O Ditador

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Quando a maioria de nós pensa em Sacha Baron Cohen, a primeira coisa que vem à mente é Borat, certo? Depois ele ainda fez Bruno, que seguia mais ou menos a mesma linha “câmera escondida”, mostrando a reação de pessoas comuns às excentricidades de seus personagens.

Obviamente, quanto mais famoso o ator fica, mais difícil é para ele conseguir enganar o povão e arrancar reações reais de suas vítimas. Assim, embora seja o novo filme de Sacha Baron Cohen, e até o diretor Larry Charles seja o mesmo cineasta que realizou os dois filmes supracitados, O Ditador é um longa tradicional, no qual todos os personagens são feitos por atores que sabem que estão em um filme.

Isso, no entanto, não faz tanta diferença, pois este filme é parecidíssimo com Borat. Sacha Baron Cohen construiu sua carreira com um humor baseado em diferenças culturais e na premissa de que, ao serem confrontadas com atitudes que as deixavam desconfortáveis, elas mostrariam suas verdadeiras cores. O Ditador é basicamente isso, mas ao invés de termos o desavisado Zezinho da Esquina, temos a Anna Faris e outros atores famosos por personagens secundários e coadjuvantes. Na prática, é a mesma coisa, mas sem o sabor de realidade que permeava Borat e Bruno.

Aqui conhecemos o ditador Aladeen, da República de Wadiya, que acaba de construir armas de destruição em massa para “fins pacíficos”. A ONU começa a pegar no pé dele, e então ele vai aos EUA para se defender. Logo ele sofre um atentado, mas consegue escapar e aí se dá conta que foi substituído por um sósia. Sua única saída é criar um plano infalível para voltar ao poder e, para isso, vai acabar chocando um monte de estadunidenses xenofóbicos.

POTENCIAL POUCO APROVEITADO

Assim como os anteriores e em seu programa de TV, Da Ali G Show (que considero melhor do que os filmes), Cohen se dá muito bem quando opta por humor político, ou mesmo um nonsense mais inocente. Porém, ele é inexplicavelmente atraído para humor de banheiro ou polêmicas vazias, e isso enfraquece o filme.

Um excelente exemplo é a cena da tirolesa. Quando ele mostrou os tijolos, eu estava sinceramente com os olhos lacrimejados de tanto gargalhar. E daí vem uma piada envolvendo cocô, que elimina tudo que a cena teve de bom até o momento – e ela estava muito boa.

Seu discurso no final do filme, quando ele diz o que os EUA poderiam ganhar com uma ditadura, então, é de uma fineza humorística e afiada digna dos melhores momentos políticos do Monty Python. Porém, para cada um desses momentos geniais, temos outro que é a polêmica pela polêmica, ou simplesmente nojeira, tão vazia quanto um filme dos Irmãos Wayans.

Rir é uma reação humana ao desconforto. Assim como o poeta, o humorista também precisa de sofrimento. E é quando ele cria em volta do que ele realmente quer dizer que seu humor deixa de ser uma piadinha, e se torna realmente uma comédia de qualidade. Quando a polêmica está lá sem nada, apenas por existir, é humor fácil, vazio. E Sacha e sua turma cedem a essa facilidade com grande frequência.

A história, como sempre na obra de Cohen, é basicamente inexistente e, quando está lá, é óbvia e previsível. Isso aqui é uma metralhadora de piadas, e não há nada errado com isso em princípio. Com certeza você vai rir durante boa parte da projeção, mais até do que na maioria dos filmes lançados este ano.

O problema é que eu sinto que Cohen e seus comparsas são capazes de mais. Seus momentos geniais são tão bons que é um desperdício que eles se limitem a estar sempre no limiar de uma comédia qualquer. Especialmente quando parecem estar a um pequeno passo (ou uma piada envolvendo cocô a menos) de se juntar aos grandes deuses da comédia, como o sexteto inglês citado dois parágrafos atrás ou mesmo o trio David Zucker, Jerry Zucker e Jim Abrahams. Ele está tão perto de lá, mas tão longe, e isso é deveras decepcionante.

No geral, se você gostou de Borat, é seguro dizer que vai se divertir por aqui. O Ditador é um filme legal e vai arrancar boas risadas. Mas eu continuo torcendo para Sacha Baron Cohen alçar voos mais altos. Eu acho que ele consegue. E você?

CURIOSIDADE:

– Um dos roteiristas, Alec Berg, escreveu 33 episódios da sitcom tremendona Seinfeld e ainda trabalha com Larry David escrevendo e dirigindo vários episódios da série Curb Your Enthusiasm. Inclusive, ele é citado e até tem um personagem com seu nome em alguns episódios de Seinfeld.