Millencolin e Deadfish

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Essa resenha vai entrar para a história do DELFOS. Não só é o primeiro show que cobrimos desde a estréia do portal, como é também o primeiro show fora do circuito Metal/Hard Rock a que vou em muito tempo. Acredito que o único show de estilo semelhante que assisti foi Ramones e isso foi há uns 10 anos (cara, estou ficando velho). Mesmo assim (ou até por isso mesmo), estava assaz ansioso para este show. Sabe, chega um momento na vida de uma pessoa em que se está a fim de coisas diferentes do que espada, trovão e honra. Esse é o momento em que um banger decide ir a um show de Hardcore.

Admito que conheci o Millencolin há relativamente pouco tempo, mas gostei desde a primeira vez que ouvi, sobretudo dos discos Life on a Plate e Pennybridge Pioneers. Admito também que, como você já deve imaginar, não sou um expert nem sobre o estilo, nem sobre a banda, motivo pelo qual tentei arranjar outra pessoa para escrever essa resenha. Como não consegui, cá estou, enrolando descaradamente para ganhar tempo e pensar na resenha propriamente dita. 🙂

O Millencolin é um dos campeões de camisetas, ao menos aqui em São Paulo. É bem difícil você ir a uma faculdade ou em lugares onde pessoas que gostam de Rock se concentram e não encontrar um indivíduo portando a camiseta do “Keeper of the Seven Keys do Hardcore Melódico” (como definiu um amigo meu), o clássico Life On a Plate, aquele desenho de um passarinho morto em um prato, manja? Por isso mesmo, quando fiquei sabendo que eles vinham, pensei: “Putz, vai lotar!”.

De fato, quando cheguei ao Credicard Hall, me surpreendi com a quantidade de pessoas do lado de fora. A locomoção até a área onde a imprensa pega as credenciais foi tão difícil quanto andar pela Rua 25 de Março. Pegar as credenciais também não foi fácil devido à falta de organização na fila, que tinha constantemente pessoas furando e aparentemente ninguém além de mim se importa com isso.

Primeiro obstáculo vencido, ao entrar na pista (setor que teve seus ingressos esgotados), a banda de abertura Deadfish já estava tocando (era 21:20 e o início do show estava marcado para as 21:30). No início até curti o som dos caras, mas depois foi ficando extremamente chato. Mas aparentemente, a galera estava gostando. Nunca vi tanta gente agitar tanto em um show de abertura. Claro, sempre tem uns animais mandando a banda praquele lugar e coisa do tipo, mas o grosso do público parece ter curtido bastante.

Aliás, falando em animais, estava também bem empolgado para comparar o público desse show com o de um tradicional show de Metal. Um estudo antropológico, podemos dizer. Inicialmente não percebi tanta diferença. A quantidade de cabeludos era obviamente menor, mas a cor predominante ainda era o preto, como também acontece nos shows abençoados por Odin.

Claro, até aí tudo bem. Os problemas começaram lá dentro. O banheiro estava absurdamente lotado e sujo. As pessoas se empurravam lá dentro sem a menor educação e consideração. Pareciam um bando de selvagens. Durante o show, uma vadia nojenta vira seu copo de cerveja no meu pé. Olho para ela, esperando um pedido de desculpas, mas a filhote de cruz-credo olha para mim, faz uma careta (ficando ainda mais feia do que já era) e fica me encarando, sem falar nada. Depois vira as costas para mim, acende um cigarro e continua a pular e a dançar como se nada tivesse acontecido. Fiquei com vontade de limpar meu tênis na saia dela, mas sabe como é, a aberração (estou me divertindo criando adjetivos para qualificá-la) poderia fazer um escândalo e todo mundo assume que os homens sempre estão errados nessas horas. Eu odeio o fato de vivermos em um mundo machista, onde a maior parte das mulheres demagogicamente dizem querer direitos iguais, mas não pensam duas vezes antes de decidir apelar para o argumento do “sexo frágil”.

Para completar a experiência, um primata que estava no camarote (ou seja lá como chama aquela parte que fica acima da pista no Credicard Hall) cuspiu em mim e na minha ajudante. Aliás, primata foi uma boa definição para esse público já que, ao sair da casa de shows, vi um cara se movendo e fazendo barulhos de forma semelhante a um gorila. Convenhamos, qual é a chance disso acontecer? 🙂

Não estou dizendo que todo mundo que estava no show era tão idiota, mas essas são coisas que nunca aconteceram comigo em mais de 100 shows de Heavy Metal que assisti. Gostaria até que alguém que freqüente esse tipo de shows me escrevesse para dizer se é sempre assim ou se eu que dei azar. Quem sabe a gente não publica aqui.

Mas então, lá pelas 10:20 o Millencolin entrou no palco com a dobradinha Kemp e Fox para delírio da platéia que esperava por isso há pelo menos 8 anos, quando a banda visitou nosso ensolarado país pela última vez.

A presença de palco da banda é até superior ao que eu esperava, rola até umas coreografias simples. A exceção é o baterista, que some completamente no show. Acredito que depois que fiz as fotos, devo ter olhado para ele só umas duas vezes.

O setlist equilibrou bem músicas mais antigas, como Bullion e Leona com algumas mais recentes, como Black Eye. O disco Pennybridge Pioneers foi bem representado, com as ótimas No Cigar, a já citada Fox, The Ballad (onde o vocalista Nikola Sarcevic trocou seu baixo por um violão), Duckpond, Penguins and Polarbears, Pepper e Material Boy (que fechou o show). Faltaram grandes sucessos da banda, como Story of my Life, Move Your Car e uma das minhas preferidas, Killercrush. Aliás, dada a popularidade do disco Life on a Plate, a ausência de músicas desse álbum é bem estranha. Lembra a recusa de bandas como o Helloween ou o Iron Maiden em tocar as músicas que o público quer ouvir.

Apesar da óbvia empolgação da galera, faltou alguma coisa. Aliás, essa “coisa” faltou em praticamente todos os shows de bandas escandinavas que já assisti. De Dimmu Borgir a Nightwish, acredito que as únicas exceções foram o Hammerfall e o Stratovarius. E mesmo esse último só começou a fazer shows realmente bons na recente turnê do Elements. O Millencolin, infelizmente, se encaixa no primeiro grupo.

Outra característica deveras chata nas bandas provenientes dessa região é a duração do show, que dificilmente passa de 1 hora e 20 minutos. No caso específico desse show, acredito que foi um recorde, já que nem a isso chegou. As mais de 20 músicas do show totalizaram 1 hora e 10, contando com os dois (DOIS!) intervalos para o bis.

Os fãs devem ter saído satisfeitos, mas eu ainda mantenho minha opinião de que os escandinavos deveriam aprender com os alemães. Se no primeiro caso, até quando você gosta bastante de uma banda, o show deixa a dever. No segundo, mesmo quando não fazem muito sua cabeça, os shows são sempre divertidos. Vamos torcer para o Millencolin aprender, voltar para o nosso país e, aí sim, fazer um show digno para os brasileiros.

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