O delfonauta mais atento sabe de meu apreço por filmes que tratam de música de alguma forma. Não precisa nem ser o tema central, mesmo se for só pano de fundo, já me deixa interessado. Por isso estava bem curioso para conferir Não Olhe para Trás, pois só a sua sinopse, baseada numa situação real, já parecia bem legal. Sente só:
Al Pacino é o Danny Collins do título original, um astro do rock (ainda que soft) decadente que canta o mesmo sucesso de décadas atrás para uma plateia de velhinhas assanhadas. Um dia ele ganha de seu empresário uma carta que John Lennon escreveu de próprio punho para ele, Collins, em 1971.
Tendo esta preciosidade chegado às suas mãos com mais de 40 anos de atraso, o truta começa a reavaliar como sua vida teria sido se ele a tivesse recebido no momento correto e decide que, antes tarde do que nunca, ele vai mudar alguns aspectos dela. Seja tentando recuperar a inspiração musical há muito perdida, como também acertando as coisas com o filho com o qual nunca teve contato.
Verdade seja dita, este é o tipo de filme que em condições normais seria apenas um filme nada e olha lá. Não tem nada de novo ou de surpreendente e não vai mudar sua vida. Contudo, ele é tão bem feito tão simpático e com uma levada tão bacana que acaba elevado muito acima desse status. Eu acabei me divertindo muito mais do que esperava durante sua exibição, e eu sequer estava com a mão para dentro das calças…
Muito disso se deve ao personagem principal, totalmente fanfarrão e simpático no trato com as outras pessoas, e ao mesmo tempo completamente ciente do quanto sua imagem de rock star é patética e até deprimente. Os diálogos também são muito bons e extremamente divertidos, principalmente as conversas dele com a gerente do hotel (Annette Bening).
E também não faz mal nenhum que a trilha sonora esteja recheada de canções da carreira solo de John Lennon, ainda que elas sempre toquem no momento mais óbvio possível, tipo Cold Turkey (cuja letra trata de largar as drogas “a seco”, só na força de vontade, sem qualquer tipo de ajuda) tocar justamente quando ele enfia o pé na jaca e por aí vai. Ainda assim, a mistura entre drama e comédia está bem balanceada, e graças ao protagonista e aos diálogos espertos essas obviedades acabam ficando em segundo plano.
Tudo isso contribui para transformar Não Olhe para Trás em um ótimo filme pequeno, praticamente um lado B. Em se tratando de uma obra menor, cumpre muito bem o seu papel. Assim, para quem, como eu, gosta de películas com temática musical e quer curtir um programa despretensioso, mas bastante divertido e eficaz, vale o ingresso.