God of War para meninas

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A primeira vez que eu vi God of War na vida foi na casa de uma amiga que morava com mais dois meninos. Um deles tinha um PS2 e jogava noite e dia o bendito jogo. Até que um dia eu me aproximei da televisão – curiosa com os gritos do personagem – e vi aquele homenzarrão semi-nu, de voz grossa, careca, com uma espada em cada mão, dilacerando corpos, fazendo espirrar sangue para tudo que é lado e (o mais impressionante de tudo) com a missão inacreditável de dominar o Olimpo!

Eu friso mesmo, porque essa onda de idolatrar a mitologia grega é nova. Quer dizer, a mitologia grega é velha pra dedéu, mas só agora os espertinhos donos de estúdios cinematográficos milionários e empresas de videogames se deram conta de que a Grécia Antiga não é só um amontoado de ruínas e deuses caducos: ela é extremamente rentável!

Claro que existem no mercado lixos tão absurdamente inúteis quanto a saga de Percy Jackson no cinema (passo longe dos livros, obrigada, ainda estou na onda-que-não-terminou de Harry Potter). Mesmo assim, qual não foi a minha surpresa quando anunciaram o remake de Fúria de Titãs (o original é de 1981), um filme sobre a história de Perseu, um dos maiores heróis gregos! Tá, tá, eu sei, o filme é bem mais ou menos. Mas o que vale é a intenção, certo?

Mas quando se fala de God of War, a coisa complica. Tem gente que nem acha o jogo assim tão impressionante. Sinceramente, não conheço uma única pessoa que tenha jogado os dois primeiros jogos e não tenha achado incrível – seja pela história, seja pelo visual, ou até pela jogabilidade. Mas aí vem a dúvida: por que mulheres não gostam de God of War? Só porque é violento?

Todo mundo assiste Tropa de Elite no cinema e acha lindo. Agora, quando se fala de videogame, as mesmas pessoas acham que a violência não deveria ser incitada nas crianças. Ah, qualé? Quer coisa mais prazerosa do que ter um monstrengo parado na sua frente (quer dizer, na frente do gos… er, digo, do Kratos) babando e você mostrar para ele uma morte dolorosa e vingativa?

Estou soando muito sádica? Bem, não importa. É verdade que God of War, além de ter visual, história, jogabilidade e profundidade, é libertador – para meninos E meninas! Mal sabem as mulheres o que perdem quando falam “ai que horror, que violência!”, ao invés de sentar a espada (no bom sentido, gente!) em um dos principais deuses do Olimpo – que, afinal, bem que estava merecendo levar umas porradas há uns bons milênios. Isso é um preconceito infundado. Se as meninas jogassem mais, até poderiam escolher uma roupa mais bonitinha para o Kratos, e até lutar com caixinhas de leite, como na imagem ao lado. Fofo, né?

A primeira coisa que meu coração fez quando anunciaram o lançamento de God of War III foi dar uma cambalhota dentro do peito e gritar tão alto que eu mesma quase ensurdeci: EU QUERO UM PLAYSTATION 3! Infelizmente, a grana é curta para todas as vontades de uma mulher (é, roupas, sapatos e maquiagens vêm mesmo antes) e eu fiquei com água na boca por quase um ano.

Sim, porque há pouco tempo eu pude matar toda a vontade reprimida e me comprazer durante cinco horas seguidas sentada em frente à TV, boquiaberta, conduzindo Kratos para vitórias consecutivas sobre não um, mas TODOS os deuses do Olimpo – os que ele ainda havia deixado vivos, claro.

Óbvio que o novo jogo reúne todas as técnicas dos dois primeiros, e com isso se torna muito, muito mais violento. Para as que já se horrorizaram, eu garanto que o sangue parece bem fake – nada comparado aos atos de Call of Duty, por exemplo. O que as meninas precisam entender, de uma vez por todas, é que não existe gratuidade da violência no caso de God of War. Está tudo muito bem inserido em um contexto para lá de verossímil.

Tá, eu explico: quem conhece um mínimo de mitologia grega sabe que a história relata atos violentos desde os tempos mais primórdios. Todos os heróis cometiam barbaridades e até mesmo o mais puritano dos filósofos não deixou esse detalhe escapar.

Hércules, por exemplo, dilacerou monstros e feras consecutivamente em seus doze trabalhos; Perseu arrancou fora a cabeça da Medusa e saiu carregando tal qual a mais útil das bolsas (já pensou poder petrificar qualquer sujeitinho que vem dar uma cantada sem graça?); Teseu foi atrás do Minotauro e fatiou o bicho de cima a baixo. Isso sem contar nas histórias horripilantes de incestos entre muitas gerações familiares, tanto de homens quanto de deuses. Também não podemos esquecer que estes mesmos deuses se misturavam a mortais com frequência usando métodos, digamos, nada polidos: sequestros, estupros, transfigurações, etc.

Então, repito a pergunta: por que diabos as mulheres não gostam de God of War, mas parecem idolatrar a Mitologia Grega? Não faz sentido, é claro. Isso está mais para um caso de Chapolin Colorado do que para esse texto. Por isso, não vou tentar explicar os porquês social-antropológicos (blergh) que cercam o assunto. Vou, simplesmente, convencê-las a jogar e pronto.

Meninas, imaginem o seguinte: você está no trabalho, de saco cheio do seu chefe mala e da galera te importunando com coisas que você não está a fim de fazer, só pensando que precisa de mais dinheiro para comprar um batom da MAC incrível que você viu em promoção em um site gringo. Mas você também sabe que dinheiro não nasce em árvore, e ai, Deus, como os batons da MAC são caros! Aliviada de sair na hora e sem trabalho extra, você chega em casa e encontra seus pais de cara amarrada um com o outro – normal, gente, briga de casal acontece até nas melhores famílias.

O que você faz?

Primeiro, come um pedaço do chocolate mais gordo que estiver ao seu alcance. Claro. Depois, fecha a porta do seu quarto, senta-se confortavelmente em frente à televisão e liga o Playstation! É claro que você poderia ir para a academia malhar até seu cérebro ficar tão duro quantos os músculos. Mas não se esqueça que você também corre o risco de encontrar aquele cara maravilhoso que você paga um pau com uma loira oxigenada magérrima ou se olhar no espelho e tristemente lembrar que você deveria ir na academia todos os dias, e não só quando se estressa.

Gente, eu não estou de brincadeira. Nada nesse mundo vai relaxar mais do que esquecer da sua própria vida por algumas horas e mergulhar nos problemas de gente que não existe. Banho de banheira com espumas, fingir que não percebeu o mau-humor dos seus pais, ligar para a amiga e muito menos para o namorado vão esvaziar a cabeça de uma menina na TPM.

Agora, sentar a porrada em uma dezena de bichos insuportáveis que vêm atazanar seu caminho e fazem questão de te impedir de recuperar seu passado e ficar em paz com sua própria consciência… não tem preço! A sensação de regojizo quando você finalmente consegue derrotar aquela meia dúzia de Cérberos insuportáveis que não param de crescer e te matar seguidas vezes é inexplicável! A ideia é te transportar para um mundo no qual você é o humano mais poderoso, o mais temido, e nada nem ninguém pode te impedir de alcançar seus objetivos é muito bem orquestrada no nosso inconsciente.

Por isso, o papinho furado de que uma criança pode ser mais mal influenciada por um jogo do que pelo que ela ouve todos os dias nos noticiários ou por filmes que ela assiste clandestinamente é nada mais que isso: papo furado. Os pais não têm como esconder a realidade dos filhos, e coibir uma criança de jogar videogame é uma medida arbitrária.

As meninas tampouco devem se sentir inibidas de gostar de jogos cheios de testosterona e violência. Isso não significa que as mulheres que o fazem vão sair dando porrada em todo mundo, tratando a todos como se fossem guerreiras da Idade Média. O videogame é um jogo como qualquer outro e tão terapêutico quanto um bom livro. E God of War, mais do que muitos outros jogos, é lúdico. Além de divertir e relaxar, ensina – nem que seja um pouquinho.

Se aliando ao videogame, você tem vantagens que jamais sonhou. Já imaginou a cara dos seus amigos quando eles começarem a falar de Red Dead Redemption e você lançar na roda que descobriu um jeito inédito de embriagar o personagem até fazê-lo desmaiar ou de matar um inimigo após amarrá-lo às costas de um cavalo? Você pode até conquistar aquele nerd fofo da sua faculdade falando sobre o novo Metal Gear… pense nisso! 😉