Desajustados

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Eu sempre achei que na Islândia só tinha gelo, a Björk e o Sigur Rós, mas aparentemente eles também têm cinema por aquelas gélidas paragens, como bem comprova este Desajustados. E o longa em questão ainda atesta que se trata de cinema dos bons.

Fúsi é um nerd tímido, pacato e solitário de 40 anos que ainda mora com a mãe e sofre bullying dos colegas de trabalho. Sua vida é uma rotina melancólica e sem fim. No entanto, as coisas começam a mudar quando, primeiro, uma menininha nova no prédio faz amizade com ele. E, depois, ele conhece uma mulher de nome impronunciável chamada Sjöfn (parece que o islandês não é uma língua muito fácil) em uma aula de dança.

Se este fosse um filme estadunidense, sua condução seria igual a O Virgem de 40 Anos, totalmente levado para a comédia. Contudo, esse negócio vem de um lugar muito mais distante e exótico, e embora haja mesmo algumas similaridades na história com o filme do Judd Apatow, este aqui pode ser considerado uma versão indie e muito mais melancólica, séria, quase deprê na forma como se desenrola.

Ele trata da rotina, da insignificância da vida cotidiana, da vontade de dar uma virada na mesma e, principalmente, faz um estudo de personagem. Fúsi é o tipo de cara que só se dá mal, provando o quanto a vida pode ser injusta com algumas pessoas. Maltratado pelos colegas de trabalho, incompreendido até pela mãe, seu comportamento meio infantilizado e sua aparência pouco atraente esconde um cara generoso e solícito, de comportamento quase puro e que às vezes paga o pato justamente por causa disso.

No entanto, também mostra a força que ele tem para encarar situações sociais normalmente constrangedoras para ele, mostrando que, embora ele possa até parecer um sujeito acomodado, não está necessariamente satisfeito com os rumos que sua vida levou.

Esse é o tipo de filme que não vai agradar a todo mundo. Ele fala muito mais àquelas pessoas (e aí não precisam ser necessariamente nerds) tímidas em excesso ou com dificuldades de interação em determinadas situações sociais (algo que os estadunidenses costumam chamar de socially awkward).

Desajustados é um ótimo drama. Conta a seu favor o fator exotismo, afinal, não é toda semana que chega um filme islandês aos nossos cinemas. Mas ele se sustenta plenamente sem esse quesito de mera curiosidade geográfica. Sua excelente história fala por si só e, se você se identifica com as características descritas no parágrafo anterior, a experiência é ainda melhor. Vale a assistida.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
desajustadosPaís: Islândia/Dinamarca<br> Ano: 2015<br> Gênero: Drama<br> Duração: 94 minutos<br> Roteiro: Dagur Kári<br> Elenco: Gunnar Jónsson, Ilmur Kristjánsdóttir e Sigurjón Kjartansson.<br> Diretor: Dagur Kári<br> Distribuidor: Imovision<br>