Quem não viveu a época provavelmente não tem noção do impacto que a banda Mamonas Assassinas teve na cultura pop brasileira em 95/96. O Brasil tinha muito menos opções. Embora já existisse TV a cabo, a minha casa e a de muitas outras famílias ainda não tinham. Não existia Youtube, redes sociais. Basicamente, nosso acesso à cultura pop era limitado ao que passava na TV aberta, em apenas seis canais.

Daí os Mamonas Assassinas apareceram, e eu nunca vi, nem antes, nem depois, uma banda ter tanta exposição. Eles estavam em todos os canais, ao mesmo tempo, o tempo todo. Era absurdo. Você ligava o rádio, uma música deles estava tocando. Você ia a algum lugar público com música ambiente, a música era dos Mamonas.

MAMONAMANIA

Mamonas Assassinas, Delfos, Imagem Filmes

Não sei se a Beatlemania na Inglaterra foi neste nível, já que não a vivi. Mas a Mamonamania foi uma overdose. Era impossível fugir. E pessoas que não gostavam da banda, como era meu caso, ficavam ainda mais excluídas. Isso me causou uma ojeriza a eles que admito que não sei se era justa.

Ao assistir a este filme, ouvi as músicas pela primeira vez em, sei lá, 20 anos. E é fácil perceber porque eu não gostava. Eles eram um retrato do Brasil, uma foto em que nunca me encaixei. É um humor fácil e repetitivo, voltado a imitações de personalidades da época que todo mundo fazia (como Silvio Santos e Gil Gomes), sotaque português e piadas sexuais. Eu não achava engraçado. Ainda não acho.

HUMOR BAIXO E REPETITIVO

Porém, se fosse hoje, eles simplesmente seriam mais uma banda que não me agrada entre tantas. Hoje eu não odeio nenhuma banda como odiei os Mamonas Assassinas, mas também não sou constantemente obrigado a ouvir coisas que não gosto em todo lugar que vou. É fácil ignorar o que não me agrada, e as pessoas são muito mais plurais em seus gostos do que eram durante a Mamonamania, em que todo mundo só ouvia e cantava um único disco.

Mamonas Assassinas, Delfos, Imagem Filmes

Hoje as opções são tantas que, quando vejo uma lista dos artistas mais tocados no Brasil, admito não conhecer a maior parte deles e mesmo os nomes que conheço, como Taylor Swift, Ed Sheehan e Imagine Dragons me parecem ter um público muito menor do que os Mamonas em seu auge.

Falei um monte sem falar do filme, mas acredito que é uma contextualização importante, especialmente para quem só ouviu falar dos Mamonas Assassinas depois que eles morreram. Foi um monopólio cultural que, com o fim da banda, gerou uma multidão de imitadores do que se convencionou chamar de “rock engraçadinho”. Com toda essa história contada, estava bem curioso para Mamonas Assassinas O Filme.

CRÍTICA MAMONAS ASSASSINAS O FILME

O motivo da minha curiosidade é que esta foi a banda que mais emplacou sucessos em menos tempo de vida. E mesmo assim, eu pelo menos sabia muito pouco deles. Eles estavam sempre na TV, mas tocando ou fazendo palhaçadas. E de repente eles morreram. E após algumas semanas de homenagens, sumiram deixando apenas os imitadores.

Eu sabia que antes dos Mamonas eles eram uma banda séria chamada Utopia (que é um nome genial para um grupo de rock, de verdade). E lembro da fama enorme de seu vocalista Dinho, o único deles cujo nome eu conhecia. Ele também chamava atenção por ser um tremendo galã em uma banda com rostos mais populares, o que sem dúvida contribuiu para o sucesso. Acredito que este filme é um dos poucos casos de cinebiografia em que o ator escolhido para fazer o sujeito é menos bonito do que o personagem da vida real. Mas divago.

MAMONAS ASSASSINAS DO ESPAÇO

Embora todos os músicos da banda apareçam, a história que o filme conta é do vocalista Dinho e do baterista Sérgio Reoli. Os outros são coadjuvantes. O longa conta a aventura da cambada desde a entrada de Dinho na banda até a gravação do disco do Utopia e a mudança para o humor com o nome de Mamonas Assassinas.

Como filme, ele não é tão diferente da maioria das cinebiografias musicais das quais sempre falo por aqui. Inclusive, mesmo quando eles alcançam o sucesso, acredito que o filme falha em passar a extensão do monopólio que eles causaram na cultura brasileira. Pelo filme, parece uma banda grande, mas não diferente do Queen ou do Johnny Cash quando, pelo menos durante aqueles meses, eles eram os donos do Brasil, maiores até do que as personalidades que imitavam.

Mamonas Assassinas O Filme mostra algumas coisas que as TVs da época não mostravam, como os músicos sendo mulherengos – o que é perfeitamente compreensível para jovens que alcançaram este nível de sucesso nos anos 90. Particularmente, gostaria de ter visto mais histórias focadas no guitarrista e no tecladista, que quase não aparecem no filme. E o guitarrista, em especial, é MUITO parecido com o real. Também pudera, o ator é sobrinho do dito cujo.

MAMONAS MAMANDO

Mamonas Assassinas, Delfos, Imagem Filmes

Como cinebiografia, Mamonas Assassinas O Filme claramente escolheu seus protagonistas (Dinho e Sérgio), e seguiu a cartilha do gênero. Não chega a ser ruim e ofensivo como outros longas do gênero, mas também não gostei tanto quanto de Mussum, o Filmis, que fez um trabalho melhor ao contar a história de seu homenageado.

Mas também, o “filmis” do Mussum tinha décadas para escolher as melhores histórias, enquanto os Mamonas morreram antes de completar um único arco dramático decente. É incrível pensar que todas as memórias que tenho do monopólio cultural causado por eles vieram de apenas oito meses da minha vida, mas de fato é a realidade. Esta foi a importância desses caras para a cultura brasileira dos anos 90.

O longa entra em pontos interessantes que eu não conhecia, como a namorada do Dinho tentando levá-lo para a carreira solo. E de fato, o vocalista recebia muito mais atenção do que o resto da banda – tanto que era o único que eu conhecia de nome. Ele investir em uma carreira solo parecia inevitável. Já vimos várias outras situações assim no mundo da música, e a banda original nunca sobreviveu a este tipo de ruptura.

Mas a tragédia que matou os Mamonas Assassinas após apenas oito meses de sucesso foi boa para eles, historicamente falando, pois o Brasil lembra da banda como um coletivo. Não como uma banda desmontada, que se desmanchou, mudou de estilo ou outras armadilhas do music business. Eles foram um sucesso estrondoso que queimou muito forte, mas durou muito pouco. E ficaram imortalizados na cultura pop tupiniquim como eram naquela época.