Expectativa é uma coisa engraçada. Quando este disco chegou aqui na redação, a última coisa que eu pensei sobre ele foi que seria um álbum cheio de teclados harmoniosos, um dos meus elementos musicais favoritos. Mas eis que eu coloco a bolacha para tocar e a primeira coisa que ouço é uma harmonia sintetizada, algo que se repetiria pelo disco inteiro. Às vezes estar errado é muito legal, né?
Rocks é o segundo disco do Kappa Crucis, banda formada em meados dos anos 90 na montanhosa cidade de Apiaí, no sul de São Paulo, e que ganhou certo destaque no cenário underground paulista.
Totalmente inspirado por bandas dos anos 70, em especial Deep Purple, Lynyrd Skynyrd e Jethro Tull, o Kappa Crucis faz um trabalho divertido, variado e quase dançante, que provavelmente vai agradar tanto ao jovem que está se iniciando no mundo das guitarras distorcidas quanto ao tiozão que andava por aí cheio de fitas cassete do Rush na caranga envenenada de sua juventude.
O disco é bastante elaborado, mas soa humilde, do mesmo jeito que as bandas setentistas. A guitarra “Blackmoresca” flerta bastante com o progressivo, mas não possui aquela pomposidade típica dos guitarristas virtuosos. Os teclados dão todo um ar de grandiosidade às músicas, mas sem fazer solos ou tentar substituir uma orquestra. A bateria e o baixo também são bons, mas não se sobressaem tanto quanto os outros dois instrumentos.
O vocal, feito pelo guitarrista G. Fischer, não apresenta grandes alternações, mas é bem executado. Mas o mais legal são os backing vocals. Feitos pelos demais integrantes, casam muito bem com a voz principal e me fazem cantarolar junto com eles. Eu adoro backing vocals que me fazem cantarolar. Você não?
Uma coisa que eu gostei bastante é que cada vez que eu escuto Rocks, acabo descobrindo um solo aqui, um riff ali, uma parte muito legal de uma música que eu não havia prestado atenção antes, tornando cada ouvida uma experiência diferente e pouco enjoativa. Apesar de toda a aura setentista, a produção é bem moderna e caprichada. Nem parece um disco independente.
As músicas que mais gostei foram a abertura What Comes Down, Strange Soul e o encerramento The Braves and the Fools, que têm os refrãos mais grudentos do disco. Mas eu creio que se você ouvir o disco todo, provavelmente vai ter uma opinião diferente da minha.
A meu ver, Rocks é um disco bastante completo, com elementos que transporta a gente para as raízes do metal e até nos dá vontade de balançar o esqueleto. Eu recomendo o disco para qualquer fã de rock e metal, especialmente se você for um quarentão que nunca deixou a chama morrer e ainda ouve seus discos do Jethro Tull com frequência.
CURIOSIDADES:
– O primeiro álbum do Kappa Crucis se chama Jewel Box e também foi resenhado pelo DELFOS.
– O Word em português não reconhece as palavras “deep” e “purple”, que são substantivos comuns e cotidianos, mas reconhece “Jethro Tull”. Vai entender.