Hoje é dia da crítica O Peso do Talento, filme escrito especialmente para o ator Nicolas Cage. Em todo esse tempo que escrevo para o DELFOS – e faço isso desde 2004 – nenhum outro ator foi tão sinônimo de filme ruim quanto ele. Nem mesmo Jim Carrey ou Robin Williams. Cage é o campeão.
E isso não é minha opinião, mas uma percepção geral do público que senti em todos esses anos. Chegou ao ponto de que, quando escrevi uma resenha positiva para Fúria Sobre Rodas, meus estimados leitores acharam que estava trollando. Que era uma crítica de zoeira. Se você já era delfonauta em 2011 (o que te concede um voucher para um high five telepático!) deve se lembrar dessa história. Infelizmente, os comentários feitos na época sumiram na transferência de conteúdo para o site atual, então não dá para relermos a discussão que rolou na época. Verdade, não ajudou o fato de a crítica ter sido publicada em um primeiro de abril, mas juro que isso foi uma infeliz coincidência porque o filme estreava naquela semana. Eu mesmo só reparei na data quando alguém comentou.
Assim, quando vi que Nicolas Cage estava gerando comentários da imprensa internacional por um filme chamado “o insustentável peso do talento massivo” (The Unbearable Weight of Massive Talent) fiquei curioso. Será que o ator sabia que estavam zoando ele com o título? Depois de assistir… bem, vamos a um intertítulo para agradar o SEO, né?
CRÍTICA O PESO DO TALENTO
Nicolas Cage faz aqui o papel que nasceu para fazer: ele mesmo. Literalmente. O Nicolas Cage do filme é um ator apaixonado por cinema, mas que não está feliz com a carreira. O roteiro não chega a reconhecer com todas as letras que ele fez dúzias de trabalhos ruins. Talvez em um ato de empatia, dizem que o problema é que ele trabalha demais. Que deveria fazer menos filmes.
Frustrado com a situação, ele resolve se aposentar. Mas antes pega um último trampo. E um muito fácil. Simplesmente aparecer em uma festa e, em troca dessa aparição, ganharia um milhão de dólares. Fala sério, é muito moleza ser famoso, né? Quem mais consegue dinheiro e produtos é quem menos precisa dessas coisas.
A festa seria na casa de um milionário espanhol chamado Javi (Pedro Pascal), e Cage não tem a menor vontade de estar lá. Porém, ele acaba ficando amigo de Javi, que por sua vez é um enorme fã de Cage (isso existe?).
ENTRA A CIA
Daí vem o problema: Nicolau Gaiola é abordado pela CIA, que diz que Javi é um criminoso internacional que raptou a filha de um político. E precisa da ajuda do Nick para espioná-lo. Este é o conflito central. Cage realmente gosta de Javi, e não acredita que ele possa ser tão terrível. Mas a CIA jura que é. O que fazer?
O Peso do Talento, bem como a carreira de Nicolas Cage, tem um pouquinho de tudo. É meio filme de ação, meio espionagem e tem até um quê de Testosterona Total. Mas é, acima de tudo, uma comédia. E, claro, um bromance.
O surpreendente é que, ao contrário de toda a carreira do protagonista, estes elementos dão liga, e formam um todo muito aprazível. Em especial, a química entre Nicolas Cage e Pedro Pascal é ótima, tornando os dois um excelente duo de comédia. O filme em geral é tão legal, e tão divertido, que faz o impensável: me fez começar a gostar do Nicolas Cage.
Isso porque ele é péssimo. Canastrão ao extremo. Mas aqui funciona. Afinal, ele interpreta a si mesmo. Tem até a voz da sua consciência, que é um Nicolas Cage mais jovem, que emula perfeitamente o visual e os maneirismos do ator naquela época. É de gargalhar.
GAIOLA. NICOLAU GAIOLA.
É quase como falei na minha crítica de Terror no Estúdio 666, lembra? Os caras do Foo Fighters são bons atores? Não. Mas o filme fica muito mais legal por eles estarem lá. O personagem de Nicolas Cage aqui poderia ser um ator fictício interpretado, sei lá, pelo Liam Neeson. E o filme também funcionaria. Mas não seria tão legal quanto é.
CRÍTICA O PESO DO TALENTO (MAIS UMA VEZ, COM SENTIMENTO!)
E a comparação a Terror no Estúdio 666 é relevante. Afinal, ambos são longas que fazem humor com metalinguagem, e que constantemente lembram o público que tudo que estamos vendo é uma brincadeira. Pois é, O Peso do Talento é um filme B, mas um raro caso de algo no gênero que não usa violência explícita.
Nicolas Cage termina o filme falando “estou de volta. Não que eu tenha ido a algum lugar”. E se O Peso do Talento reflete os planos que o sujeito tem para o futuro de sua carreira, eu digo “que venha mais”. E adoraria ver outras comédias estreladas por ele e por Pedro Pascal.