Contatos Imediatos do Terceiro Grau (Close Encounters of the Third Kind – EUA/Reino Unido – 1977) é um dos filmes mais famosos da extensa carreira de Steven Spielberg. Em 2007, ele completou 30 anos. Nada mais natural, portanto, que recebesse um caprichado DVD comemorando a data, em Edição de Colecionador.
Foi exatamente este DVD que recebemos aqui no Oráculo de Delfos. E à primeira vista, parece que o bichinho é realmente uma daquelas edições definitivas, afinal, é triplo. No entanto, as aparências enganam. Isso porque cada disco apresenta uma versão diferente do filme (e como você lerá um pouco mais pra frente, nem são tão diferentes assim) e de extras mesmo, há muito pouca coisa. Mas estou me adiantando. Antes de entrarmos no conteúdo, é sempre bom falar do que o inspirou, o filme.
O FILME
Creio que se você acessa o DELFOS freqüentemente, provavelmente deve ser fã de Steven Spielberg, e, portanto, com certeza já assistiu Contatos Imediatos. Em todo caso, não custa nada aproveitar a deixa para apresentar uma pequena sinopse.
Fenômenos bizarros começam a acontecer de repente. No deserto de Sonora, México, é encontrada uma frota de aviões desaparecidos desde a 2ª Guerra Mundial. Aeronaves comerciais passam a relatar avistamentos de Ovnis e no interior dos EUA, várias pessoas comuns testemunham os tais objetos voadores não identificados.
Uma dessas pessoas é Roy Neary (Richard Dreyfuss), que após o contato, fica obcecado com a situação e passa a ter visões de uma forma montanhosa que parece ser importante. Ao mesmo tempo, cientistas, capitaneados por um francês chamado Lacombe (o diretor François Truffaut, em seu primeiro filme estadunidense como ator), tentam descobrir as pistas deixadas pelos E.T.s para estabelecer um contato direto.
Para todos aqueles que sempre imaginaram como seria um primeiro contato com formas de vida alienígena, Spielberg traz uma visão bem realista de como seria o processo. E é bem otimista também. Aqui, os aliens são amigos e embora até abduzam pessoas, não parecem ser do tipo que enfiam sondas nos locais impróprios da rapaziada, quanto mais desintegrar cidades com suas potentes e avançadas armas.
Já fazia um longo tempo que eu não assistia a este filme, e revendo-o agora para escrever esta matéria, devo dizer que ele envelheceu muito bem em certos aspectos chave. Um deles são os efeitos especiais, feitos numa era pré-CGI e que ainda são bem impressionantes. O outro é a direção de arte e figurinos. Apesar das costeletas de Roy Neary, Contatos Imediatos consegue uma certa atemporalidade. Não está datado como um filme feito nos anos 70, pois os personagens não usam calças boca-de-sino, por exemplo.
O único quesito que deu uma decaída nestes tempos de edições videoclípticas é o ritmo da narrativa. Não vou negar, não me lembrava da película ser tão paradona assim. Ela começa muito bem, com os avistamentos dos discos voadores, e acaba de maneira espetacular, com o tal contato de terceiro grau (por sinal, uma das melhores seqüências já criadas por Spielberg), mas a metade chega a ser um tanto tediosa, mesmo tendo alguns momentos bons, como a abdução do garotinho Barry (que é bem assustadora, levando-se em conta o tom geral do filme).
Ou seja, visto hoje pela primeira vez, Contatos Imediatos pode entediar aqueles acostumados a edições picotadas, mas com certeza ainda vai impressionar nos efeitos especiais e nas cenas grandiosas, típicas do Spielberg.
Aliás, é legal depois de bobagens recentes como A.I. – Inteligência Artificial e Guerra dos Mundos, relembrar como Spielberg é um excelente diretor, com ótimos enquadramentos e capaz de criar seqüências emocionantes. E ainda é o melhor diretor de crianças que existe, visto o que ele conseguiu arrancar do ator-mirim Cary Guffey, que faz o pequeno Barry.
E como a análise é do DVD, tenho que falar da parte técnica. A imagem é em widescreen e está cristalina. Já o som apresenta as seguintes opções: Inglês, Espanhol e Francês em Dolby Digital 5.1 e Inglês em 5.1 DTS. Assisti em Inglês Dolby Digital 5.1 e está show de bola, especialmente nas caixinhas de trás, onde acontece muita coisa. E é no clímax do filme que o som do seu home theater será testado. Sério, o negócio é tão potente que as caixas até chegam a vibrar nessa hora.
AS TRÊS VERSÕES DO FILME
Antes de falar dos pormenores, vale lembrar que todas as versões são widescreen e com as opções de áudio já descritas aí em cima.
– Versão Original: É a que passou no cinema e, portanto, a que todos conhecem.
– Edição Especial: Na época das filmagens da Versão Original, o estúdio passava por um perrengue financeiro e contava com o sucesso do filme de Spielberg para tirá-lo do vermelho. Por isso, os engravatados pressionaram Steven a terminar logo o filme para que pudesse ser lançado na temporada de férias. O diretor teve de ceder, embora quisesse ter filmado mais algumas cenas e trabalhado um pouco mais nos efeitos especiais.
Pois bem, Contatos Imediatos saiu e rendeu muito bem, salvando o estúdio da falência. Então, cerca de um ano depois, Spielberg pediu uma verba para filmar as cenas que queria e melhorar os efeitos. O estúdio concordou sob uma condição: ele teria de mostrar o que o público provavelmente queria ver, o interior da nave-mãe. Steven cedeu e esse virou o grande chamariz desta nova versão. Mas para mim foi uma grande decepção, ele só mostra alguns detalhes estruturais do interior. Muita arquitetura e nada de alienígenas. É bem bobo e o próprio Spielberg admitiu depois que foi um grande erro, já que o interior da nave deveria sempre ficar a cargo da imaginação do público.
Dentre outras cenas novas, a equipe de Lacombe encontra um navio no meio do deserto de Gobi, e há mais tempo de interação entre Roy e sua família, mas estranhamente ele cortou uma das seqüências mais legais, onde Roy surta e começa a jogar um monte de plantas e lixo dentro de casa para construir a escultura gigante da montanha.
– Edição do Diretor: Basicamente tudo que ele acrescentou na Edição Especial, mais a volta do surto de Roy jogando tranqueiras pela janela. E o melhor, sem as cenas do interior da nave-mãe, que no fundo deve ter sido o grande motivo para ele montar essa nova versão.
OS EXTRAS
O grande pecado do DVD é a economia de extras e a falta de um que hoje em dia é quase obrigatório. Falo da faixa de comentários do diretor. Para quem curte saber detalhes da parte técnica e curiosidades da produção, é basicamente imprescindível. E é praticamente como se você assistisse ao filme ao lado do diretor. Para mim, uma ausência grave. Agora, vamos ao que está presente:
– O Making of de Contatos Imediatos do Terceiro Grau: dividido em três partes, uma em cada disco, não é exatamente um making of, pois não mostra cenas de bastidores da produção, só algumas fotos, já que foi feito bem depois (repare que Spielberg dá seus depoimentos em um set de O Resgate do Soldado Ryan).
Diretor, elenco e equipe técnica relembram todos os momentos do filme, desde a concepção da idéia, passando pelas filmagens e finalização. Nesse sentido, as entrevistas são bem completas, pois falam de todos os aspectos da obra. Os momentos mais interessantes são quando Spielberg fala sobre seus métodos criativos para dirigir Cary Guffey, à época com apenas quatro anos, arrancando as reações necessárias, a imensa reverência e carinho com que todos falam de François Truaffaut, fora algumas curiosidades bem legais sobre o mestre francês da nouvelle vague e como foram feitos os efeitos especiais, ainda mais na dificuldade de criá-los numa época onde não existia CGI.
– Trailers: são três, um em cada disco. Há o trailer da Versão Original, que é quase um release filmado, apresentando equipe técnica e até explicando o que é um contato imediato de primeiro, segundo e terceiro graus. Depois vem o trailer da Edição Especial e o da Edição de Colecionador do DVD. Os trailers, como já é de praxe, não têm legendas.
– Olhe Para o Céu: um featurette presente no terceiro disco que nada mais é que o trailer da Versão Original repetido. Bizarro…
– Steven Spielberg: 30 Anos de Contatos Imediatos: também incluso no disco três, é uma entrevista feita com o diretor especialmente para esta versão do DVD. Infelizmente, é totalmente redundante, já que ele conta absolutamente as mesmas histórias (às vezes até com as mesmas palavras) que estão no making of. Dispensável.
Os extras são uma pequena decepção, mas o filme com certeza ainda dá um caldo e se você curte reparar nas pequenas diferenças entre as variadas versões de uma mesma obra, então com certeza as três diferentes edições do filme vão garantir boas horas de diversão. Se o caso é esse, é só clicar aqui e comprar o DVD.