Quem diria que De Volta ao Jogo iria virar uma grande franquia? Certamente não a distribuidora nacional, que o lascou com título genérico e depois teve que dar um jeito de voltar a usar John Wick para as continuações. Esta é nossa crítica John Wick 3 – Parabellum. E o filme é danado de bom.

CRÍTICA JOHN WICK 3 – PARABELLUM

Crítica John Wick 3, John Wick 3, Keanu Reeves, Delfos
John Wick é uma série de ação voltada para quem gosta de cachorros.

Se o primeiro filme conta uma história autocontida (eles mataram seu cachorro, ele quer vingança), o segundo, este terceiro e um vindouro quarto são capítulos de uma mesma trama. John Wick 3 – Parabellum começa de onde o anterior parou. John Wick quebrou as regras e será excomungado em uma hora. Isso significa que ele não poderá usar os serviços da sociedade de criminosos do qual faz parte. Para deixar tudo pior, um contrato aberto e milionário foi colocado pela sua cabeça. E acredite, ainda existe gente neste mundo que não tem medo de encarar o Joãozinho Maligno na porrada.

O que se segue são duas horas de perseguição, tiroteios e humor ininterruptos. Tem ação para todos os gostos. Desde embates corpo a corpo que parecem saídos de Mortal Kombat 11 (completos com fatality no final) a lutas de espada em meio a corridas de moto. Tem cabeças explodindo enquanto usam capacetes e brigas entre vidros quebrando. Sim, você leu certo. Este não é um filme de ação realista, e é justamente por isso que é tão divertido.

DIREÇÃO PRIMOROSA

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Chuva? O que é chuva?

A série já tinha evoluído bastante do primeiro para o segundo, tornando-se mais exagerada e flertando mais com humor, e a evolução foi em progressão geométrica para este terceiro capítulo. Este é de longe o melhor Testosterona Total em anos, com um timing impecável que não deixa a peteca cair e com limitadíssimas pausas para respiro. Se você gosta de seus filmes de ação intensos, cinematográficos e divertidos, este provavelmente é o melhor que veremos em 2019.

Muito disso se deve à direção primorosa de Chad Stahelski. Ele até agora só dirigiu os três John Wick, mas sua evolução como diretor nestes filmes é embasbacante. Apesar da pouca experiência como diretor, ele trabalhou um bom tempo como dublê, incluindo em Matrix, com os atores Keanu ReevesLaurence Fishburne, que agora dirige. E pelo jeito ele prestou bastante atenção nos ensinamentos dos então Irmãos Wachowski (hoje são irmãs) quando estes faziam uma das séries de ação mais estilosas de todos os tempos.

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Já conhece minha amiguinha?

Tem uma coisa que me incomoda muito em como o cinemão hollywoodiano filma cenas de ação no século 21. Há um excesso de cortes, que deixa tudo feio e difícil de entender. Não há uma preocupação com a estética da violência (apresentando socos e chutes como belas danças), ou pelo menos é uma estética que não me agrada.

Pegue, por exemplo, um filme dos Vingadores. Cada soco que o Capitão América desfere é um corte. Em um segundo de filme, você vê três ou quatro takes diferentes. Eles fazem assim pela facilidade. Desta forma, não precisam criar uma coreografia de luta elaborada que faça sentido e os atores não precisam aprender a lutar/dançar. Dá um soco, para. Dá um chute, para. Uma cambalhota, e para mais uma vez. Depois junta tudo na edição.

Crítica John Wick 3, John Wick 3, Keanu Reeves, DelfosDANÇANDO COM CHUTES E SOCOS

Eu sou um tanto purista. Os filmes antigos do Jackie Chan não eram assim, por exemplo. Heróium dos filmes de ação mais bonitos já feitos, não é assim. A meu ver, isso é mais ou menos como se um guitarrista fosse gravar uma música, mas não tivesse habilidade de tocar todas as notas. Daí ele resolve gravar a música em pequenos trechos, para arrumar depois no estúdio. Eu não consideraria este sujeito totalmente hipotético e nem um pouco inspirado por alguém real um guitarrista.

Para mim, quanto menos a filmagem interferir numa cena de ação, melhor. Ideal é câmera parada e com um mínimo de cortes. É por isso, aliado a coreografias bacanas e a ângulos estilosos que a ação de Matrix é tão legal.

Chad Stahelski concorda comigo. As cenas de ação em John Wick 3 têm cortes, mas são poucos. Há uma coreografia real entre as pessoas que estão no plano, e isso torna tudo não apenas mais estiloso, mas também mais dolorido (vai ter várias vezes que você vai soltar um gemido de aflição).

Tem uma cena em que o Keanu Reeves, a Halle Berry e dois cachorros brigam contra dúzias de capangas contratados e o diretor tem a pintudice de fazer planos longos colocando os quatro heróis no mesmo quadro. Tem ideia da dificuldade disso? Tarantino já dizia que os melhores diretores que existem são os de filmes de ação, e Chad Stahelski faz jus a essa ideia em John Wick 3.

Eu diria que nosso amigo anda a passos largos para se tornar o novo James Cameron. Se não em faturamento – o que, convenhamos, é quase impossível – pelo menos como um diretor especializado em belos filmes de ação. E ele já está escalado para dirigir um novo Highlander, então vamos ver o que vem por aí.

MAS NÃO É SÓ!

Não é só de uma direção virtuosa que vive John Wick 3. Gosto muito do universo no qual ele se passa. Os assassinos têm não apenas uma cultura própria, mas uma economia e uma terminologia toda criada para o filme. Normalmente você vê esse tipo de construção de mundo em filmes de fantasia e ficção científica, mas definitivamente não é comum em uma série de ação passada em sua quase totalidade em Nova Iorque.

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Até o Lance Reddick ganha sua grande cena de ação.

Isso tudo colabora para que John Wick 3 – Parabellum seja um filme realmente especial. Inclusive, cheguei a considerar premiá-lo com o Selo Delfiano Supremo. Mas, como você já pode ver, mudei de ideia.

Lembra que, lá no começo, disse que John Wick 2, 34 são capítulos de uma mesma história. Pois é, isso torna John Wick 3 a sempre difícil parte do meio de uma trilogia. E, como tal, ele não termina. Há formas de terminar um capítulo de forma satisfatória, mesmo deixando claro que a história continua. Para mostrar que não estou pegando no pé, Vingadores: Guerra Infinita faz isso. Você sabe que ele está chegando ao fim, e sabe que a história vai continuar.

John Wick 3 por outro lado, não teve um cuidado em encerrar seu capítulo. Simplesmente os créditos começam a passar. Eu sinceramente não estava esperando que ele terminasse ali e fui pego de surpresa. A sensação que fica é a de coito interrompido, o que nunca é legal, especialmente considerando que John Wick 4, pelo que eu sei, sequer foi anunciado ainda.

É uma falha grave? É. Suficiente para ter perdido o Selo Delfiano Supremo. Mas não elimina o quanto me diverti nas duas horas precedentes. Desta forma, se você gosta de filmes de ação divertidos, exagerados e descompromissados, John Wick 3 entrega, sendo o melhor que esta série produziu até agora. Mal posso esperar pelo próximo.

MAIS SOBRE JOHN WICK:

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John Wick – Um Novo Dia Para Matar

 

REVER GERAL
Nota:
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
critica-john-wick-3-parabellum-reviewTítulo: John Wick: Chapter 3 - Parabellum<br> País: EUA<br> Ano: 2019<br> Duração: 2h10m<br> Estreia no Brasil: 16 de maio de 2019<br> Distribuidora: Paris Filmes<br> Diretor: Chad Stahelski<br> Roteiro: Derek Kolstad, Shay Hatten, Chris Collins e Marc Abrams<br> Elenco: Keanu Reeves, Asia Kate Dillon, Jerome Flynn, Ian McShane, Anjelica Huston, Halle Berry, Laurence Fishburne e Lance Reddick.