No dia 22 de julho de 2011, um desequilibrado de extrema-direita norueguês causou dois atentados no país. Ele explodiu uma bomba na região dos edifícios do governo em Oslo e invadiu a ilha de Utoya, onde acontecia um acampamento de jovens do Partido Trabalhista. Durante 72 minutos, atirou em todos que viu pela frente, resultando em 69 mortes, além de mais oito fatalidades causadas pela explosão na capital, totalizando 77 mortos nos dois ataques.
Utoya – 22 de Julho se concentra de maneira dramatizada no que aconteceu na ilha. E é um dos filmes mais tensos que eu vi recentemente, usando um ângulo de tratamento da história extremamente simples, realizado de maneira tecnicamente complicada.
Explico: a história toda é mostrada a partir do ponto de vista da jovem Kaja, que está no acampamento junto com sua irmã mais nova. Ela e os amigos estão apenas de bobeira conversando quando o ataque começa. Daí é um salve-se quem puder. Só que ela estava separada da irmã quando o tiroteio começa. E agora, ela tenta salvar a própria vida ou vai atrás da maninha?
A genialidade do filme é se colocar no ponto de vista dos adolescentes do acampamento. Quando os primeiros tiros começam a espocar, ninguém se dá conta do que está acontecendo. Alguém até se pergunta se são fogos de artifício. E a forma como o começo do ataque é retratada funciona tão bem que eu mesmo, o espectador, também não me dei conta do que estava ocorrendo. Apenas quando começou a correria.
A partir daí o pânico começa simplesmente porque ninguém ali sabe exatamente o que está havendo. Essa falta de informações, aliada à correria a esmo de grupos de jovens, causa uma tensão e uma desorientação que faz imaginar que deve ser bem assim mesmo passar por uma situação dessas na vida real.
CORRA E SE ESCONDA
Outro ponto alto: você jamais vê o atirador. Apenas escuta os tiros ao longe, ou chegando mais perto, o que causa uma tensão desgraçada. O trabalho de som é muito bem feito e um dos grandes fatores para toda essa sensação de perigo iminente. Você nunca sabe se os barulhos de gente correndo nas cercanias são de vítimas desesperadas ou dos agressores (lembre-se, ninguém ali sabia o que estava acontecendo e quantas pessoas estavam atirando).
O outro grande fator do longa, que eu me referi como tecnicamente complicado mais acima, é o seguinte: ele é todo filmado em um único take, um gigantesco plano-sequência! Se ele foi feito da maneira roots ou trucado (um falso plano-sequência, com cortes disfarçados) não vem ao caso. Isso também eleva ainda mais a tensão da coisa toda. A câmera é quase subjetiva, praticamente se portando como um dos garotos no meio do acontecido. Se jogando junto com eles no chão, além de seguir Kaja em busca da irmã.
Basicamente grande parte do filme é a garota e seus amigos se escondendo em barrancos e ouvindo tiros ao fundo. E sim, é de causar agonia e roer as unhas. Eu adorei essa escolha do ponto de vista das vítimas e de suas reações próximas à realidade. Mas compreendo que deve ter gente que não vai gostar dessas opções estéticas, de nunca vermos o assassino e ele não ter um desenvolvimento mais hollywoodiano. Não há heróis aqui. Apenas um vilão que você nunca vê.
Utoya – 22 de Julho acerta na opção de ponto de vista e na forma técnica de se narrar a história, atingindo um grande nível de sucesso. Não é para todo mundo, mas se você gosta de suspense e de técnicas de filmagem, este aqui é imperdível.