Lanterna Verde – Renascimento

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Houve um tempo (mais ou menos uns dez anos atrás se não me falha a memória) onde a DC Comics não tinha medo de submeter seus principais personagens a mudanças radicais, seja por questões de marketing (a morte do Super-Homem), renovação de público (a morte de Oliver Queen, o Arqueiro Verde, sendo substituído por seu filho), teste de popularidade (Batman numa cadeira de rodas) ou simplesmente torná-lo popular (Aquaman e sua mão devorada por piranhas).

Algumas dessas mudanças duraram pouco, outras continuaram por um bom tempo. Todas elas polêmicas, atraindo a ira de fãs das antigas e arrebanhando novos leitores. E foi nessa época conturbada que comecei a me aprofundar a sério nos quadrinhos da DC. Para mim, a editora foi muito ousada em pegar seus principais medalhões e virar a vida deles de cabeça para baixo. OK, a morte do Super-Homem foi um tremendo embuste? Claro que sim, mas as histórias de sua volta sem dúvida foram algumas das melhores que o personagem já teve.

Mas a editora me conquistou de vez mesmo ao pegar um dos maiores símbolos de heroísmo destemido e bom-mocismo de seu universo, Hal Jordan, o Lanterna Verde mais famoso de todos, e transformá-lo num megavilão, capaz de destruir o mundo como o conhecíamos.

Antes de falar da minissérie Lanterna Verde – Renascimento, recém publicada pela Panini, cabe um pequeno resumo sobre a passagem de Hal Jordan para o lado negro.

Durante a saga O Retorno do Super-Homem, o alienígena Mongul, a mando do Superciborgue, destruiu completamente Coast City, a cidade natal de Jordan. Desesperado pela perda de todos os seus amigos e familiares, Hal tentou recriar a cidade usando seu anel de poder, mas foi severamente repreendido pelos Guardiões. Possesso, Jordan ruma ao planeta Oa, massacrando toda a tropa dos Lanternas Verdes no caminho e matando seu maior rival, Sinestro.

Chegando em Oa, Jordan absorve todo a energia da bateria central (fonte de poder dos anéis), transformando-se no vilão Parallax. Os Guardiões se sacrificam para que um deles, Ganthet, leve o último anel remanescente à Terra, para que o legado dos Lanternas não acabe. Ganthet entrega o anel ao desenhista freelancer Kyle Rayner, que estava no lugar certo na hora certa, e durante muito tempo ele é o único Lanterna Verde do universo.

Enquanto isso, Hal, como Parallax, tenta recriar o mundo à sua vontade (como visto em Zero Hora), mas é impedido por todos os heróis da DC. Pouco depois, ele encontra a redenção ao morrer depois de reacender o Sol em Noite Final. Hal ganha a chance de redimir seus pecados ao aceitar que seu espírito sirva de hospedeiro para a entidade conhecida como Espectro, representante da vingança divina. E é assim que o encontramos no começo de Renascimento.

Sendo Hal Jordan um dos personagens mais amados da editora, os fãs não gostaram nem um pouco de vê-lo transformado em vilão, e menos ainda de vê-lo como o novo Espectro. Foram anos de reclamações e pedidos para que o trouxessem de volta como Lanterna Verde. E foram anos de injustiça contra Kyle Rayner, seu substituto.

Sinceramente, Kyle é dez vezes mais herói do que Jordan. Ele é uma pessoa normal, que calhou de pôr as mãos na arma mais poderosa do universo. Pense, o que você faria se descolasse um anel desses? Usaria em proveito próprio, claro. Foi o que Kyle fez a princípio. Começou a atuar como Lanterna pela emoção e pelo seu ego, mas logo aprendeu a dura lição de que ser herói não é fácil. Em seus primeiros meses, o novato tomou uma surra de Mongul, sendo salvo pelo Super-Homem e teve sua namorada assassinada e enfiada dentro de sua geladeira pelo Major Força. O garoto teve de crescer, evoluir e virar um dos personagens mais valorosos da editora.

Hal Jordan, aos meus olhos, sempre foi um personagem unidimensional. Ele é bom porque os heróis são bons e pronto. Convencido, auto-confiante e descuidado. Em suma, não tem nenhum apelo para quem se importa não apenas com a fantasia, mas com quem a veste.

Mas voltando ao Renascimento, Geoff Johns encontrou um jeito de trazer Hal de volta com sua moral intacta. Basicamente, ele se utilizou do mesmo artifício usado na odiada Saga do Clone, do Homem-Aranha, de que o que você pensava ser verdade não era bem assim.

Na verdade, Hal não enlouqueceu por causa da destruição de Coast City, mas porque aos poucos foi possuído por uma entidade ancestral chamada Parallax. A criatura se alimenta do medo dos seres vivos, causando o caos. A criatura é uma espécie de contraponto ao poder dos Guardiões, baseado na força de vontade. Assim, o parasita intergaláctico foi aprisionado dentro da bateria central de Oa, e esta é a explicação oficial para a impureza da cor amarela que durante anos afetou os anéis de poder.

Parallax estabeleceu contato com Hal através de seu anel, e aos poucos passou a influenciá-lo. Quando ele entrou na bateria e absorveu toda a energia, a criatura o possuiu de vez. Assim, Hal não foi completamente responsável pelas barbaridades cometidas. Ele estava sob essa influência nefasta. Parallax não era apenas mais um codinome, era uma nova criatura, acomodada dentro do corpo e espírito de Jordan.

Tá, essa explicação faz sentido, mas com certeza vai deixar muita gente brava. Enganar os leitores por anos não é a melhor forma de conduzir as coisas. A explicação para a volta de Sinestro então, dá vontade de jogar a revista longe.

Mesmo com essas escorregadas, Johns é competente o bastante para nos fazer esquecer destes detalhes e curtir uma história cheia de ritmo, ação e surpresas, que consegue amarrar todas as pontas soltas, deixando o personagem Hal Jordan no ponto para uma série infindável de novas histórias.

De quebra, ainda traz Guy Gardner (personagem que andava sem rumo desde Zero Hora) de volta como um Lanterna e não se esquece de Kyle Rayner (que também tem uma boa base de fãs, incluindo eu, caso ainda não tenha percebido), dando-lhe um papel de extrema importância na trama.

Agora, mesmo que você não goste de Hal e não fique muito feliz com as explicações de Johns, a arte compensa tudo isso. Ethan Van Sciver é simplesmente espetacular. Seus desenhos ultra-detalhistas fazem o leitor parar de ler por alguns minutos, só para ficar contemplando a beleza das páginas. Suas escolhas de ângulos e as expressões faciais dos personagens são muito bem trabalhadas. E repare também como ele quase sempre mostra o Batman apenas como uma silhueta. A excelente colorização, onde predominam os tons de verde (e que outra cor seria?), e a escolha da publicação em papel especial, só ajudam a ressaltar a bela arte.

Hal Jordan está pronto para reassumir o posto de maior Lanterna Verde do universo, o ue me deixa bem triste. Mas Kyle Rayner não será esquecido, o que me deixa muito feliz. Após o evento Crise Infinita, o herói ganhará título próprio nos EUA, voltando a assumir o codinome de Íon, que ele já havia adotado durante algumas edições da revista Green Lantern.

Lanterna Verde – Renascimento com certeza vai deixar os leitores das antigas felizes da vida. É também um trabalho fundamental para todos os fãs da DC em geral. E se você não se encaixa em nenhuma dessas categorias, com certeza a arte tem o potencial para fisgá-lo também. Este renascimento vale a pena.

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REVER GERAL
Nota
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Alfredo De la Mancha
Alfredo é um dragão nerd que sonha em mostrar para todos que dragões vermelhos também podem ser gente boa. Tentou entrar no DELFOS como colunista, mas quando tinha um de seus textos rejeitados, soltava fogo no escritório inteiro, causando grandes prejuízos. Resolveu, então, aproveitar sua aparência fofinha para se tornar o mascote oficial do site.
lanterna-verde-renascimentoPaís: EUA<br> Ano: 2005/2006<br> Autor: Geoff Johns e Ethan Van Sciver.<br> Editora: Panini<br>