Habana Blues

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Hora de historinha: quando recebi o convite para este filme, já fiquei interessado por imaginar tratar-se de um filme sobre Blues na linha do tremendão Encruzilhada (aquele que tem um duelo de guitarra entre o Karate Kid e o Steve Vai). Como a vida de editor não é fácil, contudo, tive que repassar o convite para o meu xará cujo sobrenome é Cyrino, mais conhecido como “O Outro Carlos”, que gosta bastante de filmes sobre música. Pô, o cara adorou até 2 Filhos de Francisco, que nem trata de um estilo de música que o agrada. Infelizmente, nosso amiguinho também estava muito ocupado preparando textos para diversos especiais que vão levar os delfonautas ao delírio, então eu tive que assumir a responsabilidade.

Chegando ao cinema, sentei-me confortavelmente e, enquanto esperava a sessão começar, abri o release para ter uma idéia mais concreta do que me esperava. Embora não existisse nenhuma informação sobre isso, tudo indicava que era um filme cubano. Uh-oh. Ok, admito que nesses quase dois anos em que assisti a muitos filmes que normalmente não assistiria, perdi um pouco o preconceito contra obras não-estadunidenses. Mas não adianta, o me realmente me toca é mesmo o bom cinemão fantasioso norte-americano. E nem é preconceito, é apenas uma questão de gosto. O dia em que assistir a um filme francês que me toque tanto quanto um Star Wars ou um Homem-Aranha, serei o primeiro a admitir. Por enquanto, contudo, isso não aconteceu.

Depois disso, ainda viriam outras decepções. O primeiro D’oh veio quando li no release o seguinte trecho: “Dois músicos cubanos recebem a oferta para assinar contrato com uma gravadora, sob a condição de irem para a Espanha. Os dois, então, ficam diante de um dilema: serão capazes de deixar para trás aqueles que amam e perseguir o sonho que pode significar o comprometimento de sua integridade musical?”.

Admita, meu amigo, ao ler isso, você também deve ter pronunciado um sonoro D’oh, não é? Pois é, é a velha fórmula: “O sucesso não vale os sacrifícios, então fica na sua vidinha podre e deixa o sucesso para aqueles que sabem lidar com ele”. Exatamente a mesma linha que estragou um filme que tinha tudo para ser tremendão, o Rock Star.

Pois os D’oh não parariam por aí. Na página seguinte viria uma classificação que criaria uma seqüência de D’oh comparável aos piores ataques de soluços que você já viu: “Habana Blues é uma comédia romântica”. D’oh! Sim, delfonauta, caso você ainda não tenha percebido em outros textos meus, comédia romântica (D’oh!) é, possivelmente, o único gênero cinematográfico que eu realmente não suporto. Felizmente, o release desse filme é um mentiroso, pois Habana Blues é um drama. E dos bons. Na verdade, tem tão pouco Blues no filme que acho que o Blues do nome se refere mais a “Tristeza de Havana” do que a “Blues de Havana”, como pensei inicialmente.

Pausa: nas últimas duas semanas, devo ter assistido a uns três filmes que se classificavam como comédia e que, na verdade, eram dramas. Por que será que as distribuidoras estão mentindo tanto sobre os gêneros de seus filmes?

Despausa: o primeiro D’oh, contudo, tinha alguma razão de ser, pois aquelas quatro linhas transcritas do release três parágrafos atrás permitem que um cinéfilo dedicado adivinhe tudo o que vai acontecer durante o filme. Mas, ao contrário do que aconteceu com Rock Star, não se rende a clichês que desmoralizam todo o trabalho. É previsível, mas é bom, sabe?

E a trilha sonora, por si, já vale o ingresso. Acho que desde Star Wars III (tudo bem que aí já é covardia, afinal, John Williams é John Williams), não via uma trilha que me agradasse tanto quanto essa. Apesar de o filme acontecer inteiro em Cuba, não espere ouvir aquelas coisas latinas, tipo Ricky Martin ou Shakira. Isso, contudo, não significa que não se trata de uma trilha eclética. Temos de baladas românticas a Reggaes sexuais e Raps, mas a trilha é focada mesmo no bom e velho Rock, passando por seus vários estilos, desde o mais pesado do Metal até aquele Rock’n’Roll deveras divertido e bem-humorado. Mesmo com todo esse ecletismo, todas as músicas e eu realmente digo TODAS, me agradaram. E músicas não faltam, já que, embora não se trate de um musical, daqueles que as pessoas começam a cantar do nada e a cidade inteira acompanha com uma coreografia assaz complicada, o pessoal do filme está a toda hora com um violão, pronto para jams. E faz sentido, afinal, todos os personagens principais são pessoas que respiram música.

Mas e aí, os D’oh foram justificados? Não. Habana Blues detona. Se você tem um mínimo de ecletismo musical e consegue relevar a previsibilidade da história, pode assistir sem medo. E eu fico até feliz de o Cyrino estar ocupado, o que permitiu que eu fosse assistir a esse filmão. 😉

Quer mais filmes sobre música? Então toma!

Escola de Rock
Cazuza – O Tempo não Pára
This is Spinal Tap
De-Lovely – A Vida e os Amores de Cole Porter

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
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