Morte no Funeral

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É super raro algum bom filme de comédia chegar ao Brasil, sobretudo quando é proveniente da Europa. E se chegar, e vier da Inglaterra, melhor ainda. No caso deste, a curiosidade é ainda maior pelo fato de ele ser dirigido por Frank Oz, o Yoda. Ok, Oz já dirigiu vários filmes e alguns deles são bem conhecidos, mas essa é a primeira vez que eu tenho a oportunidade de assistir a um deles sabendo que quem está por trás das câmeras é um mestre jedi! E o cara faz questão que você saiba disso, já que só nos créditos iniciais, aparece “dirigido por Frank Oz” duas vezes, um egocentrismo bem estranho para alguém que um dia aceitou se esconder atrás de um bonequinho verde.

Morte no Funeral acontece quase que completamente em um funeral. Só que, como diriam as distribuidoras brasileiras, é um funeral muito louco. Aliás, é muito estranho que esse não seja o título oficial do longa aqui no Brasil, como sempre acontece com esse tipo de humor. Aliás, talvez fosse até melhor, já que o título em questão esconde um spoiler bem feio da trama, mas dessa vez não é culpa dos tradutores tupiniquins, já que o título original é praticamente o mesmo. Também é estranho que não usem o chavão “você vai morrer de rir”, se bem que é bem capaz que usem e que eu, por sorte, não o tenha visto.

Nos primeiros minutos, os personagens são calmamente apresentados – e isso pode dar a impressão de que este será um filme lento e chato. Não se deixe enganar. Não demora muito e a coisa engrena. Existem muitos personagens no filme, mas, como é comum no humor inglês, poucos são tridimensionais e a maioria é completamente caricato, tendo apenas o importantíssimo papel de despejar as piadas.

Boa parte dos membros da família do defunto, inclusive, são velhos conhecidos do espectador. Temos o primo drogado, o tarado, a prima gostosinha e a garota que leva o namorado/noivo para que ele tente se enturmar com a família. Aliás, esse namorado, inadvertidamente toma uma das drogas do primo junkie e essa é a primeira (e uma das melhores) confusão que dá as caras no longa. Mas também temos um chantagista (é incrível como é só alguém morrer que já aparece um imbecil tentando faturar em cima disso) e um tio deficiente, este último responsável pelo único momento realmente fraco do filme.

E já que tocamos no assunto, eu realmente gostaria de saber por que diabos todo representante do humor nonsense recente tem sentido a necessidade de colocar algo escatológico? Vide South Park, que fica mais nojento a cada nova temporada. Ok, isso não é algo recente e até mesmo no Sentido da Vida, do Monty Python, já tinha uma dessas cenas que estragam o filme (e se você assistiu, vai saber a qual me refiro), mas ultimamente tenho sentido que essa escatologia está aumentando. Será que é uma forma de tentar popularizar um tipo de humor que, por definição, é completamente elitista?

Enfim, a cena em questão de Morte no Funeral é bem curta, mas foi suficientemente nojenta e sem graça para justificar o corte de meio Alfredão da nota. Desnecessário dizer que o filme seria melhor sem ela.

Felizmente, mesmo com a maledeta ali, triunfante, o longa ainda é suficientemente divertido e engraçado para justificar o preço do ingresso. Mas é claro, como todo bom exemplar de humor nonsense, não é para todo mundo. É um humor extremamente intelectual, que muitas pessoas vão achar simplesmente chato, além do fato de que muitas cenas incomodam por ser muito fácil traçar um paralelo com sua própria vida (o que faz parte da proposta do gênero, é claro). Como se isso não fosse suficiente, Morte no Funeral ainda investe pesado no humor negro, já que em todas as suas piadas, pelo menos um de seus personagens está se dando realmente mal.

Claro, se você gosta do DELFOS e se identifica com o tipo de humor que usamos aqui, provavelmente já sabia de tudo que foi falado no parágrafo anterior e nesse momento está correndo para o cinema assistir à obra-tema desta resenha. E eu realmente recomendo que você o faça, então vou parar de tomar seu tempo agora. 😉

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
morte-no-funeralPaís: EUA/Reino Unido/Alemanha<br> Ano: 2007<br> Gênero: Comédia Nonsense<br> Duração: 90 minutos<br> Roteiro: Dean Craig<br> Produtor: Sidney Kimmel, Laurence Malkin, Diana Phillips e Share Stallings<br> Diretor: Frank Oz<br> Distribuidor: Paris<br>