Never Alone

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Amigo delfonauta, o jogo do qual vamos falar hoje é bastante diferente. Metade documentário, metade jogo, acaba sendo tanto um projeto cultural quanto um game. Uma iniciativa admirável que mostra como os videogames podem juntar informações e entretenimento como nenhuma outra mídia.

IÑUPIAT

Você já ouviu falar dos Iñupiat? Se não, este jogo vai te ensinar bastante. E, se sim, provavelmente é porque tem algum interesse no tema abordado aqui. Os Iñupiat são um povo nativo do Alasca que vive de caça para subsistência em um ambiente bem impiedoso.

A história do jogo é baseada em uma fábula desse povo, chamada de Kunnuksaayuka. Na fábula, um menino quer descobrir a fonte de uma nevasca eterna que vem fazendo seu povo sofrer. No caminho, ele encontra vários personagens do folclore Iñupiat, como as pessoas pequenas e o matador de homens. No jogo, você não controla um menino, mas uma menina, e a história é contada através de scrimshaw, uma forma de arte típica dos Iñupiat. A narração também é feita na linguagem deles, com legendas em várias línguas (português do Brasil incluso).

O seu interesse pela cultura dos Iñupiat será diretamente proporcional ao seu aproveitamento da jogatina. Isso porque, pelo menos se você jogar como a desenvolvedora gostaria, vai passar tanto tempo jogando quanto assistindo a documentários. A sensação que dá é que o objetivo do jogo é realmente mostrar os Iñupiat, em uma forma diferente e interativa de apresentar um documentário.

GAMEPLAY

A menina que você controla é ajudada por uma raposa, e Never Alone é um jogo criado para ser jogado em cooperativo. Um jogador controla a raposa, e outro a menina.

No início do jogo, parece que a raposa é que faz as coisas andarem. Ela é mais rápida e escala paredes, muitas vezes sendo a responsável por fazer a menina passar por lugares mais inóspitos. Quando jogava este pedaço, sentia que a menina poderia ter habilidades diferentes, para que o jogo fosse mais cooperativo e não o jogador dois levando o um.

Eventualmente, a menina desenvolve algumas habilidades diferentes, como a possibilidade de empurrar caixas e uma arminha que destrói gelo chamada “bola” (não tem nada a ver com a nossa bola).

O visual é 2D e é uma fofura. A menina e a raposa têm um design super bonitinho e pequenos detalhes, como a forma que o vento empurra o chapéu da mocinha dão um grande charme. Confira abaixo uma amostra do gameplay. Eu sou a menina, e a patroa é a raposa.

Enquanto você joga, vai liberando os documentários, que explicam o que você acabou de encontrar no jogo. Por exemplo, quando você encontra a aurora boreal, imediatamente abre um documentário sobre isso. A mesma coisa quando você encontra as pessoas pequenas, e assim por diante. São 24 documentários que duram alguns poucos minutos cada um. Por isso que, se você assistir a cada um deles assim que os liberar (que é a forma que a desenvolvedora gostaria que você jogasse), vai passar tanto tempo assistindo quanto jogando.

DIFICULDADE E PROBLEMAS

O jogo começa bem facinho, e eu achei que continuaria assim até o final, já que seu principal objetivo é divulgar a cultura dos Iñupiat. Porém, quando o final se aproxima, ele se torna realmente difícil. Nós morremos muito nas últimas fases. Felizmente, os checkpoints são muito bem colocados, e normalmente você não volta quase nada. Em alguns momentos, aliás, ele nos colocou para frente de onde morremos, o que eu não gostei muito.

Outra coisa que prejudicou a jogatina foram os bugs. Era comum ficar preso na parede e ter que reiniciar o checkpoint, mas o mais grave foi quando, perto do final, nós empacamos em um puzzle. Tentávamos de tudo e nada. Procuramos algum walkthrough na internet e vimos que estávamos fazendo certo. Acontece que a árvore na qual eu estava subindo deveria começar a andar, e ela não andava. Restaurar o checkpoint ou morrer não fazia o jogo “funcionar” e só conseguimos seguir em frente depois de sair do jogo e abri-lo de novo. Não chegou a ser um bug que quebra o jogo, pois não precisamos começar de novo, mas tivemos que literalmente sair do jogo para resolver. E sem falar o tempo que perdemos tentando descobrir o que fazer, pois não era claro que se tratava de um bug.

Nas últimas fases, a raposinha também ganha o poder de voar, mudando bastante o jogo para ambos os jogadores. A patroa disse que não curtiu muito voar, e eu não experimentei, mas minha sensação é que jogar com a raposa é muito mais variado e divertido do que com a menina. E digo isso tendo gostado de jogar com a menina.

KISIMA INNITCHUNA

Never Alone é bem curtinho. Nós começamos e terminamos em uma tarde de sábado, o que o torna um bom programa para um dia que você e a patroa pretendam passar a tarde em casa e pedir uma pizza à noite.

Never Alone não é um jogo especialmente diferente de outros sidescrollers 2D. O que o torna diferente é sua ênfase no lado cultural. Se você tem algum interesse na cultura do povo abordado por ele ou em acompanhar a evolução dos games como projeto cultural, mais do que um simples entretenimento, ele sem dúvida merece ser jogado.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
never-aloneAno: 2014<br> Plataforma: PC, PS4, Xbox One<br> Fabricante: Upper One, E-Line Media<br> Versao: PS4<br> Distribuidor: E-Line Media<br>