Empürios – Cyclings

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Quando o Ditador Supremo veio até o calabouço dos delfianos comunicando a missão de resenharmos novos CDs, confesso que tentei pegar um na minha zona de conforto, fazendo uma rápida busca por cada título. Mesmo o nome da banda me passando a impressão de que se tratava de um grupo obscuro de black metal (só vi as capas logos depois da seleção), ou algo do tipo, vi que neste álbum havia a participação de Andre Matos e escolhi sem pensar, antes que outra pessoa o fizesse.

Bastou aprofundar um pouco a pesquisa (tradução: ler a segunda linha do perfil dos caras na página em questão). Foi aí que descobri que se tratava de uma banda de metal progressivo. E aí uma surpresa: uma moça nos vocais! Corrijam-me, fãs do estilo, mas eu realmente não consigo lembrar de nenhuma mulher nos vocais de uma banda de metal progressivo.

EMPÜRIOS

A banda Empürios é carioca e lançou seu primeiro EP em 2006. O debut é o próprio Cyclings, lançado oficialmente no final de fevereiro deste ano. Isso já mostra que a banda passou por um bom tempo de amadurecimento e convivência entre os integrantes, antes de lançar algo em nível nacional para mostrar a que vieram.

A turma é formada por Fernanda Decnop nos vocais, Renata Decnop e Iury Alonso nas guitarras, Marcos Ceia no teclado, Luiz Freitag no baixo e Thiago Alves na bateria.

CYCLINGS

Cyclings é sobre o ciclo natural que rege todo pensamento e toda ação que tomamos. A cada passo você está seguindo os de outra pessoa. Está preso em uma espiral descendente até que o véu seja quebrado. Não somos apenas humanos, terráqueos. Somos cyclings, habitantes de Cycle.” – Freitag.

O álbum abre com Silence e sua introdução curta, mas cheia de mistério. A entrada do vocal me pareceu um tanto tímida à primeira vista, mas logo se afirma no refrão, que é bem bacana, mas deveras grudento. A partir do refrão a coisa flui e tanto voz quanto instrumental entram com os dois pés no peito, mostrando que profissionalismo, feeling e técnica não faltam a essa banda

Kiss of the Blade é uma faixa mais pesada e arrastada, o que não significa que seja lenta. Pela primeira vez temos a participação de um gutural masculino intercalando os belos vocais limpos de Fernanda Decnop e isso ficou deveras interessante. A banda não se atém a uma cartilha e gosta de brincar com outras influências.

É HORA DO DEDÉ

Finalmente chegou a hora de conferir a participação de Andre Matos na faixa Over The Fire e, puxa, que faixa empolgante! Todas as alterações de ritmo são muito bem encaixadas, e os momentos de calmaria são lindos. Fernanda dá um espetáculo no vocal e não fica para trás em momento algum, fazendo uma duplinha do barulho com o senhor Matos. Um show nos vocais e outro show no instrumental impecável.

O álbum segue com Deluge, uma faixa bem redonda e pouco chamativa. E então é a vez do single Invisible Man com coros bacaninhas e refrão grudento. Uma composição animada que foi uma boa escolha para single, embora eu ainda prefira a próxima faixa.

Empty vai agradar aos fãs de músicas longas. A faixa tem mais de sete minutos e ganhou meu troféu joinha pelo ótimo conjunto da obra. O instrumental é redondinho e a interpretação vocal de Fernanda Decnop é tão do balacobaco que você nem vai lembrar que tem um caboclo gritando de vez em quando no meio da música. Em resumo, é minha favorita!

Estamos chegando no ponto alto do álbum e Chaos segue à risca o significado do seu título. A música começa bastante acelerada (ignorei completamente aqueles três segundos de introdução) e então o ritmo cai um pouco para um refrão emotivo. Na sequência, a queda de ritmo é brusca e a música ganha uma melodia suave e agradável. A faixa tem boa variação de ritmos sem nunca deixar a peteca cair. Não tem como ficar entediado ouvindo essa faixa. Um fato curioso é que, no final da música, é praticamente impossível lembrar como ela começou.

In The Middle Of Everything faz o caminho para a ótima faixa instrumental The Butterfly Effect. Cheia de emoção e um show de técnica, a canção age como um nó para amarrar todas as pontas deixadas pelas outras faixas e ao mesmo tempo prepara o ouvinte para o encerramento, que fica a cargo de uma das melhores músicas do álbum.

A banda fez uma escolha ótima ao colocar Māyā no final do disco. A canção é extremamente emotiva e é a que mais demonstra o que Cyclings quer passar ao público. Uma composição de início acústico, quase uma baladinha, com uma virada eletrônica relaxante e de repente a entrada do instrumental com o mesmo peso apresentado durante todo o álbum. Uma teteia!

QUEBRANDO O CLIMA

De uma forma geral, Cyclings é um álbum bastante coeso e as melodias conversam bem entre si. Mas uma faixa um tanto “fora de lugar” quebrou o clima da audição. Metastasis é uma faixa instrumental que ficaria bem pintuda na introdução do álbum. Mas ela é a sexta faixa, entre a ótima Empty e a aceleradíssima Chaos, gerando um momento de pausa desnecessário no momento em que o álbum está alcançando seu ápice.

O álbum é repleto de ótimos riffs e solos de guitarra. Você provavelmente terá momentos gloriosos de air guitar, como no solo de Over The Fire. A voz de Fernanda Decnop é poderosíssima e ela certamente entrou para o hall das vocalistas nacionais tremendonas aqui do Oráculo.

Um problema grave foi o excesso de sintetizadores em faixas como Kiss of The Blade. Tem quem gosta, eu sei. Mas a moderação pode ser uma boa. Acho que vou ficar semanas detectando teclados em todas as músicas que ouvir depois deste intensivo.

Para concluir, Cyclings é um ótimo álbum de estreia, e eu recomendo a qualquer delfonauta, fã ou não de metal progressivo. É uma experiência no mínimo interessante. O metal está crescendo no Brasil e é ótimo ver bandas novas surgindo com tanta qualidade no quintal de casa!