Gamma Ray e Helloween em São Paulo (20/4/2008)

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Esse era o show dos sonhos de muita gente por aí, já que nele teríamos a chance de ver uma das melhores duplas de guitarristas da história (Kai Hansen e Michael Weikath) tocando novamente juntos clássicos que foram gravados há 20 anos, nos maravilhosos Keepers of the Seven Keys.

Às 20 horas em ponto, as luzes se apagam e, depois de uma boa enrolação, finalmente começa a tocar a introdução Welcome. O Gamma Ray então sobe ao palco com Into The Storm, faixa de abertura do ótimo Land of the Free II. A primeira coisa que eu reparei foi que o simpático guitarrista narigudo Henjo Richter (que parece o Coringa, pois não pára de sorrir em nenhum momento) estava usando óculos. E não é normal vermos um músico de Metal usando óculos nos shows.

Infelizmente, a empolgação de estar ali no chiqueirinho fotografando minha banda preferida logo deu lugar a um grande trauma, a uma experiência de quase morte (aliás, é por isso que você só vê umas poucas fotos do Gamma Ray ilustrando esta matéria, foram todas tiradas durante a primeira música – segundo a assessora de imprensa, curiosamente, a jam das duas bandas não poderia ser fotografada, o que talvez já demonstre que eles previam uma falha forte na segurança). Como sei que falar sobre isso vai gerar um texto imenso e um grande debate, dedicarei uma missiva inteira exclusivamente a isso. Volte amanhã para lê-la ou, se estiver atrasado, clique aqui. Aliás, isso que aconteceu teve um baque tão pesado em mim que eu nem consegui mais curtir o restante do show e estou no momento considerando seriamente extinguir a seção de música do DELFOS. Mas amanhã falamos sobre isso. Por enquanto, digo que fiz o possível para não deixar isso afetar a nota do show.

A segunda música foi Heaven Can Wait, uma das minhas preferidas e que nem consegui assistir, graças ao que aconteceu. Temendo pela minha vida, durante ela eu saí do chiqueirinho e não voltaria mais durante essa noite. Outra das que mais gosto, New World Order, veio a seguir. Aliás, é assim que se abre um show, hein? Por Satã, é difícil pensar em uma trinca de músicas melhores para a tarefa.

A divertida Fight, do Majestic, continuou o set, seguida da mediana Empress, do segundo Land of the Free. Valley of the Kings contou com um dueto interessante, onde Kai Hansen e o baixista Dirk Schlächter dividiram o mesmo microfone.

Depois veio um pedaço da Rebellion in Dreamland (ou seja, não foi tocada inteira), emendada ao “cover” de Manowar, Heavy Metal Universe. Esta teve uma paradinha, onde Kai Hansen apareceu com um bonezinho semelhante aos do Rob Halford e tocaram o riff principal de You’ve Got Another Thing Comin’. Depois rolou a tradicional brincadeira com a platéia, onde um dos lados cantava Heavy, o outro Metal e depois os dois juntos Universe. Bem divertido.

Então os caras mandam uma versão metalizada de Hall of the Mountain King, de Grieg, música que é comumente relacionada ao Helloween. E não deu outra, a que veio foi justamente a velhona Ride the Sky, que levou muita gente da platéia ao delírio.

Somewhere Out In Space, uma das mais legais da banda, foi “estragada” por um trecho lento e improvisado que durou um tanto demais – e foi nesse clima morno que a banda decidiu sair do palco para a primeira enrolação… quer dizer, pausa para o bis. O bis veio com a comercial e revigorante Send Me A Sign. Todo mundo gosta dessa música, logo, todo mundo a cantou.

Eram pouco mais de 21 horas e o show do Gamma Ray chegava ao fim, após apenas 70 minutos. O setlist anteriormente divulgado estava maior e mais legal, com faixas como Land of the Free, Real World e The Silence, belíssima balada que, se não me falha a memória, nunca foi tocada em São Paulo. Na minha opinião, foi o show mais fraco que os caras já fizeram por aqui, mas posso estar sendo influenciado pelo que aconteceu na primeira música.

É hora do intervalo e os funcionários da casa decidem usar esse tempo para tentar evitar que a tragédia que se anunciava realmente acontecesse. Foram agradecidos por xingamentos do público retardado que lotava o Credicard Hall. Mas falamos mais sobre isso amanhã.

Por volta das 21:45, começa a tocar For Those About To Rock, do AC/DC, que o Helloween está usando como a primeira introdução para seus shows. Como uma introdução de uns cinco minutos não parece ser o suficiente para os caras, eles ainda sentiram a necessidade de acrescentar mais DUAS músicas aí: Walls of Jericho e Crack the Riddle.

Finalmente, quando o público já estava quase dormindo com tanta enrolação, a banda entra com Halloween, música que eu sonhava em ver ao vivo desde que era um reles pimpolho de 16 primaveras, mas admito que ela não é uma boa escolha para abrir um set.

A seguir vieram Sole Survivor e March of Time, e essa dobradinha sinceramente me tirou lágrimas. E acredito que fazia muito, muito tempo que nenhuma música em um show me emocionava. Mas também, o Master of the Rings foi meu primeiro disco de Metal e hoje em dia eu gosto até mais dele do que dos Keepers. Já March of Time acho uma letra maravilhosa, com uma mensagem positiva muito legal. É uma pena que os imbecis que vão a esse tipo de show hoje em dia aprendem inglês só para berrar as letras e não estão nem aí para o que as bandas realmente querem passar.

O plágio do Scorpions, As Long as I Fall, foi a próxima e até me espantei com quão bem funciona o refrão dela ao vivo. Hora da balada, com A Tale That Wasn’t Right. Seria legal se variassem um pouco e colocassem a In The Middle of a Heartbeat que, aliás, é bem mais legal.

Depois de um começo forte como esse, nada melhor do que um solo de bateria para esfriar todo mundo e começar a deixar o público entediado. E foi exatamente isso que aconteceu.

King for 1000 Years foi a próxima, mas segundo o vocalista Andi Deris, ela foi diminuída para oito minutos ao invés dos 14 completos, pois eles queriam incluir uma faixa do Keeper II, no caso, o maior sucesso da banda, Eagle Fly Free. Sei, como se fosse permitido ao Helloween fazer um show sem Eagle Fly Free. Para que contar esse tipo de mentira, senhor Dedé Deris?

Durante essa música, e durante várias outras, uma vadia (sempre a mesma, é incrível que nesse show tenha tido apenas uma), subiu nos ombros do eunuco que a levou no show. Ao invés de fazer como qualquer mulher que se preze quando quer chamar a atenção de um rock star, a desgraçada não mostrou os peitos, mas colocou uma cartola, o que a fazia tampar praticamente o palco inteiro para os cidadãos que estavam atrás dela. Um monte de gente ficou atirando garrafas d’água na desgraçada, mas aparentemente a mira dos metaleiros não é lá muito boa, pois não vi acertarem nenhuma.

O que seria legal é que alguém tivesse alguma coisa mais pesada e uma boa mira para acertar na mão que estava ostentando a câmera digital. Cara, se alguém conseguisse fazer a vadia derrubar a câmera que, conseqüentemente, quebraria ao cair no chão, acho que eu teria um prazer que normalmente é reservado apenas a combinações envolvendo mulheres e alimentos. E duvido que ela voltasse a querer atrapalhar os outros outra vez na porcaria inútil que ela chama de vida.

Quando a mutantezinha desceu e parecia que as coisas iam melhorar, emendaram a pentelhuda The Bells of the 7 Hells, a pior música do Gambling With The Devil e uma das piores da carreira da banda. Aliás, essa faixa é tão ruim que acho que eu até preferia um solo de baixo no lugar.

Aproveitando, alguém pode me explicar por que o Helloween demonstra tanta falta de noção ao escolher as músicas que vão tocar de cada disco? Eles NUNCA escolhem as melhores. No caso do Gambling With The Devil, eu até gosto mais da Can do It, mas é quase unânime que a preferida da turma é The Saints, então por que não tocar essa?

Lembro-me da turnê do Dark Ride, onde, mesmo o disco tendo músicas tremendonas, como All Over The Nations e We Damn the Night, eles tocaram todas aquelas porcarias que ninguém gosta, tipo Escalation 666 e Immortal. Enfim, vai entender. E já que falamos no Dark Ride, era hora da balada desse disco marcar presença e mandaram If I Could Fly.

“Vocês parecem doentes”, exclamou Dedé Deris, que continou dizendo que talvez fosse hora de chamar um médico. O médico em questão era Dr. Stein, que foi a próxima música a ser tocada, e encerrou a primeira parte do show, às 23 horas.

Algum tempo depois, eles voltam tocando os acordes iniciais da divertida Perfect Gentleman. Nosso amigo Dedé volta com um paletó lustroso e vermelho e uma cartola, fazendo alusão ao personagem da música. Era o início de um grande medley, cheio de músicas legais. Seguiram I Can, a linda Where The Rain Grows, voltaram para Perfect Gentleman, agora cantando a primeira estrofe e depois mantendo a melodia enquanto apresentavam a banda e Deris conclamava os paulistanos cantando “Yes, you are” e a turminha respondia “perfect”. O medley continua com o grande sucesso Power (isso lá é música para colocar em medley?) e com o finalzinho de Keeper of the Seven Keys.

Eu até entendo a necessidade de se fazer medleys quando se tem mais músicas legais do que se pode tocar em um show. O que não entendo é porque todas as bandas sempre escolhem algumas das suas músicas mais legais para tocar só um pedacinho. Por que não fazer um medley com coisas como King For 1000 Years, por exemplo? Pelo menos Power, Where the Rain Grows e Perfect Gentleman mereciam ser tocadas na íntegra.

23:25. Mais enrolação. Passada a enrolação, eles voltam e tocam Future World e I Want Out com a turminha do Gamma Ray, com a exceção do batera Dan Zimmerman. Nessas duas, Kai e Andi se alternam no vocal. 23:40 e o show termina de vez. Os headbangers assassinos deixam o local ao som da baladinha chata Fallen to Pieces.

É curioso notar como os shows do Helloween melhoraram após a saída de Roland Grapow e Uli Kusch. Dá até para especularmos que eles é que se recusavam a tocar as músicas realmente legais do passado da banda. Hoje, a cada turnê, os caras resgatam novas músicas que não eram tocadas há muito tempo e, como resultado, os concertos ficam cada vez melhores. Inclusive, no caso deste show, foi até melhor do que o do Gamma Ray, o que acho que ninguém esperava.

Do set previamente divulgado, o Helloween excluiu We Burn, Paint a New World e uma brincadeira com a Smoke on the Water que seria feita no solo de bateria. Muito provavelmente, isso aconteceu graças à falta de segurança causada pela imbecilidade do público e pela falta de cuidado da organização do show. Mas isso é assunto para amanhã. Até lá!

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
gamma-ray-e-helloween-em-sao-paulo-2042008Data: 20 de abril de 2008<br> Local: Credicard Hall<br> Cidade: São Paulo<br> Credito do Artigo: carlos@delfos.jor.br<br> Credito da Foto: Carlos Eduardo Corrales<br>