Este aranhaverso da Sony está dando tilt na minha cabeça. A gente ainda não viu no cinema personagens importantes dos gibis, como Lobo (que é da DC, claro), mas até os coadjuvantes mais xexelentos do Homem-Aranha estão ganhando filme. Sabemos dos motivos contratuais que fazem isso acontecer, mas nossa senhora. Venom fazia sentido, mas Morbius? E agora temos a Madame Teia e o Ezekiel, em um filme que acaba servindo como prequência para Homem-Aranha: De Volta ao Lar.
SUBSTITUINDO A ARANHA RADIATIVA
Madame Web faz algo que os outros filmes do Aranhaverso não fizeram: ele não se distancia do Homem-Aranha. Muito pelo contrário. O cara do Severance faz o Ben Parker, vemos os pais do Peter e até o próprio Peter recém-nascido. Apesar de todas as referências, no entanto, o filme toma um cuidado um pouco sem sentido para manter tudo em aberto. Ben fala que está namorando alguém, mas quando perguntam o nome, ele não responde que é a May. Tem toda uma cena fazendo charminho com o nome do nenê Parker, mas ninguém em nenhum momento fala que é Peter. É um cuidado estranho, considerando não apenas que são os personagens do gibi, mas que o próprio Ezekiel usa um uniforme bem parecido com o do Homem-Aranha.
Seja como for, você já percebeu que a origem do Homem-Aranha do MCU nunca foi de fato contada? A aranha que o picou era radiativa? Uma experiência da Oscorp? Ou será outra coisa? Pois Madame Web sugere que foi outra coisa. Segundo o filme, há uma espécie de Aranha no Peru cujo veneno dá superpoderes, como escalar paredes. Esta Aranha nunca foi encontrada pela civilização, e lendas dizem que uma tribo indigena usa estas habilidades. Pois o prólogo termina com o Ezekiel roubando uma das Aranhas. Salto para trinta anos depois.
CASSANDRA WEBB, SEM RELAÇÃO COM MARK WEBB
Conhecemos então Cassandra Webb (Dakota Johnson), uma paramédica que, após um acidente em que quase perdeu a vida, começa a ver o futuro. Ela não sabe como controlar o poder, mas logo se dá conta da responsabilidade de tê-lo. E coloca isso em uso quando uma premonição mostra um sujeito invadindo o metrô e matando três jovens passageiras. Ela resolve ajudar as meninas, e esta é a história principal.
O sujeito em questão é Ezekiel, que exatamente como no gibi, tem os poderes do Homem-Aranha, mas sem o altruísmo. Ele usou estas habilidades para enriquecer, mas tem constantes sonhos premonitórios que o mostram sendo morto por três super-heroínas. Adivinha só, são as três adolescentes do metrô. Elas ainda não têm poderes, então a ideia do vilão é mais ou menos naquela linha de “você mataria Hitler bebê se tivesse a chance?”. Ou seja, ele quer acabar com a vida delas antes de elas terem poderes para fazer o mesmo com ele.
EZEKIEL
O Ezekiel é um personagem do gibi que considero um tremendo mala, e cujo arco original foi o início do fim para minhas leituras de gibis mensais. Ele aparece falando para o Peter que os poderes da Aranha têm origens totêmicas e toda uma baboseira mística que seriam bacanas numa história do Doutor Estranho. Mas para o Homem-Aranha, um personagem urbano, não rola.
Faz sentido que ele venha para o cinema como vilão da Madame Teia, uma personagem mística que também nunca se encaixou nas histórias do aracnídeo. De alguma forma, ela combina com o Ezekiel.
AS IMAGENS DE MADAME TEIA
Provavelmente se você assistir ao trailer ou até mesmo ver as imagens de divulgação, vai esperar que este filme seja muito mais “super-herói” do que de fato é. Eu tive dificuldade em encontrar imagens que não fossem das personagens em seus trajes heróicos. Porém, você só as vê de fato com essas roupas em menos de um minuto do longa. Nenhuma das três tem poderes aqui, e mesmo a Madame Teia, sempre à paisana, faz pouco além de ver o futuro e ajudar as jovens a fugir do vilão.
Isso já é um pouco decepcionante. Coloca Madame Teia em um campo perigosamente próximo de O Exterminador do Futuro, mas sem a qualidade e com menos cenas de ação. Estas, quando rolam, até são boas, mas pressupõe que o resto do fime apresente um humor que certamente não faz. Assim, parecem que estão na obra errada. É de fato uma quebra do pacto ficcional quando uma ambulância aparece quebrando a parede do segundo andar de um prédio. Num Carga Explosiva, seria legal, mas Madame Teia se leva muito a sério para este tipo de patacoada. Apesar do nome Marvel no início da projeção, e o excesso de referências à família Parker, este não tem a narrativa cheia de humor tradicional no MCU.
O QUE MADAME TEIA TEM DO MCU
O que tem do MCU, de fato, é a vontade dos produtores de cinema de rejuvenecer e sensualizar personagens que no gibi são velhinhos. Você já percebeu isso quando viu a Tia May da Marisa Tomei, e aqui isso se repete com a Madame Teia e com o Ezekiel. Este até aparece com seus cabelos brancos característicos na premonição, mas nunca mais depois disso. Afinal, cabelo branco não é sexy. É uma briga feia pensar quem tem mais tempo de tela: os cabelos brancos do Ezekiel ou a Sydney Sweeney com traje de super-heroína. A resposta é nenhum dos dois.
Não senti que Madame Teia é aquele tipo de porcaria que deixa a gente com vontade de gritar na cara do funcionário que abre a porta da sala. Afinal, ele não tem o Jared Leto, o que já é sempre um ponto positivo para qualquer obra cinematográfica. Mas ser melhor do que Morbius também não é nenhuma grande conquista. Cá entre nós, eu gostei bem mais de Venom, e mesmo ele, geral considera uma porcaria. No final das contas, estes filmes do Aranhaverso são o que são: uma jogada para manter os direitos de cinema do herói nas mãos da Sony, e não obras criativas com ambição de serem realmente filmes legais. Se é o que espera, veja, mas não acho que perderá algo se optar por não ir ao cinema dessa vez.
MAIS MATÉRIAS DO ARANHAVERSO NO DELFOS:
- Venom e o cocô ao vento
- Venom e o casamento vermelho
- Aranhaverso 1
- Aranhaverso 2
- Homem-Aranha: De Volta ao Lar
- Homem-Aranha: Longe de Casa
- Homem Aranha: Sem Volta para Casa