Paulo Coelho, nem preciso dizer, é o escritor brasileiro mais bem sucedido mundialmente, tendo vendido milhões de cópias de seus livros, que já foram traduzidos para uma pá de idiomas. Quanto à qualidade dos romances, não posso dizer nada, afinal, nunca li um livro do cara.
Admito que isso se dá por um tanto de preconceito (e também porque os temas que ele aborda, francamente, não me interessam). Mas se um exemplar qualquer caísse na minha mão, eu o leria para matar a curiosidade e ver porque tanta gente gosta do que ele escreve. E mesmo eu não sendo um fã, até que tinha alguma expectativa para este Não Pare na Pista, cinebiografia do autor que chega agora aos nossos cinemas, principalmente por conta da parceria musical com Raul Seixas.
Seguindo a cartilha das biografias, o longa vai mostrando as principais passagens da vida de Paulo Coelho, da adolescência problemática e a difícil relação com o pai, passando pela famosa peregrinação pelo caminho de Santiago de Compostela e suas primeiras aventuras literárias, até a época atual, com ele já consagrado, está tudo aqui.
E embora o longa até alterne momentos de três épocas distintas (a adolescência, os primeiros anos de vida adulta e o ano de 2013), ele é bastante burocrático na maneira como conduz e retrata a trama. É tudo muito formulaico, muito previsível, o que acaba tornando a experiência de assisti-lo um tanto maçante.
E olha que a vida do cara realmente tem passagens interessantes que rendem um filme, mas que poderiam e deveriam resultar em algo melhor do que o mostrado aqui. E outras coisas que são muito importantes para a construção do personagem acabam até ficando rasas.
Talvez o maior exemplo disso seja sua fascinação pelo misticismo e todos os elementos relacionados a isso. De onde começou esse gosto? Como isso influiu em sua vida (além de fornecer material para seus livros, quero dizer)? No que exatamente ele acredita? Como é seu processo criativo? Tudo é pincelado muito por alto e poucas respostas (às vezes nenhuma) são dadas.
E para completar, a parceria com Raul, um momento tão importante que poderia render só ele um filme próprio, acabou relegado a pouquíssimas cenas, que não devem totalizar sequer uns dez minutos de projeção. Tudo bem, é até compreensível que talvez tenham feito isso deliberadamente, afinal, o tema central é Paulo Coelho e não o Maluco Beleza, mas que essa é justamente uma das partes mais legais do filme, não há como negar.
Assim, nessa narrativa de altos e baixos, destacam-se os dois atores que interpretam o escritor na adolescência e entre os anos 70 e 80 (e que também o interpreta em 2013), sendo que este último ficou deveras parecido fisicamente com o verdadeiro, e também fazem um bom trabalho de atuação, além da trilha sonora, que conta com várias das canções do Raulzito das quais ele assinou as letras.
No mais, é um filme bem mediano, que tinha potencial para ser muito mais, mas não chegou lá. Desta forma, acabou caindo no pantanoso terreno dos filmes nada. Fãs do escritor possuem mais chances de apreciar Não Pare na Pista, mas quem, como eu, nunca abriu um de seus livros, não será assistindo à película que será criada a vontade de se mudar isso.