É o Fim

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Seth Rogen e a turma dos comediantes que andam com ele tiveram um início de carreira bem produtivo no cinema, incluindo excelentes e inteligentes comédias de alto teor nerd, como O Virgem de 40 Anos e Superbad. No entanto, depois de Segurando as Pontas, ele começou a aparecer em um monte de porcarias e parecia que nunca mais voltaria à qualidade daqueles primeiros filmes.

Sabe quem essa trajetória me lembra? O Jack Black. Você deve se lembrar que antes de estrelar pérolas como Viagens de Gulliver, Zé Negão fazia coisas como Alta Fidelidade e Escola de Rock. Tudo indicava que Seth Rogen estava indo pelo mesmo bueiro. E daí surge É o Fim, que pode ser um recomeço para sua carreira.

UM FIM DO MUNDO METALINGUÍSTICO

Segundo pesquisa realizada pela DataDelfos em novembro de 2012, 97,42% dos delfonautas curtem metalinguagem. Pois se você não faz parte dos outros 2,58% (ajoelhai perante minhas habilidades matemáticas, plebeu!), regozijemo-nos juntos. Hum…

Após meses sem se encontrar, os amigos Seth Rogen e Jay Baruchel resolvem se juntar para um final de semana regado a muita maconha, videogames e junk food. Só que na primeira noite, eles resolvem ir até uma festa na casa do James Franco (o Duende Verde que gostaríamos de esquecer). Eles não contavam é que o apocalipse bíblico fosse chegar justamente nessa noite. Deus é mó inconveniente, pô!

Todo o elenco interpreta a si próprio, então espere muitas referências aos filmes que eles fizeram antes. Rola até uma alfinetada em Rogen por causa da baixa qualidade de Besouro Verde. E além do elenco principal (Rogen, Baruchel, Franco, Danny McBride, Craig Robinson e Jonah Hill), rola um monte de outras participações especiais, como a eterna Hermione Emma Watson, Jason Segel, de How I Met Your Mother e até a cantora Rihanna.

Todos os outros além dos seis principais têm papeis minúsculos e aparecem basicamente para uma ou outra piada, mas duvido que você não solte algumas sádicas risadas quando aparecer o Channing Tatum.

E CADÊ O KEVIN SMITH?

E o filme começa muito bem. Antes mesmo do Apocalipse começar, ele já está afiado, com excelentes e ágeis diálogos que lembram muito os bons momentos do Kevin Smith. Aliás, se você quer ter uma boa ideia do que vai encontrar por aqui, pense em uma mistura de Dogma com O Nevoeiro.

Do primeiro, traz o tema religioso e a toada nerd/grosseira. Do segundo, puxa basicamente a história. Isso porque o sexteto em questão acaba ficando preso dentro da mansão de Franco, com medo de sair pois alguma coisa muito terrível está lá fora. E essa coisa tem pinto grande, o que aparentemente é um grande trauma de Rogen.

A toada e os diálogos têm tanto a ver com Kevin Smith que eu não estranharia se ele fosse o diretor. Não é, o filme foi dirigido pelo próprio Rogen e pelo seu parceiro de longa data Evan Goldberg. Mas aposto que, depois de assistir, você vai concordar comigo que ele se encaixaria perfeitamente no View Askewniverse do Kevin Smith.

Infelizmente, as boas piadas e referências têm sua qualidade dolorosamente lancetada pela justiça divina na segunda metade. A partir daí, muitos problemas começam a aparecer, desde a onipresente e sempre desnecessária lição de amizade a uma falta de timing surpreendente. Em determinado momento, Franco e McBride estão conversando sobre esperma, e o diálogo se estende por muito mais tempo do que o necessário. A falta de timing, somado ao tema grosseiro e juvenil, fez com que eu me sentisse assistindo a algo dos irmãos Wayans. E você sabe que isso é a pior coisa que uma comédia pode fazer.

Este não é o único momento em que o roteiro cai para assuntos de baixo calão – e estão todos na segunda metade. Isso é sinceramente uma pena, pois tínhamos aqui um filme que estava muito bem encaminhado para levar a honraria máxima do cinema, o Selo Delfiano Supremo. Como você já deve ter percebido, não foi o caso, mas mesmo assim levou quatro Alfredos para casa, o que deve ser a maior nota que eu dou para uma comédia em muito tempo.

Isso deve dizer muito. Sim, temos aqui uma das poucas comédias em live-action que realmente me arrancou boas gargalhadas em anos. Ela dá suas tropeçadas, mas se você gosta de metalinguagem, diálogos afiados e os primeiros filmes dessa trupe (em especial Superbad), não perca.

CURIOSIDADES:

É o Fim foi baseado no curta Jay and Seth Versus the Apocalypse, que nunca foi lançado comercialmente, mas que agora está disponível como um extra no blu-ray deste filme, que já saiu nos States. Você pode conferir o trailer do curta abaixo, ou então reservar uma passagem para a Argentina para vê-lo.

– O Danny McBride está parecendo o Alec Baldwin no pôster, não?

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
e-o-fimPaís: EUA<br> Ano: 2013<br> Gênero: Comédia<br> Roteiro: Evan Goldberg e Seth Rogen<br> Elenco: Seth Rogen, James Franco, Jay Baruchel, Jonah Hill, Danny McBride, Craig Robinson, Michael Cera, Emma Watson e Aziz Ansari.<br> Diretor: Evan Goldberg e Seth Rogen<br> Distribuidor: Sony<br>