Ah, o futuro! A iminente crise do petróleo, a falência da segurança pública, a histeria coletiva. E couro. Muito couro. Era assim que George Miller imaginava um futuro próximo em 1979. Ou ao menos esse é o futuro que ele conseguiu transpor para a tela com o modesto orçamento de 650 mil dólares. Mas convenhamos, Mad Max não parece muito preocupado com a verossimilhança de suas previsões.
Max Rockatansky é um policial veterano, pai e marido. Cada vez mais convencido a abandonar o distintivo. Devido a constantes disputas entre a polícia e uma gangue de motociclistas, seu amigo Goose é gravemente ferido, vítima de uma retaliação. A fim de evitar destino semelhante, e de preservar a própria sanidade, Max abandona a profissão, mas um incidente o obriga a voltar à estrada em busca de vingança.
Como o atento delfonauta pode perceber, Mad Max poderia se passar em qualquer outro período de tempo sem grandes modificações. Não por acaso, o filme constantemente pende para um western clássico (com direito a cena na ferrovia e assalto a um caminhão tanque em movimento). A premissa na verdade nada mais é do que um pretexto para exibir os carros modificados em perseguições, batidas e atropelamentos. Não que haja algo de errado nisso. Aliás, muito pelo contrário.
Evitando ser expositivo, o filme deixa previamente sabido apenas que estamos no futuro, todo o background é passado pelo design de produção (o distrito policial sucateado, as placas de trânsito, os carros remendados). A própria crise de combustível é subentendida, explicitada em uma transmissão por rádio que apenas o expectador atento consegue pegar.
Assumidamente cafona, desde a apresentação do protagonista, passando pelas cenas românticas ao som de um saxofone e ao tema do distrito de polícia (apropriadamente chamado Hall of Justice) o filme é tão sem vergonha quanto um álbum do Manowar. O que me faz pensar que o couro deve ser o equivalente futurista à tradição de se besuntar em óleo.
Ditando o tom cartunesco desde o início (nada é mais cartunesco que os olhos pulando das órbitas), Mad Max é bem gráfico em sua violência, o que cria um contraponto interessante quando decide apenas sugeri-la. Na cena mais forte (e também mais importante) do filme, pouco vemos, apesar de saber exatamente o que aconteceu.
E por melhores que sejam a performance séria de Mel Gibson como Max ou do completamente insano Hugh Keays-Byrne, quem rouba a cena mesmo são o Interceptor Ford Falcon XB V8 e a equipe de dublês que facilitam a vida do competente diretor, que precisa apenas rodar as sequencias de ação sem muita firula como as cada vez mais comuns câmeras frenéticas ou cortes epilépticos.
O filme derrapa apenas em seus minutos finais, quando parece se apressar para resolver o inevitável confronto entre Max e os motociclistas. Faltou aquela tensão meio Sergio Leone, o que diminui a catarse. Até que o filme tenta criar tensão numa sequencia que Jogos Mortais repetiria 25 anos depois. Mas realmente faltou colocar Mel Gibson de frente com Hugh Keays-Byrne.
Mad Max é um excelente filme de ação que ficou meio apagado devido a suas continuações (especialmente a segunda). Ganhou uma conotação de filme de origem, mas funciona perfeitamente sozinho. O que falta de inovador em sua estrutura, ele repõe com estilo. E couro! Muito couro!
Curiosidade:
– Até 1998, Mad Max era o filme de melhor custo beneficio, tendo arrecadado 100 milhões de dólares em bilheteria mundial. Em 1999, ele foi ultrapassado por A Bruxa de Blair, cujo custo estimado foi de 60 mil dólares, e arrecadou mais de 248 milhões de dólares em bilheteria mundial.
– Mantenha-se delfonado. Sai amanhã aqui no DELFOS a nossa resenha do novo Mad Max. E antes disso, uma resenha de um game nacional. Adivinha qual?