Para um jogo tão absurdamente importante, é incrível como o que veio depois de Flashback (1992) é ruim. Em 1995 ele ganhou uma continuação chamada Fade To Black, que eu nunca joguei, mas que foi um fracasso tão grande que 30 anos depois estamos aqui com um outro Flashback 2. Além disso, em 2013 tivemos um remake do jogo original que foi igualmente muito mal avaliado (este eu joguei!).

E agora estamos aqui com uma continuação oficial do original, mantendo gênero, personagens e continuando diretamente a história. Mas ela simplesmente não funciona. E olha que eu joguei na semana seguinte ao lançamento, depois de uma grande quantidade de patches.

FLASHBACK 2 E A DOR DO CORAÇÃO PARTIDO

Flashback 2, Paul Cuisset, Microids, Delfos

A coisa já começou mal, literalmente no meu primeiro minuto com o jogo. Flashback 2 começa com Conrad machucado e o objetivo de se curar. Sem nada para fazer, andei para a direita e encontrei um murinho, com o tutorial de apertar X para pular. Mas o X não funcionava. Simplesmente não tinha nada que pudesse ser feito. Resolvi reiniciar, e daí, antes do murinho, apareceu um medkit, que poderia ser usado para me curar e restaurar minha movimentação – inclusive o pulo. Achei que o pior já tinha passado, mas estava apenas começando.

Além dos autosaves, que são bem raros, você pode salvar em terminais. Porém, cada terminal só pode ser usado uma vez. Tipo, durante o jogo todo. Ele até volta a se acender depois de um tempo, e aparece o prompt de quadrado para salvar, mas apertar o botão apenas apaga a tela, sem salvar o jogo.

PRECISO PARAR PARA ALMOÇAR

Flashback 2, Paul Cuisset, Microids, Delfos

A primeira missão do jogo envolve juntar 1000 créditos para comprar um mech. Para isso, você precisa fazer alguns trabalhos. Eu comecei a fazer, mas mais de 20 minutos se passaram sem autosaves ou novos terminais. Dois trabalhos depois, quando finalmente encontrei um terminal, estava no meio do combate. Mas já estava ficando meio desesperado, com a família insistindo para eu parar de jogar e ir almoçar. Salvei antes de vencer todos os inimigos. Quando voltei, minha arma não funcionava mais, mas os inimigos restantes ainda estavam lá, e me matavam. Precisei restaurar o save anterior, dois trabalhos inteiros atrás.

O próximo trabalho envolvia entrar em um laboratório para salvar uma menina.

SALVE A MENINA, SALVE O MUNDO

Flashback 2, Paul Cuisset, Microids, Delfos

Durante a missão, o minigame de hackeamento, que é chato para burro e difícil de enxergar o que fazer, travou. O jogo não travou, mas eu simplesmente não conseguia sair do minigame para continuar. Recarreguei o save e fiz todo o trabalho de novo. O hack funcionou, peguei o ursinho e a menina começou a lentamente me seguir.

Pelo que posso perceber, precisava apenas subir dois elevadores com ela e sair do laboratório. Esperei ela chegar ao primeiro e apertei o botão. O elevador e eu subimos. A menina sumiu. Andei por todo o laboratório e nem sinal da menina. Eu não conseguia sair do laboratório sem ela. Só me restava recarregar o save e fazer o trabalho inteiro pela terceira vez. Mas a esta altura, já seria a quinta vez que precisaria restaurar um save porque o jogo quebrou.

E ISSO É SÓ O INÍCIO

Flashback 2, Paul Cuisset, Microids, Delfos
Sem conseguir sair do laboratório, e com a menina brincando de esconder.

Isso tudo tirou umas três horas da minha vida, devido à necessidade de restaurar saves anteriores a toda hora. Mas sinceramente, acho que tudo que fiz até aí não chegaria a uma hora de jogo. E foi isso que me fez desistir. Se já começou desse jeito, tão absurdamente quebrado, simplesmente não me parece razoável continuar a campanha na esperança de que o resto do jogo funcione como deveria. Flashback 2 simplesmente não é funcional, e não dá para saber se vai ser um dia, já que a Microids até o momento não se manifestou a respeito – sim, aguarde uma daquelas imagens com pedidos de desculpas nas redes sociais.

O que mais dói é que, criativamente falando, parece que temos aqui um jogo que poderia ser bom. Ele alterna entre o 2.5D e o isométrico, com movimentação mais livre. O combate é um twin-stick shooter que não é totalmente funcional (se aproximar dos inimigos faz Conrad dar pontapés que parecem não ter efeito), mas que tem potencial. Além disso, ele traz mais daquele mundo e narrativa que me fascinaram nos anos 90.

FLASHBACK 2 POTENCIAL ARRUINADO PELA TÉCNICA

Flashback 2, Paul Cuisset, Microids, Delfos
Problemas técnicos abundam. Nesta imagem, os diálogos aparecem em cima dos outros.

Flashback original já tinha controles ruins e complicações desnecessárias, mas ele foi um dos primeiros jogos com gráficos poligonais para consoles, e certamente o primeiro que joguei. Assim, era totalmente novo, trazendo uma experiência que eu nunca tinha visto antes no meu Mega Drive. Por causa disso, todo mundo acabava dando uma folga para os pulos imprecisos e o foco nas animações que sacrificava a playabilidade.

Flashback 2, Paul Cuisset, Microids, Delfos
No inventário, os nomes dos itens parecem cobertos por… alguma coisa?

Hoje essas coisas são mais difíceis de relevar. Todo jogo hoje em dia é poligonal, quase todos são narrativos. Temos títulos isométricos em abundância. Nada aqui é realmente novo ou especial. Mas mesmo assim poderia ser um bom jogo, pelo menos para aqueles que, como eu, piravam na narrativa de Flashback lá nos anos 90. O potencial está aqui.

Mas não dá, Flashback 2 simplesmente não está pronto. Tenho minhas dúvidas se ele está num estado alpha, em que seria possível jogar do início ao fim. Afinal, em tão pouco tempo meu jogo quebrou tantas vezes, inclusive a ponto de ter que restaurar saves anteriores para poder avançar. Se fosse um preview, talvez eu fosse mais positivo. Pelo que consegui ver do jogo, eu realmente gostaria de viver esta aventura até o fim. Mas se ela não funciona DEPOIS do lançamento oficial, simplesmente não dá para recomendar. Se eu ficar sabendo de o jogo ter ficado pronto nos próximos meses, pretendo voltar a ele quando tiver tempo. Mas pretender não é certeza. Eu pretendo voltar a muitos jogos, e sei que não vou fazer isso com a maior parte deles.