Depois Daquele Baile

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Quando vi este filme em novembro do ano passado, no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, pensei comigo: “Poxa, esse merece algum prêmio”. Infelizmente não pensaram o mesmo que eu e, como toda premiação tem suas injustiças, acredito que o grande injustiçado do festival foi mesmo Depois Daquele Baile. É uma pequena grande obra do ator Roberto Bomtempo, que faz sua estréia na direção com uma comédia romântica que tem o enfoque na terceira idade.

A história se passa na cidade de Belo Horizonte (muito bem fotografada, aliás) e fala sobre dois grandes amigos, Freitas (Lima Duarte) e Otávio (Marcos Caruso), que começam uma disputa pelo amor da viúva Dóris (Irene Ravache). Ela oferece um serviço de pensão na capital mineira, no qual é ajudada pela sobrinha Bete (Ingrid Guimarães). Entre os freqüentadores mais assíduos, estão justamente Otávio e Freitas, que implicam quase o tempo todo um com o outro, por ciúme de Dóris. As refeições na pensão também são acompanhadas por dona Judite (Regina Sampaio), uma alegre senhora de 70 anos e pelo amargurado garçom Cosme (Chico Pelúcio). No intuito de pacificar um pouco a situação, Freitas propõe um sorteio ao amigo. Quem ganhar tem um mês para conquistar Dóris e, se não conseguir nesse tempo, abre espaço para o rival.

Com atores já consagrados no meio artístico como protagonistas, ficaria difícil estragar uma história dessas, a não ser que o orçamento baixo implicasse em problemas técnicos. Entretanto, acredito que Bomtempo sabia disso antes de começar a filmar, pois é um filme feito com muito cuidado. A parte técnica foi muito bem realizada, principalmente a fotografia de Nonato Estrela, que tem o seu ápice na belíssima cena que encerra o longa.

De fato, é perceptível na tela todo esse cuidado, numa obra feita com o carinho necessário para que o filme inteiro permanecesse no mesmo tom: o da natureza delicada, mas nem por isso ingênua, de três pessoas que já estão longe da juventude e querem vivê-la novamente. Não pensem que por isso o filme é aquela “água com açúcar” habitual às comédias românticas americanas, ao contrário, é um longa-metragem brasileiro mesmo. Nele estão presentes as delícias da culinária mineira, algumas piadas afiadas e também um pouco do vocabulário politicamente incorreto, que nós costumamos usar diariamente e que as telenovelas cismam em evitar. É um alívio saber que a safra nacional mais recente ainda possui bons filmes como este, mesmo afetada por outras obras brasileiras, bem mais comerciais e de qualidade duvidosa.