Nova York, Eu Te Amo

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Olha só que coisa: na resenha de Tokyo!, reclamei da mania atual de fazer filmes de contos tematizados em uma cidade. Pois não é que a cabine seguinte da mesma distribuidora seria ainda outro longa desses, inclusive repetindo o título de um dos desbravadores da fórmula? Felizmente, este é bem melhor do que ambos os anteriores, mas sofre dos mesmos problemas comuns a qualquer conjunto de contos.

Duas coisas unem todas as histórias presentes aqui e ambas podem ser deduzidas a partir do título. Primeiro, todas se passam em Nova Iorque (Dã!). Segundo, todas são sobre amor (Dããã!!).

Como Nova Iorque é uma cidade de grande diversidade étnica e cultural, o filme pode explorar o tema com vários tipos de pessoas diferentes. Do amor jovem ao idoso, da excitação do primeiro toque à estagnação de um relacionamento antigo. Tem de tudo aqui e, por incrível que pareça, praticamente todos os personagens são simpáticos e bem desenvolvidos. Tem espaço até para o amor entre pai e filha, em um sensível curta dirigido pela Natalie Portman (que aparece na frente das câmeras em outra história, novamente careca).

Além de ser fácil de se identificar com vários deles, ainda ajuda muito o fato de Nova Iorque ser, em muitos aspectos, bastante parecida com São Paulo. Dessa forma, é mais fácil para um paulistano como eu se ver representado nos personagens daqui do que nos de um filme brasileiro sobre favela ou ditadura.

O gênero também envolve quase tudo. Temos histórias tristes, românticas, fofas e até espaço para duas onde rola até assombração (uuuuh…). Dentre os diretores, temos nomes como Brett Ratner e Faith Akin e o elenco é a coisa mais estrelada que já apareceu no cinema, com nomes como Shia LaBeouf, Andy Garcia, Anton Yelchin, Orlando Bloom, Christina Ricci e vários outros et ceteras.

Os principais problemas, além da fórmula gasta, estão no mesmo aspecto que qualquer coisa que junte contos (e incluo aí os livros):

1 – Irregularidade: é difícil fazer todos serem igualmente interessantes e até agora não vi nenhuma dessas coletâneas conseguir isso. O que me leva ao segundo ponto.

2 – Coito interrompido várias vezes: você está se identificando com os personagens e gostando pra caramba do caminho do conto atual. Mas daí ele acaba, e você tem que começar a se identificar do zero com personagens diferentes, com crises diferentes e, muitas vezes, em um gênero diferente. O fato de os personagens algumas vezes reaparecerem em outras histórias não faz grande diferença, pois cada um deles brilha mesmo apenas uma vez.

Ambos esses problemas, no entanto, são praticamente incontornáveis no gênero, então se existem fãs de filmes como esse, acredito que devem ter aprendido a ignorar ou não se importar com isso. E, comparando com as outras incursões do gênero, posso até dizer que Nova York, Eu Te Amo é o ponto máximo no qual essa fórmula pode chegar. Agora que tal alguém em Hollywood tentar criar algo diferente? Tenho certeza que muitos roteiristas apagariam o próprio casamento em um pacto com Mefisto para ter essa chance.

Curiosidade:

– Sim, eu entendo a lógica de chamar New York de Nova York. Você traduz o adjetivo, mas não traduz o nome. Porém, nenhum brasileiro que eu conheço chama Londres de London. Isso seria até meio idiota. Ou seja, é normal traduzir nomes de cidade. É por isso que aqui no DELFOS, a regra é traduzir tudo ou nada. Em outras palavras, aqui ou falamos New York ou Nova Iorque. Misturar idiomas só mostra que você é tão indeciso quanto um tradutor de nomes de filmes que decide chamar uma obra de Ghost – Do Outro Lado da Vida.

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