Uma garota de 16 anos, moradora de uma cidadezinha italiana no alto de uma montanha, desaparece. Um renomado investigador da polícia é chamado para chefiar o caso e usa de seus métodos pouco convencionais, às vezes duvidosos, para jogar a mídia em cima do principal suspeito e assim esperar que ele cometa algum deslize e corrobore ser ele mesmo o culpado.

Já o suspeito, um pacato professor do colégio local, tem sua vida jogada sob os holofotes da noite para o dia quando surgem evidências circunstanciais de que ele pode estar envolvido no sequestro da menina. Imediatamente ele se torna um pária e dificilmente recuperará as graças da opinião pública caso seja inocentado.

Esta é a trama de A Garota na Névoa, suspense italiano roteirizado e dirigido por Donato Carrisi, baseado em seu próprio romance. E a coisa é bem boa, com uma pegada diferente dos thrillers hollywoodianos a que estamos mais acostumados.

Delfos, A Garota na NévoaEle é praticamente dividido em duas partes. A primeira mostra o trabalho de investigação do detetive Vogel, encarregado do caso. Raposa velha, o sujeito é mestre em manipular a imprensa para direcionar o foco da opinião pública para melhor atender aos seus planos.

Sim, ele quer achar a menina (embora acredite que ela já esteja morta) e resolver o caso, mas a forma como o faz é moralmente questionável, e essa forçada na barra na apresentação de pistas e evidências para produzir um suspeito fala muito sobre sua ética de trabalho.

ELES PRECISAM DAR UM ROSTO AO MEDO

Já a segunda parte trata do professor, que acaba virando vítima dos métodos de trabalho do policial e acaba tendo sua vida destruída muito antes de ser considerado culpado ou inocente e acaba vivendo, junto de sua família, um pesadelo ao aparentemente ser injustamente acusado de um crime que não cometeu.

Dessa forma, a condução do filme é focada no drama, tanto na parte investigativa da coisa quanto na vida pessoal do professor. Tudo centrado em diálogos e em observações espertas sobre a manipulação da mídia e do medo do público.

Isso torna sua condução deveras interessante. Não bastasse tratar muito bem desses temas, ainda consegue equilibrar muito bem aquele fator “será que ele é?” a respeito da suposta culpa do suspeito.

Delfos, A Garota na Névoa

E ainda apresenta uma reviravolta final que encaixa muito bem com tudo que foi apresentado até então, ficando bem longe de ser forçado, como costuma acontecer com as surpresas finais nesse tipo de filme. O negócio é tão bacana que eu acabei aumentando a nota em meio Alfredo só por causa disso.

A Garota na Névoa é um ótimo suspense, que vai além do mistério, suscitando discussões sobre pré-julgamentos, manipulação e como sempre queremos um bode expiatório para qualquer coisa. Se você gosta do gênero, este aqui agrupa todas as suas melhores características, aliada a conteúdo. Não deixe de conferir.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
critica-garota-na-nevoaTítulo: La Ragazza Nella Nebbia<br> País: Itália/Alemanha/França<br> Ano: 2017<br> Gênero: Thriller<br> Duração: 128 minutos<br> Distribuidora: A2 Filmes e Mares Filmes<br> Data de estreia: 08/11/2018<br> Direção: Donato Carrisi<br> Roteiro: Donato Carrisi<br> Elenco: Toni Servillo, Alessio Boni, Lorenzo Richelmy e Jean Reno.