Estrela Solitária

0

Nunca fui muito chegado em Wim Wenders. Sempre achei seus filmes chatos, arrastados e um tanto pretensiosos. No entanto, sobrou pra mim a missão de cobrir a cabine de seu mais novo filme, Estrela Solitária. Posso ter entrado na sala de projeção desanimado, mas saí, depois de 122 minutos, feliz por ter tido a chance de ver esta pequena pérola.

Trata-se da história de Howard (Sam Shepard, também roteirista do filme), um ator decadente de faroestes. Um belo dia, ele decide abandonar as filmagens de sua mais nova produção sem avisar ninguém. Enquanto a equipe de filmagens entra em desespero e contrata um sujeito misterioso para achá-lo e trazê-lo de volta (Tim Roth, hilário em sua seriedade assustadora), Howard cai na estrada, a princípio sem destino certo e depois, a fim de reatar os laços com sua mãe, que ele não via há 30 anos. E, depois disso, com uma outra figura de seu passado (contar mais estragaria a surpresa).

Howard é um personagem fascinante. Ele realmente parece ter incorporado o personagem do cowboy durão durante toda sua vida, tanto que passa a agir como tal em período integral, ou talvez ele sempre tenha sido assim e por isso se saiu tão bem nos faroestes. Após viver todos os excessos que a fama proporciona (sexo, drogas e… música Country), parece que ele se cansou da vida de bad boy e passou a correr atrás de coisas que foi deixando para mais tarde. Em determinado momento, quando perguntado porque só agora está fazendo isso, ele diz que o tempo passou sem ele perceber.

Atores afiados (todos eles), uma trama que prende a atenção, uma fotografia belíssima (a história se passa nas cidadezinhas do deserto de Nevada) e um trabalho de câmera ótimo garantem a excelência tanto da técnica quanto da história.

O começo do filme também é empolgante. Wenders vai revelando a história aos poucos, sem pressa. Por isso, no começo ficamos ao mesmo tempo um tanto perdidos e muito curiosos para saber o que faz aquela figura com roupas de vaqueiro circulando pelo mundo moderno e quais suas intenções.

À medida que tais explicações vão surgindo, o filme vai esfriando um pouco, mas isso não compromete sua qualidade geral. Sim, o ritmo da narrativa é lento, porém nunca chato ou arrastado. Sim, é um tanto pretensioso, afinal é o que se pode chamar de “filme cabeça”, mas uma cabeça ótima por sinal. É uma obra reflexiva, mas que entretém no processo. Em suma, um filme bonito. Melhor definição que essa não há.

Para os apreciadores de um bom “filme de arte” (não seriam todos os filmes arte, tornando essa definição errônea?), Estrela Solitária é uma excelente pedida. Se você, como eu, nunca foi muito com a cara do Wim Wenders, esta é a obra que pode fazê-lo mudar de opinião. Pelo menos a minha mudou.

Galeria

REVER GERAL
Nota
Artigo anteriorTom Cruise faz pirraça e quer comer placenta
Próximo artigoAlguns detalhes sobre as séries de Star Wars
Alfredo De la Mancha
Alfredo é um dragão nerd que sonha em mostrar para todos que dragões vermelhos também podem ser gente boa. Tentou entrar no DELFOS como colunista, mas quando tinha um de seus textos rejeitados, soltava fogo no escritório inteiro, causando grandes prejuízos. Resolveu, então, aproveitar sua aparência fofinha para se tornar o mascote oficial do site.
estrela-solitariaPaís: França/Alemanha/EUA<br> Ano: 2005<br> Gênero: Drama/Road Movie<br> Duração: 122 minutos<br> Roteiro: Sam Shepard<br> Diretor: Wim Wenders<br> Distribuidor: Europa Filmes<br>