filmes em um pequeno intervalo de tempo. Até lá, escolha um bom cinema, de preferência com uma tela bem grande e um som potente, pague pelo ingresso em 3D e se divirta, pois A Desolação de Smaug é tão legal quanto a gente esperava.

CURIOSIDADES:

– A julgar pelos comentários na resenha do primeiro filme, não há um consenso sobre a diferença entre goblins e orcs. Na legendagem deste aqui, eles usam apenas orcs, mesmo quando os atores falam goblins. Parece-me que o delfonauta RaphaBastos matou a charada ao dizer que um é plural e outro é singular, mas fica aqui a semente para a discussão de hoje nos comentários.

– Mais uma semente para discussão: dragões bebem água? A julgar pela reação do Smaug a um pouco de H2O eu diria que não. RPGistas, manifestem-se!

LEIA TAMBÉM:

O Hobbit: Uma Jornada Inesperada – Greatness from small beginnings.

The Lord of the Rings: The Return of the King – Na falta da resenha do filme, falemos do jogo que também é bem legal.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
o-hobbit-a-desolacao-de-smaugPaís: EUA / Nova Zelândia<br> Ano: 2013<br> Gênero: Fantasia<br> Duração: 161 minutos<br> Roteiro: Fran Walsh, Phillipa Boyens, Peter Jackson e Guillermo Del Toro.<br> Elenco: Ian McKellen, Martin Freeman, Richard Armitage, Ken Stott, Orlando Bloom, Evangeline Lilly, Cate Blanchett, Benedict Cumberbatch, Stephen Fry e Stephen Colbert.<br> Diretor: Peter Jackson<br> Distribuidor: Warner<br>