O romance O Grande Gatsby foi escrito por F. Scott Fitzgerald e foi um fracasso comercial e de crítica quando do seu lançamento. Anos mais tarde, no entanto, foi redescoberto, virou um clássico da literatura estadunidense e acabou se tornando leitura obrigatória no ensino médio daquele país.
Esta adaptação cinematográfica de O Grande Gatsby dificilmente seguirá o caminho do livro. Duvido que seus reviews sejam negativos, mas igualmente duvido que terá a vida longa de sua contraparte literária.
Aqui conhecemos Nick Carraway (Tobey Maguire), um escritor que está tentando ganhar a vida na bolsa. Ele começa a ficar um tanto obcecado por um sujeito que se muda para um palácio ao lado da sua casa. O sujeito em questão, que ele logo descobre se chamar Gatsby (Leonardo DiCaprio), é um excêntrico e misterioso milionário, que vive dando grandes festas, mas ninguém sabe dizer de onde vem sua fortuna, ou mesmo apontá-lo na multidão. Dizem que Gatsby é um herói de guerra. Que ele estudou em Oxford. Dizem até que ele é primo de segundo grau do diabo.
A vida de Nick vai mudar quando ele recebe um convite de Gatsby para uma de suas festas, e logo descobre o interesse do milionário na sua prima, a bela e casada Daisy Buchanan (Carey Mulligan). O filme é ao mesmo tempo um romance entre Daisy e Gatsby e um bromance entre Gatsby e Nick.
SEGUINDO A CARTILHA
Poucos filmes seguem tão bem a cartilha dos filmes nada quanto este. O Grande Gatsby é um espetáculo visual, com cores vivas e planos estilosos. Tem várias cenas que são filmadas com muito estilo e bom gosto (a do atropelamento, em especial, é linda). Temos aqui todas as cores e a pompa de um musical (não por acaso, Baz Luhrman dirigiu também Moulin Rouge), mas infelizmente não temos a diversão.
Acontece que não é por acaso que o livro se tornou leitura obrigatória para os colegiais dos EUA. A história em si lembra muito o que costumamos ler por aqui quando estudamos o período romântico nas aulas de literatura. Manja aquelas histórias sobre pessoas da alta sociedade com problemas românticos, adultério e ascensão social? É por aí. Bem parecido também com o que se vê nas novelas do plim-plim.
Caso você tenha estudado comunicação em algum momento da sua vida, deve se lembrar do conceito de redundância. Por exemplo, uma cena assustadora com uma música assustadora é o óbvio, o tradicional. Neste caso, o que o espectador está vendo e ouvindo é o esperado, o redundante. Mas algumas vezes você pode não querer a redundância. Uma cena violenta com uma música bonita, por exemplo, dá uma sensação totalmente diferente, e pode ser essa a sensação que você queira passar.
Este é um conceito muito bem utilizado neste filme. A história, os maneirismos dos atores e os figurinos têm aquele típico visual do início do século XX. Mas nas festas do Gatsby, por exemplo, toca algo semelhante à música eletrônica moderna. Em outra, se ouve um rap. Em outra ainda, algumas mulheres dançam de forma bastante sensual, tipo de dança que ainda não existia na época e, se existisse, seria considerado pornográfico e vulgar. Nessas cenas, o diretor Baz Luhrman vai para o dissonante, e consegue fazer isso com muito estilo. Cá entre nós, foram os momentos que achei mais interessantes no filme.
Alguns dias atrás, tinha acabado de jogar Bioshock Infinite e, com o jogo tão fresco na minha mente, não pude deixar de perceber também as semelhanças entre o visual do jogo e de toda a cultura de Columbia com o que vemos por aqui. Também pudera, a época em que as histórias se passam é bem próxima.
Isso, no entanto, sou eu tentando atribuir a O Grande Gatsby alguns elementos mais nerds para tornar esta resenha uma leitura mais interessante ao meu respeitável público. Verdade seja dita, no entanto, este é um filme com apelo quase zero para nós. Tem alguns atrativos visuais e é deveras estiloso, mas eu diria que, para qualquer delfonauta que se preze, dificilmente passará de um filme nada. A não ser, claro, que este prezado delfonauta seja um grande fã de novelas. Se for o caso, vai fundo, pois o que temos aqui é nada mais nada menos do que uma novela bastante estilosa.