Mia Madre

0

Conheci o trabalho do diretor, roteirista e ator italiano Nanni Moretti quando estava na faculdade de cinema, e desde então continuo acompanhando sua carreira. O cara sempre faz bons filmes, seja quando conta histórias mais leves – Caro Diário (1993), Aprile (1998) – ou quando parte para caminhos mais deprês (O Quarto do Filho, de 2001).

Na verdade, seu novo longa, Mia Madre, pode até ser considerado um trabalho irmão de O Quarto do Filho, visto que a temática tem suas similaridades. Desta vez, o diretor nos apresenta a história de Margherita. Porém, ao invés de ser uma pizza, ela é uma diretora de cinema que está rodando seu novo projeto num período bem conturbado de sua vida, visto que sua mãe está doente, internada no hospital, e o prognóstico não parece ser muito animador.

Se O Quarto do Filho tratava da perda súbita de um filho jovem, morto num acidente estúpido, este aqui trata da chegada de uma morte natural, e mesmo com tempo para se preparar mental e espiritualmente, ainda é um processo árduo e bastante doloroso.

O longa trata desse tema pesado com sensibilidade e até de forma mais leve em determinados momentos. Há passagens mais engraçadas, principalmente quando trata do filme que Margherita está dirigindo e quando ela tem de lidar com seu astro internacional sem noção, interpretado pelo John Turturro.

Porém, o negócio é mesmo um drama, e Moretti (que também interpreta o irmão de Margherita) é habilidoso em conduzi-lo com elegância, de forma natural e quase minimalista, sem nunca descambar para o dramalhão exagerado ou para a manipulação fácil dos sentimentos do espectador.

Em suma, tudo que ele já havia feito em O Quarto do Filho com tanta eficácia. No entanto, devo dizer que embora ache o longa de 2001 um baita filme, este aqui, embora também tenha gostado, não está no mesmo nível. Talvez pela principal diferença da morte entre ambas as produções.

O outro filme tratava de uma morte inesperada e seu efeito devastador no resto da família. Era uma temática mais poderosa. Este aqui trata de algo mais natural, previsível, de certa forma. Embora mais relacionável pela maioria das pessoas que já passou por isso com algum parente idoso, é igualmente mais comum.

Para quem gosta de bom cinema, com muito sentimento, filmado de forma elegante e sem afetação, e particularmente de histórias bem deprês, Mia Madre cumpre bem o papel e vale uma sessão. E se você ainda não conhece o trabalho de Nanni Moretti, vale a pena correr atrás de seus outros longas.

REVER GERAL
Nota
Artigo anteriorGarota Sombria Caminha pela Noite
Próximo artigoStar Wars: O Despertar da Força
Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
mia-madrePaís: Itália/França<br> Ano: 2015<br> Gênero: Drama<br> Duração: 106 minutos<br> Roteiro: Nanni Moretti, Francesco Piccolo e Valia Santella<br> Elenco: Nanni Moretti, Margherita Buy, John Turturro e Giulia Lazzarini.<br> Diretor: Nanni Moretti<br> Distribuidor: California Filmes<br>