Tem um ditado muito repetido pela turma do git gud para quem resolve usar mods para alternar a dificuldade dos soulslike: você trapaceou contra si mesmo. Pois se você leu minha análise Lies of P, sabe que eu já peguei no PC pensando em trapacear. E também que joguei de forma legítima antes do lançamento até onde consegui chegar, na intenção de voltar a ele quando os mods estivessem disponíveis. Pois eles estão. E cá estou.

Vou dizer, jogar um soulslike metido a besta como Lies of P com a ajuda do We Mod foi outra coisa. Na real, eu senti que estava trapaceando contra mim mesmo quando me obrigava a jogar essas coisas pelas regras sem sentido criadas pelos desenvolvedores.

LIES OF P: MEU TEMPO, MINHAS REGRAS

Lies of P, Neowiz, Soulslike, Soulsborne, Delfos

Tem muitas coisas que eu odeio em soulslikes, e muitas que amo. Todas elas estão bem registradas em dúzias de textos aqui no DELFOS. Mas Lies of P foi minha primeira experiência com um jogo excelente do gênero (Remnant 2 também joguei com cheats, mas achei muito ruim) em que pude fazer minhas próprias regras, assim maximizando minha diversão.

Claro, tunar um jogo é uma grande responsabilidade, mas já falei por aqui que não gosto dessa tendência de buscar a frustração do jogador, ao invés da diversão. E, claro, eu podia ter quebrado o jogo totalmente, mudando algumas coisas vitais. Mas não fiz isso. Ou, pelo menos, não sinto que fiz. Sinto que joguei Lies of P como os desenvolvedores teriam feito em uma dificuldade fácil, algo que anda em desuso hoje em dia.

COMO JOGUEI LIES OF P

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Logo de cara, assim sem nem pensar, eu desativei o limite de peso. Se tem algo que é um saco em quase qualquer RPG é gastar skill points apenas para poder usar itens melhores ou carregar mais porcaria. Outra coisa que não gosto – e sei que você pode discordar – são os chefes. Em especial no caso de soulslikes. Chefes no gênero costumam ficar longe de checkpoints e serem capazes de matar o jogador rapidinho.

O que deixa irritante para mim é que eles dependem de você decorar seus golpes e aprender a desviar ou contra-atacar. E a única forma de aprender isso é apanhando. Porém, se você morre com dois ou três golpes, e tem que andar dois minutos para tentar aprender de novo (isso quando não tem que ficar matando de novo a primeira fase para “estudar” a segunda), eu logo me sinto perdendo tempo. Literalmente trapaceando contra mim mesmo. Tipo, eu podia estar fazendo qualquer coisa. Podia estar roubando, podia estar matando, mas estou insistindo em uma experiência miserável que envolve andar, andar, andar, levar três porradas, esperar um minuto da tela de carregamento e repetir tudo de novo.

Não, meu amigo. Quando entrava em um chefe em Lies of P imediatamente ligava invulnerabilidade. Eu literalmente não queria nem tentar. Mesmo quando mato um desses chefes de primeira, não me divirto fazendo isso. Sempre fico estressado sabendo que qualquer chefe que apareça pode encerrar meu tempo com o jogo. Ou se eu mato ele e uma cutscene toca fico ainda mais estressado pelo medo de começar uma segunda fase e eu ter que repetir a primeira se morrer. Ficando invulnerável, eu podia simplesmente pular os chefes, absolutamente sem nenhum stress. Se existisse um botão de “pular chefes”, eu provavelmente usaria esta função em quase todos os jogos, mas ficar invencível também é uma boa solução.

AS FASES

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O que eu realmente gosto em soulslikes é de curtir as fases, e explorá-las com calma. Na verdade, acho que nunca aconteceu de eu travar numa fase em um jogo desses, isso sempre acontece com chefes. Mesmo assim, sempre tem algum estresse envolvido, especialmente quando você está longe de uma fogueira e seus estus acabaram.

Eu poderia resolver isso ficando invulnerável, mas ainda queria o combate, que gosto muito. Então a forma de tirar o estresse que eu encontrei foi ativar “itens ilimitados”. Isso valia para minha munição (o que ajudou muito), mas também para meu estus. Dessa forma, os checkpoints distantes não mais me incomodavam. Com estus infinitos, eu conseguia recuperar minha vida entre todos os combates.

HABILIDADE, NÃO RESISTÊNCIA

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O jogo se tornou uma experiência de habilidade, não de resistência. Afinal, qualquer inimigo neste jogo consegue te matar. Eu ainda precisava saber jogar, e aprender o combate, mas conseguia voltar à saúde completa entre as lutas. Isso transformou Lies of P de um survival horror (por causa dos itens super limitados) em um game de ação, como Uncharted ou Gears of War, em que você se cura naturalmente entre combates, ou pode se recuperar durante as lutas com um pouco de cuidado. E eu prefiro assim.

Também ajudou no controle da minha ansiedade eu poder simplesmente apertar algumas teclas para conseguir quanta XP quisesse. Se eu morria quando carregava um monte (uma das coisas mais babacas do gênero), podia recuperar tudo imediatamente com alguns toques de botão. E se sentia que meus golpes estavam ficando fraquinhos, podia subir vários níveis em segundos, sem necessidade de jogar meu valioso tempo fora matando coelhinhos ou gnomos por tardes inteiras como fiz em Elden Ring.

EXPLORAÇÃO E DIVERSÃO

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Com todas essas modificações, a única babaquice que o jogo manteve é que ele não tem pausa, o que aqui é ainda mais imbecil do que em Dark Souls, já que nem existe a possibilidade de jogar online. Porém, se eu podia simplesmente ficar invulnerável quando quisesse fazer um pipizão camarada ou abraçar a minha filha, o peso de não poder pausar ficou menor.

E essa foi exatamente minha experiência com Lies of P e o WeMod. Eu consegui manter tudo que gosto no jogo – que é excelente, como deixei claro no meu review Lies of P – sem o peso de ter que aguentar as decisões babacas que costumam acompanhar o gênero e que me custam muito mais tempo e repetição do que estou disposto a aguentar.

A única mágoa que mantive ao jogar é que precisava fazer isso no PC, e usar modificações criadas por outros jogadores, quando tudo que o WeMod permite poderia estar disponível no próprio jogo para todo mundo, inclusive nos consoles. Mas este não é o mundo que vivemos, então no futuro eu não tenho mais intenção nenhuma de ficar batendo a cabeça em jogos pentelhos nos consoles. Quando sentir cheiro de inacessibilidade, vou direto para o PC, jogar do meu jeito.