Exclusiva: Grave Digger – Chris Boltendahl

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O vocalista e líder do Grave Digger, Chris Boltendahl realmente tem o dom da concisão. Tínhamos 30 minutos para entrevistá-lo e preparamos mais de 50 perguntas. Obviamente, achava que não conseguiria perguntar nem metade delas, já que nas entrevistas que fizemos por telefone anteriormente (W.A.S.P. e Sentenced, que já estão prontas e serão publicadas em breve), foi possível fazer menos de uma pergunta por minuto. Nesta não só fiz todas as perguntas planejadas, como inventei algumas e mesmo assim acabei usando apenas 16 dos nossos 30 minutos, o que me deixou com uma sensação de que o tempo poderia e deveria ter sido melhor aproveitado. Sem contar que eu fiquei extremamente sem graça em alguns momentos quando o Chris revertia as perguntas para mim.

Ainda assim, a entrevista que você confere abaixo passa a carreira do Grave Digger a limpo, inclusive as polêmicas, como a saída de Uwe Lulis e a fase Digger, quando a banda assumiu uma postura comercial. Chris também falou sobre religião, as freqüentes mudanças de formação, o público brasileiro e a decisão de gravar um DVD no Brasil, no show de São Paulo, que acontece no próximo sábado, dia 7 de maio no DirecTV Music Hall e que o DELFOS vai cobrir. Além desse show, a banda toca também em Curitiba no dia 6, no Espaço Callas. Sem mais delongas, divirta-se com a primeira entrevista internacional a ser publicada no DELFOS.

Carlos?

É.
Aqui é o Chris do Grave Digger.

Oi, Chris. Quando o Grave Digger começou, muitas bandas boas estavam surgindo na cena alemã, como o Running Wild, Kreator e Helloween. O que você pode nos dizer sobre essa época?
Foi a First Wave of German Heavy Metal (Primeira Onda do Heavy Metal Alemão) e nós nos divertimos muito. Tinham muitas bandas, os fãs eram como clãs. Sim, foi demais. Nos divertimos muito. Foi Rock ‘n’ Roll. Foram anos realmente Heavy Metal.

Você acha que teve algum motivo especial para tantas bandas boas começarem na mesma época?
Não sei. Nunca pensei nisso. Acho que nós éramos fãs da New Wave of British Heavy Metal e muitas bandas tentaram seguir isso. Essa deve ser a razão pela qual elas começaram na mesma época.

Em 1984, vocês lançaram o Heavy Metal Breakdown. Como foram as gravações?
Foi bem fácil. Ficamos duas semanas no estúdio e gravamos, mixamos, bebemos muito e nos divertimos também.

No mesmo ano, vocês lançaram o single Shoot Her Down, para promover a turnê com o Metallica, que nunca aconteceu. O que aconteceu com a turnê?
Nós fomos chamados muito tarde. Acho que pouco antes da tour começar. Nós estávamos prontos. Mas não desistimos e fizemos Witch Hunter.

E quais são suas memórias sobre a época do Witch Hunter?
Foi como no Heavy Metal Breakdown: bebendo, se divertindo e tocando Heavy Metal.

Ainda em 1985, vocês participaram da famosa coletânea Metal Attack, considerada por muitos como o início da cena Metal alemã. O que você acha disso?
Eu acho que a cena começou um pouquinho antes, uns dois anos antes. É, nada mais a dizer sobre isso.

Em War Games, vocês fizeram um som que não era tão pesado. Por que vocês decidiram ir por esse caminho?
Bom, nós tentamos ser um pouco mais comerciais e colocar mais dinheiro no bolso. Mas ainda é um disco pesado. Não tanto quanto o Witch Hunter, mas é um disco de Heavy Metal de uma forma um pouco mais comercial.

Foi por causa disso que vocês adotaram aquele visual com maquiagem?
(rindo) Sim, foi por isso.

Como foi a reação dos fãs a isso?
Você diz para o War Games ou para o Digger?

Para o War Games ainda.
Acho que eles gostaram. Ainda assim fez bastante sucesso.

E então por que vocês decidiram mudar o nome para Digger e lançar um disco mais comercial?
Nós queríamos receber mais dinheiro. Mas foi um grande erro e foi por causa disso que nós ficamos fora do meio por alguns anos.

E os fãs não gostaram dessa mudança?
Sim, você tem razão (risos). É isso mesmo. As pessoas não gostam e foi um grande erro.

O Grave Digger chegou a encerrar as atividades depois do álbum do Digger?
Sim. Ele não fez sucesso e a cena também estava diminuindo nessa época. Nós ficamos muito tristes e arrependidos e acabamos voltando.

Então vocês decidiram voltar com o nome Grave Digger e lançar o álbum Reaper. Como foi essa volta?
Nós tentamos ser muito agressivos e pesados, para voltar com tudo.

Então, em 1996, vocês lançaram o Tunes of War. Por que vocês decidiram escrever sobre a história do William Wallace?
Bom, nós queríamos fazer algo como um CD conceitual e tivemos a idéia de escrever umas três músicas sobre isso, mas quando compusemos as músicas, decidimos escrever um disco inteiro sobre isso.

Em Tunes of War, as músicas são mais complexas do que antes. Isso foi intencional?
Não, acho que elas saíram automaticamente assim.

Em Knights of the Cross, o tema eram as cruzadas. O que você acha da posição da igreja nessa época?
(pensativo) Ahn… Eu acho que religião é uma grande parte da história do mundo. E quando você lida com religião, você precisa ser cuidadoso.

Você segue alguma religião?
Não.

Você fez alguma pesquisa antes de escrever as músicas do Knights of the Cross?
Sim, fizemos muita pesquisa para isso. Lemos muitos livros.

Chegou a alguma conclusão sobre o significado do Santo Graal?
(gaguejando) Eu… Não sei… Acho que é uma grande saga histórica.

Então vocês fecharam a trilogia épica com Excalibur. Por que você decidiu escrever sobre algo do qual tantas bandas já falaram?
Acho que os fãs queriam ouvir essa história contada pelo Grave Digger, então nós a escolhemos.

Um cara aqui do DELFOS pediu para eu perguntar isso para você. Ele gosta muito da música Final War. Por que vocês não a tocam ao vivo?
(rindo) Não sei. Porque tocamos outras músicas mais importantes.

Você acha que a música The Round Table lembra a era Digger?
(silêncio) Você acha? (risos)
Na verdade, não. Mas esse cara que perguntou da Final War acha. Eu gosto muito dela, na verdade.
É, eu acho que The Round Table é uma música realmente Metal e não me lembra da saga Digger.

Esse álbum teve a participação do Subway to Sally. Como foi essa participação?
Nós somos amigos e decidimos deixar eles participarem no disco, tocando alguns instrumentos da idade média.

Por que o (guitarrista) Uwe Lulis saiu depois desse disco?
Porque a química com ele não estava boa, estava muito ruim, então nós decidimos dispensá-lo.

Você gosta do trabalho dele no Rebellion?
Não. Você gosta?

(rindo e sem graça) É, eu gosto.
(rindo) Ok.

Como vocês encontraram o (guitarrista) Manni Schmidt?
Manni era um bom amigo nosso, então o convidamos assim que Uwe Lulis saiu.

Por que o Grave Digger mudou tanto de formação no passado?
Não sei. Você precisa das pessoas certas para a música certa.

Ok, você acha que você está hoje com sua melhor formação?
Acho que sim. O que você acha? (ri)

(novamente sem graça) É, eu gosto da formação atual também. (Nota: Cara, o que se responde para uma pergunta dessas assim de sopetão?)
Ok.

Como foi o processo de composição para o álbum The Grave Digger?
(pausa) Ah, para o álbum The Grave Digger. Nós nos encontramos em um estúdio na Holanda e em duas semanas, compusemos cinco músicas. Foi um trabalho muito intenso.

Neste álbum, temos um som mais dark do que antes. Quais foram as inspirações para ele?
Depois da separação com Uwe Lulis, estávamos muito bravos e você pode perceber isso pelo humor e atmosfera nesse álbum.

Nessa época, pareciam haver muitos problemas entre o Grave Digger e a (gravadora) Gun Records. Até as revistas brasileiras reclamavam que não conseguiam entrevistar vocês porque a gravadora só ligava para a Europa. O que aconteceu aí?
A química entre a banda e a empresa estava muito ruim. Eles não faziam nada por nós e foi por isso que saímos de lá.

Então saiu o disco Tunes of Wacken. Você gosta desse álbum?
Eu adoro ele.

Tem overdubs nesse disco?
Não, não tem nenhum overdub nele.

Em 2003, o Grave Digger voltou para os discos conceituais. Por que você escolheu os Anéis de Nibelungs?
Era uma idéia muito antiga da banda, e a época parecia certa para isso.

Quais são suas lembranças da turnê brasileira nessa época?
Apenas boas lembranças. Nos divertimos muito e foi por isso que decidimos gravar o DVD ao vivo em São Paulo.

Logo depois dessa turnê, foi divulgado que você faria um disco sobre a bíblia e depois desistiu dessa idéia. O The Last Supper não é sobre a bíblia?
Não, só três músicas que são sobre os últimos dias de Jesus Cristo.

Por que você desistiu dessa idéia?
Porque para contar a história da bíblia, precisaria de uns dez discos, não apenas de um. A bíblia é um livro muito grande.

Essas três músicas são as idéias originais para este álbum?
Sim, sim, sim.

E você não tem mais planos de gravar um disco sobre a bíblia?
Não, não, não… Sem chance.

No fórum do Grave Digger, tinha algumas pessoas comentando sobre as semelhanças entre os riffs da Grave in no Man’s Land (do álbum The Last Supper) e da Enter Sandman (do Metallica). O que você acha disso?
Você acha elas parecidas?

Não, mas as pessoas do fórum parecem achar.
Acho que apenas os riffs são um pouco parecidos, mas no fim, ela é uma música tipicamente Grave Digger.

Ok. Algum motivo especial para gravar um DVD aqui no Brasil?
Sim, os fãs brasileiros são os maiores, melhores e mais barulhentos do mundo.

O DVD vai ser gravado só no show de São Paulo?
Sim, o plano é gravar só um show e tocar 25 músicas.

O que você se lembra da sua primeira tour por aqui?
A organização era boa, mas tinha poucas pessoas.

Os shows aqui vão ter alguma coisa especial? Setlist estendido, produção especial, fogos?
Nós não usamos fogos, mas vamos levar uma parte da produção alemã para o Brasil e vamos tocar o setlist estendido. Prometemos para os fãs um show muito bom.

O que você pode nos dizer sobre o setlist para o Brasil?
Vai ser surpresa (risos).

Você vê o Grave Digger como seu projeto solo ou como uma banda real?
Não, é uma banda.

Acho que vocês são a única banda onde o mascote toca um instrumento. Como vocês pensaram em vestir o (tecladista) HP como o Reaper (a Morte)?
(risos) Ele gosta. Ele gosta de usar aquela roupa e nós gostamos que ele faça isso. Ele faz o mascote e toca o teclado e isso é muito bom para nós.

Quais você considera os pontos mais altos e mais baixos na carreira do Grave Digger?
O ponto alto foi o Wacken 2001 e o ruim foi a saída do Uwe Lulis.

Você vê muita diferença entre as cenas Metal dos anos 80 e hoje em dia?
Sim, a cena hoje é bem maior do que nos anos 80.

Qual é a sua música favorita do Grave Digger?
The Last Supper.

Tem alguma que você não goste?
Eu gosto de todas elas.

Ok. Voltando ao War Games, muitas das faixas falam sobre a guerra. Quais foram as inspirações para esse álbum?
Foi a explosão atômica em Hiroshima em 1945.

Quando você estava escrevendo músicas como Rebellion e Dark of the Sun, você imaginava que essas músicas se tornariam clássicos do Heavy Metal?
Eu esperava que sim (risos). Não sou eu que faço clássicos, as pessoas que fazem.

Ok. Bom, essas eram todas as nossas perguntas…
(interrompendo) Ok, legal. Vejo você no show semana que vem.

Só queria que você deixasse uma mensagem para o seleto público do DELFOS.
Quero encontrar todo mundo na semana que vem, porque vai ser um show muito bom e as pessoas vão se divertir. (Baixe essa mensagem em MP3 aí em baixo.)

Ok, muito obrigado pela entrevista, Chris.
Ok, obrigado. Tchau.

Perguntas por Bruno Sanchez, com algumas adições de Carlos Eduardo Corrales. Entrevista conduzida, traduzida e digitada por Carlos Eduardo Corrales.

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