Mulher-Gato

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Ok, vamos por partes. Se você tem um mínimo de cultura (e, como você está lendo o DELFOS, eu assumo que tenha), você sabe quem é a Mulher-Gato: notória personagem dos quadrinhos e uma das “vilãs” mais conhecidas do Batman. Coloquei vilãs entre aspas porque ela não é nem nunca foi apenas uma vilã, já que vira e mexe sempre tem um casinho amoroso com o “Batimão” e o ajuda a livrar Gotham dos meliantes.

Pois bem, eu já disse antes, vou dizer agora e ainda vou dizer muitas vezes no futuro (deve ser cármico): não, e eu repito, NÃO se deixe enganar pelo que a mídia enfia goela abaixo em você, amigo delfonauta. Por mais que a Warner divulgue a torto e a direito que esse filme é baseado na personagem da DC, ele não é, pelo simples fato de que apenas o nome da personagem foi aproveitado. Nem seu uniforme, nem suas habilidades, nem sua personalidade e nem, preste atenção agora, o nome da sua identidade secreta. Bom, se a personagem do filme não é Selina Kyle, então por que diabos o povo reclama tanto de que a personagem foi muito alterada para o filme? Ela simplesmente NÃO é a mesma personagem. Ponto. Mulher-Gato é um filme de ação que nada tem a ver com a mina da DC e é assim que esse filme deve ser assistido (assumindo que você quer assistí-lo).

Foi com esse espírito que entrei no cinema. Não para assistir um filme de quadrinhos, mas apenas para assistir um filme qualquer. E não é que o filme começa bem? Imagens egípcias? Hum, isso é interessante… Halle Berry? Hum, interessante… Halle Berry em roupa de couro rasgada? Hum, mais interessante ainda… Na verdade, o filme funciona bem como fita de ação… até certo ponto. O ponto em que a heroína começa a aparecer, ou melhor, pouco depois disso.

Até é legal quando ela começa a descobrir seus poderes, as cenas de luta são muito boas e tal, mas aí começa a síndrome O Máskara, ou seja, de dia Halle é a pacata Patience Phillips, que flerta com um policial – cuja relação da protagonista com o personagem lembra a relação Mulher-Gato/Batman. Coincidência? – e tem uma amiga gordinha e divertida e um amigo gay estabanado. De noite, contudo, ela leva uma outra vida (não, não estou falando do amigo gay), coloca uma roupa de couro (é sério, eu realmente não estou falando do amigo gay) e sai escalando paredes e pulando de telhados em telhados combatendo o crime e isso se torna repetitivo rapidinho.

Se você gosta de quadrinhos ou acompanhou os últimos filmes lançados deve ter percebido algo estranho na última frase. É, essa Mulher-Gato está pendendo um pouco mais para aranha do que para gato. O engraçado é que a Marvel criou a Gata Negra (personagem das histórias do Homem-Aranha) em uma clara referência à Mulher-Gato da DC (até a relação dela com o herói é parecida) e, no cinema, a DC/Warner copia o Homem-Aranha para movimentar sua personagem. Vai entender esses caras. Mas beleza, isso é o de menos.

A atuação de Halle Berry no filme é uma das mais irregulares que já conheci. Em algumas cenas, ela consegue recriar toda a agilidade dos gatos com a graça e a beleza de um felino, mas quando se mete a arranhar, falar coisas como “Perrrrrrrfect” e, principalmente, “Miau”, ela bota tudo a perder e se torna tão sexy quanto meu celular (se bem que meu celular é bem bonitinho).

Isso me leva a pensar se o Oscar que ela recebeu por A Última Ceia (e que fez com que o sucesso subisse à sua cabeça e se tornasse uma das atrizes mais arrogantes que já conheci) foi realmente merecido ou se foi por razões políticas. E por razões políticas leia-se (preparem-se, demagogos, pois aqui no DELFOS não usamos meia-palavras): “Oh, meu Deus! As pessoas estão começando a falar que nunca demos um Oscar para protagonistas negros, então vamos escolher os mais bonitos representantes da raça e dar um Oscar para cada um. Quem sabe, depois dessa não conseguimos escapar sem premiar nenhum deles por mais 70 anos?”.

Minhas provas? Ela e Denzel Washington ganharam o prêmio no mesmo ano. Além disso, no mesmo ano foi feita uma homenagem a Sidney Poitier, primeiro ator negro a pegar no cobiçado careca. Quer mais? Então puxe um pouquinho da sua memória e lembre como, assim que ela recebeu o prêmio, a mídia de todo o mundo já gritava para quem quisesse ouvir “Primeira atriz negra a ganhar o Oscar por um papel principal!”. Veja só o título desta matéria. O próprio discurso da atriz e de Denzel na ocasião ia por essa linha. Acredite em quem você quiser, mas essas provas mostram mais do que muita teoria da conspiração que vemos por aí. E eu pergunto: realmente faz diferença se foi a primeira ou milionésima negra a ganhar o prêmio? O Oscar e qualquer outra premiação devem ser escolhidos de acordo com a categoria do prêmio e não por quaisquer outros motivos que um grupo de pessoas invente. É, eu sei que sou utópico, mas que eu posso fazer? Nasci assim. É claro que isso é irrelevante para a resenha desse filme, mas segregar as pessoas (por qualquer motivo, não apenas racial) é algo que me irrita muito e eu precisava colocar isso no texto. Desculpe-me a divagação.

Mas a minha opinião sobre o filme vem aí: é um pipocão. Mas não um pipocão maravilhoso como De Volta Para o Futuro ou Homem-Aranha 2. Está mais para um pipocão meia-boca. Aqueles filmes que você vê na Sessão da Tarde e que na hora do jantar já esqueceu, sabe? Eu realmente não recomendo, mas se seu nível de exigência for menor que o meu, talvez você até se divirta. Afinal, tem a Halle Berry em roupa de couro rasgada – será que ela vai ganhar um Oscar por isso?

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).