Eu estou, sinceramente, preocupado comigo. Nos últimos meses, eu fui obrigado a elogiar uma comédia romântica e um oscarizável (digo “obrigado” porque, se eu gostei deles, o que posso fazer? Mentir para os delfonautas vai contra tudo que o DELFOS representa, para mim e, com certeza, para você também). Embora isso tenha causado um certo estranhamento em minha pessoa e naqueles que me conhecem (como você pode ver pelo comentário que o Rezek fez em um desses textos), nem pensei muito sobre isso, já que achei que esses eram filmes bem superiores ao que os gêneros em questão costumam apresentar.
Aí fui para esse Letra e Música já emburrado, lotado de preconceitos gerados pelo pôster água com açúcar. E daí a projeção começou, com o clipe da música PoP! Goes My Heart, da banda fictícia PoP!, que conta com um Hugh Grant rejuvenescido e com um cabelo anos 80. E, assim como fala na letra da música, meu coração fez pop! O clipe era tão divertido e ri tanto com ele que o filme inteiro já tinha me ganhado. Daí em diante, era só segurar o embalo. E ele segurou.
A história é a seguinte: Hugh Grant (aquele cara que trocou a Elizabeth Hurley por uma prostituta que parecia homem, lembra?) é Alex Fletcher, ex-integrante da banda citada acima, que fez muito sucesso nos anos 80. Só que o sucesso deles ficou por ali mesmo e ele hoje toca em parques de diversões e festinhas de aniversário para pequenos grupos de quarentonas histéricas. Logo, Cora Corman (Haley Bennett, linda demais, pena que seja tão magra, senão até teria uma chance de fazer meu coração fazer “pop!”), cantora que é mais popular que Britney e Christina juntas, chama Alex para compor uma música para seu próximo álbum. É a chance que ele precisava, só que tem menos de uma semana para a missão. O que fazer? Ora, o que todo mundo faria: chamar a mina que rega suas plantas (Drew Barrymore) para escrever a letra enquanto você faz a melodia!
Logo, o futuro casal descobre que tem uma química toda especial e, juntos, acabam sobrepujando momentos difíceis nas suas vidas. Não é fofo? Muito! E fica ainda mais fofo graças a Drew Barrymore, que parece mais carismática e mais bilu-bilu a cada vez que a vejo.
Todas as fórmulas das comédias românticas estão aqui, inclusive, é claro, o musical no final (que faz sentido no contexto da história). Aliás, o principal defeito do filme é justamente essa fórmula, já que os dois, como todo casal do gênero, acabam brigando em determinado momento, só para dar aquela lenga-lenga de “será que eles vão ficar juntos?”, embora todos saibam que eles estão predestinados desde o momento que se encontram pela primeira vez.
Apesar disso, no entanto, o filme tem piadas muito boas, como a cena em que Alex vai jogar Dance Dance Revolution e fica fazendo seus passinhos anos 80 no tapete (você confere uma foto dessa parte aí ao lado). É seguro dizer que eu nunca tinha rido tanto em uma comédia romântica (aliás, acho que eu nunca tinha rido de verdade em uma comédia romântica). Além disso, o processo de composição do casalzinho me trouxe boas lembranças da época em que eu escrevia minhas letras e as musicava com um guitarrista. Tudo bem que nunca fiz nada Pop e nem mesmo uma balada (uma pena, quem sabe um dia não faço uma?), mas ainda assim me identifiquei bastante com a personagem de Drew.
Para completar, Música e Letras tem uma trilha sonora maravilhosa. Simplesmente não dá para não se divertir com as músicas da banda PoP!, embora apenas uma seja apresentada na íntegra. E tirando essas, todas as outras também são muito bem compostas e exploram muito bem (e de forma deveras bem humorada) os clichês dos gêneros a que pertencem. Aliás, a composição de várias delas foi função de Adam Schlesinger, que compôs as músicas de The Wonders – O Sonho Não Acabou, onde ele fez quase a mesma coisa, mas com estilos muito diferentes.
E agora, o delfonauta decide: minha condição é realmente preocupante? Será que devo me internar em uma clínica de desromantização, onde serei submetido a uma terapia intensiva que consiste em ouvir Manowar e assistir a filmes do Schwarzenegger até virar macho de novo e parar de ficar elogiando comédias românticas? Ou será que dessa forma farei mais sucesso entre as delfonautas femininas? 😉
Curiosidades:
– Aí embaixo você confere uma foto da tal Haley Bennet. Diz aí se você não concorda comigo: não é um desperdício que uma mina tão linda seja tão magra?
– Letra e Música também conta com dois atores muito queridos pelos fãs de sitcoms, Brad Garret, o irmão do Raymond (aquele que todo mundo ama) e Kristen Johnston, a Sally de Third Rock From The Sun (que é, na minha opinião, uma das melhores sitcoms da história).
– Tem algumas frases muito boas nesse filme. Uma delas é de uma música da personagem Cora Corman, onde diz que é pelo bumbum que se conquista um homem. Outra, bem mais séria e mais inteligente, diz que a melodia é como a atração física, é o que faz você gostar de uma música à primeira ouvida. Já a letra é a personalidade, é o que faz as pessoas se apaixonarem e que dará durabilidade à música. Uma música só se torna especial quando junta os dois. Legal, não?
– Da próxima vez que o delfonauta for chegar numa chegada que lhe pira o cabeção, sugiro a seguinte xavecada: “Eu disse que eu não ia mais me apaixonar, mas daí eu vi você e meu coração fez pop!”. Depois você conta pra gente se deu certo pra podermos usar também.
– Achou que eu ia deixar você na mão? Clique aqui e confira o divertidíssimo clipe de PoP! Goes My Heart. Por mais headbanger from hell que você seja, eu te desafio a não se divertir com ele e a não rir muito, principalmente das coreografias e da cena no hospital. Mas prepare-se, pois essa é a música mais chiclete que ouvi nos últimos anos e você provavelmente vai ficar com ela na cabeça por dias.
– E já que você vai ficar com a música na cabeça de qualquer jeito, aprenda a cantar. Saca só o refrão: “I said I wasn’t gonna lose my head, but then PoP! goes my heart / I wasn’t gonna fall in love again, but then PoP! goes my heart / And I just can’t let you go, I can’t lose this feeling”.