Como fã confesso do cinema argentino, já estava com saudades de conferir uma nova produção vinda de tal país, visto que a última a que assisti, Família Rodante, estreou ano passado. A espera valeu a pena, pois Herencia é tão bom quanto as outras produções de nossos vizinhos.
Neste drama, acompanhamos a história de dois estrangeiros. Olinda é italiana, daquelas de temperamento explosivo, mas vive em Buenos Aires há muito tempo. Tanto que se considera argentina de coração. Ela possui um pequeno restaurante de comida caseira e reluta contra a idéia de vender seu tradicional estabelecimento.
Já o jovem alemão Peter acaba de chegar ao país com o objetivo de encontrar uma garota que nunca conseguiu esquecer. No entanto, todo o seu dinheiro é roubado. Sem conhecer ninguém na cidade, acaba pedindo ajuda a Olinda, que conhecera no dia anterior.
A princípio relutante, Olinda acolhe Peter até que ele consiga localizar a tal garota. Mas, com o tempo, ela passa a tratá-lo como um filho e Peter também começa a desenvolver um forte afeto pela cidade.
O filme trata de questões interessantes, como por exemplo: às vezes nosso local de origem não necessariamente é aquele de que mais gostamos. Não é incomum alguém pensar que nasceu no lugar errado e se sentir bem mais à vontade em outra cidade, ou até mesmo em outro país, como nesse caso.
Também mostra que a barreira da língua pode ser facilmente suplantada, desde que haja vontade para isso. A princípio, o espanhol de Peter é bem mais ou menos, mas a partir da convivência com Olinda e a clientela do restaurante, ele não apenas vai aperfeiçoando o idioma, como também descobre um povo mais acolhedor que o seu próprio. E se eventualmente a comunicação falada falha, a gesticulação é uma linguagem universal. Quem já foi a outro país sem dominar a língua do lugar deve saber do que estou falando.
No mais, o filme tem um jeitão de novela. E não digo isso no sentido pejorativo. Tal qual um folhetim televisivo, parece que você conhece os personagens há muito mais tempo, e a história não é nada de extraordinária, mas ainda assim cativante e mostra como a banalidade pode ser tão boa quanto qualquer trama com algum elemento fantástico ou grandioso.
Minha única dúvida é essa: por que o filme demorou tanto a chegar por aqui (a produção é de 2001)? Seria por medo de que a rivalidade entre Brasil e Argentina fizesse com que o público torcesse o nariz para uma produção dos hermanos?
Especulações à parte, Herencia é um bom drama, muito agradável de se assistir e mais um ótimo exemplar da cinematografia argentina. A todos os apreciadores de um bem construído drama e de uma produção fora do esquemão blockbuster hollywoodiano, este filme está mais que recomendado.