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O povo brasileiro não prima por ser nacionalista. Acostumados com o excesso de autocríticas completamente destrutivas e, silenciosamente, cada vez mais feridos pelo complexo de vira-latas, os brasileiros raramente cultivam o hábito de se orgulhar de seu país.
É nesse momento que o leitor mais revoltado se exalta e diz: “Ora! Mas do que é que devo me orgulhar? Como posso me sentir orgulhoso de um país no qual o Estado abandona os cidadãos, obrigando os ricos a recorrerem ao sistema privado e, pior, os pobres a recorrerem ao crime?”. E eu respondo: não peço que você se orgulhe, pois também não o faço.
No entanto, não é estranho pensar que, durante a Copa do Mundo, todos pareçam se tornar “brasileiros com muito orgulho e muito amor”? Não é estranho que, quando se fala em internacionalizar o território amazônico, muitos brasileiros batam no peito e digam que “a Amazônia é nossa!”, com aquela cara de Goku Super Sayajin (sorrindo com a testa franzida, como quem diz “eu estou sendo severo, mas estou fazendo a coisa certa!”)?
Se você é brasileiro e não é um vegetal, certamente já presenciou situações desse tipo. Agora, pare e pense. Qual é o sentido desse tipo de orgulho? O Brasil pode ter uma natureza exuberante, sendo inclusive um destaque mundial nesse aspecto. Mas isso é um mero acaso territorial!
Eu não me sinto orgulhoso por ter nascido e viver no mesmo país que abriga a maior parte do território amazônico. Especialmente porque o Brasil não sabe cuidar daquilo que tem. É, na verdade, um grande motivo de vergonha que tenhamos a Amazônia e a tratemos tão mal.
O mesmo vale para o futebol. Por que eu devo me orgulhar da seleção brasileira? Eu não tenho nenhum mérito pelo fato de o Robinho, o Ronaldinho, o Zezinho ou o Luisinho, outrora meninos pobres e talentosos, terem sido descobertos por fulanos que os levaram para grandes clubes, dando início a carreiras que culminaram com participações em Copas do Mundo. O país não tem nenhum mérito por isso.
O mais revoltante de tudo é que exemplos como a floresta amazônica e o talento futebolístico de nossos jogadores são provas, em minha opinião, do enorme potencial que o Brasil abriga em suas entranhas, ao mesmo tempo que provam que o país não sabe aproveitá-lo.
Quando falo sobre tal potencial tupiniquim mal aproveitado, gosto de tomar, como ponto de comparação, o Japão. Trata-se de um país de proporções minúsculas e, no entanto, com uma população de tamanho próximo ao da brasileira. Obviamente, o espaço que pode ser dedicado à agricultura é mínimo. O Japão é, ainda, marcado por algumas regiões sujeitas a condições climáticas extremas, vulcões em atividade e ocorrência diária de terremotos. Como se isso não bastasse, seu território foi castigado, durante a 2ª Guerra Mundial, por bombardeios norte-americanos, dos quais as bombas atômicas foram apenas uma parte e, pasme, não foi a maior.
Hoje, no entanto, esse país tão maltratado pela natureza e por sua própria história, é a segunda maior economia do mundo, e tem alguns dos melhores indicadores socioeconômicos. Quando falam sobre a reconstrução japonesa no pós-guerra, historiadores chamam o período de “Milagre Japonês”. Os japoneses se ofendem com tal terminologia, e orgulhosamente dizem que “não houve milagre, mas trabalho”.
A diferença entre o orgulho japonês e o brasileiro é o simples fato de os japoneses parecerem ter, e de fato terem, um motivo muito sólido para se orgulharem de seu país. Em uma comparação, o orgulho brasileiro parece forçado, parece uma manifestação mista de desespero e ignorância, de um povo que não sabe de que se orgulhar e que procura por uma identidade.
O brasileiro, se quiser realmente obter algo de que se orgulhar, precisa começar a fazer autocríticas mais construtivas, precisa aprender a cobrar mais de seu Estado, de seus compatriotas e de si mesmo em prol do país. Caso contrário, seremos o eterno “país do futuro”, com um enorme potencial mal aproveitado. Isto é, até que o mau aproveitamento seja tamanho que faça com que nossos intermináveis recursos se esgotem, e a famosa canção tenha de ser mudada para “Eu morava num país tropical”.