O papo de que o Rock morreu é mais velho que andar pra frente, e vira e mexe volta à baila, rendendo muitas discussões. Mas se é fato que bandas e artistas novos do estilo surgem todos os dias, sua importância cultural há tempos foi para a terra dos pés-juntos.
É disso que trata o primeiro livro do jornalista André Forastieri, O Dia em Que o Rock Morreu, não de sua morte literal, e sim do fim de sua relevância sócio-cultural. Ele não é mais um estilo de massas, aglutinador. Não é mais rebelde, não faz mais nenhum adolescente querer empunhar uma guitarra e mudar o mundo. O Rock de hoje é tão anódino e inofensivo quanto uma power balada do Nickelback.
Quem ainda gosta de Rock tem de se voltar ao passado. Virou nostalgia, “no meu tempo é que era bom”, tornou-se algo que beira o conservador. São esses os temas que ele trata nos vários textos curtos que compõem o livro. Atuante desde o fim dos anos 80, o jornalista passou pelos principais veículos do país, como a Folha de S. Paulo, foi editor da saudosa revista Bizz, fundou suas próprias revistas (alguém lembra da Herói? Pois é, foi ele quem criou) e editoras (Conrad, Pixel).
Ou seja, tem rodagem. E reúne alguns de seus textos dos mais variados períodos e veículos pelos quais passou, além de outros publicados em seu blog, fazendo seu best of particular sobre o tema e organizando os escritos em quatro partes, como se fosse um disco de vinil duplo.
A primeira trata só de textos sobre as mortes de figuras importantes do Rock e do Pop, incluindo um artigo sobre a morte de Ronnie James Dio que causou muita ira (desnecessária) com os fãs do cantor, provando que muita gente só lê o título e nem se dá ao trabalho de conferir o resto.
Já a segunda reúne textos mais opinativos sobre assuntos variados. André sempre teve ideias e uma visão de música muito particular e nunca teve medo de explicar e defendê-las, e nem de pegar pesado com certos medalhões que se consideram acima de qualquer crítica. A terceira trata das mudanças trazidas para a indústria no século XXI. A internet e a pirataria, o fim das revistas, o fim da MTV, ou seja, o momento que vivemos.
Por fim, a última parte é feita só de seus textos sobre o Nirvana, visto que ele também enxerga a banda de Seattle como o último momento de real relevância do Rock. É aqui que se encontra a única entrevista do livro, com Kurt Cobain, quando de sua passagem pelo Brasil para tocar no Hollywood Rock.
É o tipo de trabalho que se pode ler devagar, com um ou dois textos por dia, ou numa sentada só, afinal, todos os artigos são bem curtos e o livro tem meras 184 páginas. Ao final, é uma boa coletânea, com os textos bem amarrados por seus temas, o que o torna bastante fluido.
Mas fica aquela sensação de “quero mais”. A envolvente escrita de Forastieri e suas opiniões fortes são boas demais para ficarem restritas a poucos parágrafos de texto. Ao final da leitura fica aquela vontade de ler algo maior, mais musculoso. No fim das contas, O Dia em Que o Rock Morreu é um bom retrato de um apaixonado pelo gênero testemunhando sua perda de importância numa leitura rápida e dinâmica. Para quem gosta do tema, é recomendado. E fica a torcida para que ele se anime com essa primeira empreitada e lance mais (e maiores) livros.