Exclusiva: Sentenced – Ville Laihiala

0

Introdução por Carlos Eduardo Corrales. Perguntas por Bruno Sanchez. Entrevista conduzida, traduzida e digitada por Carlos Eduardo Corrales.

É agora, delfonauta. Essa vai ser a primeira de um monte de entrevistas exclusivas deliciosamente reveladoras que publicaremos no decorrer dos próximos meses, então nem vou me alongar muito nessa introdução. Divirta-se.

Oi, aqui é o Ville do Sentenced.
Oi, Ville. Meu nome é Carlos.

Oi. Prazer. Como vai?
Estou bem e você?

Estou bem. Um pouco cansado, mas estou bem.
Nós temos uma entrevista que começa do início da banda, antes de você entrar, então se você não souber alguma delas, não tem problema.

Ok.
No começo, o Sentenced era uma banda de Death Metal. Você sabe quais eram as principais influências nessa época?
Acho que… talvez para a banda… naquela época eram as bandas que eles ouviam em casa, que era um Death Metal tipo Obituary, Carcass, Slayer, bandas como essas que eles ouviam quando jovens.

Em 1990, a banda lançou o primeiro registro, a demo When Death Joins Us. Você se juntou à banda 5 anos depois, mas tem algo que você pode nos contar sobre essa época?
Na verdade não, porque como eu não estava na banda naquela época, é difícil para mim dizer algo. Obviamente, você entende.

Ok. Você conhecia a banda no começo dos anos 90?
Conheci quando eles lançaram o álbum North From Here, porque esse disco era algo muito especial naquela época, na Europa e na Finlândia.

Vocês foram alguns dos pioneiros na cena Metal da Finlândia. O que você pensa dessa cena hoje com tantas bandas conhecidas?
Parece que o Metal é mainstream na Finlândia hoje em dia. Tem muitas bandas boas aqui e muitas bandas ruins. Pessoalmente não acompanho muito a cena porque geograficamente, a nossa banda fica muito longe, então é algo que a gente nem quer fazer parte, de certa forma, mas é bom ver que (a cena) está conseguindo a divulgação que ela precisa.

Apesar de ser um disco de Death Metal, o North From Here já trazia algumas influências góticas. Você sabe por que a banda decidiu se aproximar deste gênero?
Talvez não seja literalmente um sentimento gótico, mas eu acho que é mais um jeito melancólico e melódico que começou no North From Here e se formou no (álbum) Amok. Essa identidade já estava presente naquele álbum.

Acho que a maior parte das bandas finlandesas são melancólicas. Tem algum motivo especial para isso?
Acho que tem a ver com a mentalidade finlandesa de ter a tendência de ver mais beleza na tristeza do que na alegria, porque não mostramos muito a alegria e, quando mostramos, o fazemos de forma diferente do que o resto do mundo, então talvez seja algo nacional. Sei lá.

Ainda em 1993, a banda lançou o EP The Trooper. Você sabe por que eles escolheram essa música?
Acho que eles foram para o estúdio e ficaram fazendo jams e tocaram The Trooper. Não acho que tenha existido um grande motivo para isso, ao menos que eles tenham me falado. Mas obviamente, o Iron Maiden foi uma grande banda, então talvez tenha sido um tributo, mas não posso dizer com certeza porque não estava na banda naquela época.

Muita gente considera o Amok como a transição entre o Death Metal e o som mais atmosférico. O que você acha dessa transição?
Acho que foi natural, uma progressão de cada álbum. Conforme eles foram crescendo como pessoas e mesmo como músicos, começam e procurar por algo que seja deles. Já no North From Here, este estilo já estava surgindo e no Amok ele finalmente começou a florescer. Acho que foi assim que eles optaram por se expressar.

Você acha que a mudança de gravadora para a Century Media influenciou esse novo som?
(ri) Não. Nós nunca ouvimos ninguém de fora da banda. Sempre fazemos o que achamos certo. Nenhuma pessoa de fora nunca nos falou nada e nós não teríamos mesmo ouvido.

Depois de Amok, o baixista e vocalista saiu e foi para o Black League. Você sabe por que ele saiu?
Acho que conforme a banda foi crescendo e ficando mais internacional, o tempo que tinha que ser investido na banda era provavelmente mais do que o Taneli pretendia. Mas não sei os motivos específicos. Sei que ele saiu como amigo.

Como surgiu o convite para entrar na banda?
Eu não conhecia os caras. Conhecia apenas o baterista que conheci em um bar e ele me disse que o Taneli saiu e se eu não queria tentar entrar. Obviamente, já que conhecia e gostava da banda, isso foi uma honra. É uma honra poder tê-los conhecido e tocado com eles. Foi realmente muito especial.

Você também é guitarrista no Poisonblack. Você participa na composição instrumental das músicas?
Você pode repetir a pergunta, por favor?

Você participa na composição instrumental das músicas?
Você diz no Sentenced?

Sim.
Claro, eu estou sempre no local de ensaio e digo o que acho sobre cada música. Somos sempre nós cinco, tanto no instrumental como no não instrumental. Não importa quem traga a composição, nós sempre adicionamos coisas para deixar a música com a cara do Sentenced.

Na biografia da banda, vocês consideram que o Down encerrou o ciclo Death Metal no Sentenced. O que você acha desse disco?
Tem um significado especial para mim, já que foi meu primeiro com a banda. Realmente parece que ele encerrou a parte do Death Metal, mas acho que isso já tinha começado no Amok. Mas para mim gravar e sair em turnê naquela época são coisas que eu nunca vou esquecer.

E o que você pode dizer sobre esses primeiros dias com a banda?
Tudo aconteceu muito rápido quando eu entrei, mas tenho muitas boas memórias. É muito difícil falar sobre uma época específica. Foram ótimos 9 anos inteiros para mim. Mas naquela época, começamos a sair mais em turnê, tocar para platéias maiores… Então foi algo especial para todos nós.

Mesmo com todas as mudanças, o Sentenced nunca foi comercial. O que você acha das bandas que mudam o som para tentar ser mais mainstream?
Se dinheiro for a única razão para isso, então eu não respeito essas bandas nem suas músicas. E normalmente essa é justamente a razão. Não posso nem dizer que eu odeio, porque eu simplesmente não me importo. Para mim e para o resto da banda, a música sempre foi muito preciosa, então a gente nunca mudaria por nada ou para ninguém.

Curiosamente, os também finlandeses do Amorphis começaram como uma banda de Death Metal e depois também foram para um lado mais Gothic/Doom. Você acha que isso é só uma coincidência ou as bandas se influenciaram?
Acho que o Amorphis também estava tentando criar um estilo próprio então acho que não estamos conectados musicalmente. Mas eles são bons amigos e ótimos músicos e respeito muito a música deles.

No Frozen, vocês fizeram um ótimo encarte, explicando o significado de cada música. Como essa idéia surgiu?
Que idéia?

De explicar o significado de cada música no encarte do Frozen.
Naquele álbum, nós tentamos criar uma música mais atmosférica e melódicas. É difícil explicar música por música, porque tentar explicá-las levaria algumas horas. Aquele álbum tem algumas das minhas músicas preferidas e é também um dos meus discos favoritos. (Nota: só agora que estou digitando a entrevista, me toquei que ele não entendeu a pergunta).

Quais são as maiores inspirações nas músicas do Sentenced? Não só no Frozen, mas na carreira inteira?
Nós tentamos não pegar influências de fora da banda, mas olhar mais para dentro, para criar música do nosso próprio jeito. É difícil explicar as inspirações porque elas vêm naturalmente, mas o principal sempre foi ser honesto e tentar fazer algo próprio. Mas não consigo citar inspirações ou influências. É basicamente a própria vida e tudo que faz parte dela e da forma com que a vivemos.

Ainda no Frozen, você gravou alguns covers, como Animals, Faith No More e W.A.S.P.. Por que vocês escolheram essas músicas?
Eram bandas que nós gostávamos e músicas que gostávamos. Não tem nenhum significado profundo. Nós só gostaríamos de gravá-las. E bandas como o Faith No More e Radiohead… Nós gostamos muito dessas bandas. (rindo) Então foi uma boa experiência estuprar essas músicas em um estilo do Sentenced.

Em House of the Rising Sun, que ficou bem legal, a banda parece um pouco bêbada. O que aconteceu ali?
Nós não estávamos um pouco bêbados, estávamos completamente bêbados. E quando eu comecei a cantar, o cara que estava gravando mandou eu ir até a cozinha e beber mais ainda. Então, isso é algo que fizemos por diversão, para rir. Um pouco de humor negro.

Mais ou menos 1 ano atrás, o Type O Negative disse que suas músicas sobre dor e solidão não deveriam ser levadas a sério. Você acha que isso também afeta o Sentenced em músicas como Excuse Me While I Kill Myself e My Sky is Darker Than Thine?
Sim, talvez seja melhor não levá-las tão a sério. São mais expressões de humor negro. Mas eu não diria às pessoas como as interpretá-las, elas interpretam da forma que quiserem. Mas acho que não se deve viver através do que outras pessoas dizem, entende?

The Funeral Álbum será o último disco. Vocês pensaram em fazer um disco conceitual como despedida?
Que álbum? Uma coletânea?

Não, um disco conceitual.
Não entendi o que você quer dizer.

Um álbum com um conceito, como o Crimson Idol do W.A.S.P..
Ah, tá. Esse último disco é sobre o funeral do Sentenced. O fim de uma parte de nossas vidas. De certa forma, ele é conceitual, mas não é exatamente isso. Nós só fizemos o álbum espontaneamente.

Por que a decisão de parar agora?
(Longa pausa seguida de uma respiração profunda) Existem muitas razões. Levamos dois anos para pensar sobre isso. Pessoalmente, para mim, o principal motivo é que eu não posso mais sacrificar minha vida pessoal e acho que todos nós nos sentimos dessa forma, porque a maior parte de nós já está casado e tem filhos e você obviamente entende que já é um grande sacrifício. Também esse estilo de vida Rock ‘n’ Roll é algo com o qual não nos sentimos confortáveis e que gerou mais problemas para mim do que coisas boas. Então isso é algo que não podemos mais tolerar. Também quero deixar claro que isso não tem nada a ver com a nossa música. Nós não nos sentimos como se não tivéssemos nada a dizer ou se estivéssemos nos repetindo. Tem mais a ver com essas merdas que giram em torno da música.

Para a turnê final, vocês pretendem fazer algo especial nos shows?
Nós estamos muito ansiosos para esses shows, porque todo mundo sabe que serão os últimos e queremos ver a reação das platéias. Vamos tocar de forma intensa não só as músicas do último disco, mas de toda a nossa carreira. Vai ser algo que nunca fizemos antes, mas nada muito específico ainda. Vamos começar a ensaiar quando chegarmos dessa promo tour. Aí vamos escolher as músicas e ver como serão os shows. Acho que vão ser emocionais.

As músicas Consider Us Dead e End of the Road podem ser consideradas como os símbolos dessa despedida?
Não acho que alguma música represente o álbum completo. Mas vai ter um single da música Ever Frost. Nós nunca demos importância para os singles, porque sempre pensamos no álbum como um todo, mas é algo relacionado ao marketing e tal.

Na Ever Frost, percebemos influências da era Amok e na Where Waters Fall Frozen, encontramos algo da era Death Metal. Por que vocês decidiram trabalhar novamente com essas influências?
(Longa pausa) A Where Waters Fall Frozen foi algo que surgiu durante os ensaios. Foi uma referência ao passado, mas encaro mais como um interlúdio entre duas músicas. É algo que as pessoas não esperariam, mas de certa forma é mesmo um mergulho de um minuto no passado do Sentenced. Mas explicar especificamente se tentamos resgatar o passado, eu diria que não, porque sempre quisemos fazer algo novo.

A música A Long Way to Nowhere (Um longo caminho para lugar nenhum) pode ser considerada a forma como vocês se sentem sobre a sua carreira?
Sim, essa música é sobre essa banda e as coisas pelas quais nós passamos.

Em Lower the Flags, parece ter alguma influência das bandas góticas dos anos 80, como The Cure e Bauhaus. Vocês foram influenciadas por essas bandas?
Eu não ouvi o nome das bandas. Que bandas?

The Cure e Bauhaus.
Ah, eu conheço o Cure, mas não o Bauhaus. Talvez, mas como eu disse, não conheço a banda. Conheço o The Cure, mas não é meu estilo preferido de música.

Existe alguma chance de shows aqui no Brasil?
Todos os shows estão sendo marcados agora, já que o disco ainda não saiu. Existem só uns 8 ou 9 shows confirmados. Vai ter mais. Vamos tentar tocar no maior número de festivais possíveis. Eu espero que a gente toque na América do Sul, já que nunca estivemos aí antes.

Existe alguma possibilidade de um retorno da banda no futuro para novos álbuns ou, pelo menos, novos shows?
Não. Porque estamos terminando de forma especial, então acho que vamos deixar a banda descansar em paz.

Você tem intenção de continuar com o Poisonblack?
Vai ter mais um disco, mas depois da turnê desse disco, eu vou tirar longas férias do mundo da música.

Você planeja voltar depois dessas férias ou elas serão eternas?
Não acho que vá existir um terceiro disco do Poisonblack.

Você vê o Poisonblack como um projeto paralelo ou uma banda de verdade?
Uma banda de verdade e não associo ao Sentenced, porque são estilos diferentes. Nunca foi um projeto paralelo, só mais uma forma de me expressar através da música.

Você já pensou em cantar no Poisonblack?
Sim, eu canto no Poisonblack. Não quero falar muito disso agora, porque ele ainda não saiu, vai sair no final desse ano, então eu vou promover o Poisonblack no final do ano.

Ok. A próxima pergunta é um joguinho que sempre fazemos nas nossas entrevistas. Eu digo o nome de uma banda e você me diz em uma frase o que acha dela:
Ok.

Nightwish.
Respeito o fato de eles terem criado um som próprio, mas não é meu estilo de música preferido. Mas eles são pessoas muito legais.

Children of Bodom.
Uma grande banda da Finlândia e grandes caras.

Amorphis.
São uma banda que respeito muito.

Dimmu Borgir.
Não é meu estilo preferido de música e não conheço a banda. Não consigo ouvir Black Metal, porque música para mim é como uma limpeza interna e não gosto de alguém sujar isso.

Sepultura.
Ah, essa foi uma das minhas bandas preferidas na época do álbum Arise e Beneath the Remains. Definitivamente, uma das minhas preferidas de todos os tempos.

Type O Negative.
Uma das bandas que mudou minha forma de pensar. Não que mudou, mas é uma banda com a qual me identifico. Tem algo realmente único neles que é difícil de descrever.

Poisonblack.
É uma forma especial, além do Sentenced, de me expressar musicalmente.

Sentenced.
(Longuíssima pausa. Quase 10 segundos)

Alô?
Estou aqui. Estou pensando. É algo que vou amar e lembrar carinhosamente até o dia que eu morrer.

Quais foram os pontos mais altos e mais baixos na carreira do Sentenced?
Todo álbum foi um ponto alto. Ótimos shows e muitos amigos. Mas apontar pontos altos específicos é difícil, porque eu tenho muitas lembranças boas e muitas ruins também. Então prefiro olhar para a carreira inteira como um todo. E sei que vou precisar de uns dois anos para poder olhar para trás e começar a valorizar isso tudo. Mas agora estou no meio disso tudo, então é difícil apontar quais foram os momentos valiosos que eu nunca vou esquecer.

Quais são os planos para o futuro?
Passar tempo com a minha família. Me acalmar e curtir a vida.

Ok. Para encerrar nossa entrevista, gostaria que mandasse uma mensagem para o seleto público do DELFOS.
Quero agradecer em nome da banda inteira. Recebemos muitos e-mails e cartas e é ótimo ver que essa banda tocou tantas pessoas. Um grande obrigado. Amamos vocês todos. Até nunca mais. (Faça o download do áudio dessa mensagem logo abaixo)

Essas foram todas as perguntas, quero agradecer pela entrevista.
Ok.

Bom, é isso. Obrigado.
Ok, se cuida. Tchau.

Galeria

Galeria