Esta é nossa crítica Beau Tem Medo, novo longa de Ari Aster. Você deve se lembrar dele como o diretor de Midsommar e Hereditário, ou como um dos grandes nomes do novo cinema de terror, ao lado de Jordan Peele. O estranhamento começa pelo fato de Beau Tem Medo não ser um filme de terror. Ou, se for, é definitivamente menos tradicional do que a obra anterior do diretor. Na verdade, temos aqui um longa (e bota “longa” nisso) bastante difícil de definir.
CRÍTICA BEAU TEM MEDO
Minha interpretação é a seguinte: Beau (Joaquin Phoenix) é um sujeito com problemas de saúde mental. E nós vemos a sua história como ele a vê. Assim, Beau Tem Medo não faz sentido, e tem muito do jeitão onírico normalmente associado ao David Lynch. Durante boa parte do filme, nós vemos coisas acontecendo que assustam Beau. Mas será que elas estão acontecendo mesmo?
Deixa eu dar um exemplo. Eu, como a maior parte dos seres humanos, não sou um grande fã de baratas. Se um dia chegasse em casa e encontrasse uma barata de 1,90m sentada na minha poltrona jogando videogame, eu certamente ficaria com medo. Porém, eu tenho a saúde mental mais ou menos aceitável, a ponto de saber que isso não vai acontecer. Mas e se não tivesse? Esta é a pegada de Beau Tem Medo. E isso faz com que muitas das coisas que o assustam sejam engraçadas para nós, espectadores.
Porém, é um humor incômodo. Você nunca dá aquelas gargalhadas gostosas. Provavelmente por design, mesmo quando ri, fica com aquela pulga atrás da orelha. Tipo, rir disso não é legal. E tem hora que o filme realmente parece querer virar um besteirol. Um exemplo é quando Beau finalmente sobe ao sótão. A criatura que aparece lá é algo que não seria estranho em um episódio de South Park. Eu adoro South Park, mas esse tipo de humor de banheiro, que não me agrada nem lá, é esperado deles. Nada do que veio antes neste filme me fez esperar isso. Daí ficou só desnecessariamente grosseiro, por falta de uma palavra melhor.
CORRALES TEM MEDO DE PERDER TEMPO
Digna de nota é também a direção. Esta é ao mesmo tempo fantástica e péssima, uma definição que também posso aplicar ao filme como um todo. Tem um monte de cenas realmente interessantes aqui. A do teatro é um destaque claro, mas está longe de ser a única.
Além disso, a forma como quase o filme inteiro é filmado, mostrando em close apenas Beau, e dificilmente nos permitindo ver outros personagens claramente, contribui de forma criativa ao incômodo que permeia toda a projeção.
Porém, e também acrescentando a este incômodo, Beau Tem Medo é longo demais. Estamos falando de um filme de três horas que literalmente poderia durar 90 minutos. Quase todas as cenas se estendem além da conta, seguindo em frente por vários minutos mesmo depois de já terem feito seu ponto.
Das duas uma, ou os produtores obrigaram o diretor a fazer um filme de três horas, porque isso é o que vende hoje; ou ele realmente tem dó de cortar seu trabalho onde precisa. O que o torna um péssimo diretor. E isso se contradiz com as várias cenas lindíssimas e criativas que de fato estão no filme. É, nós, seres humanos, somos poços de contradição. E isso também é desenvolvido no personagem que dá nome à fita.
CRÍTICA BEAU TEM MEDO: UM POÇO DE CONTRADIÇÕES
Além disso, o filme parece uma sequência de episódios. Poderia ser, por exemplo, uma minissérie em quatro episódios. Isso deixaria a jornada mais prazerosa e menos cansativa, e a história é claramente dividida em capítulos independentes. Já estaria meio pronta para isso.
Assim como o próprio Beau, minhas conclusões sobre este filme são um poço de contradições. Eu odiei e amei, na mesma escala. Ele se alternava entre momentos de tédio extremo e outros totalmente diferentes – e positivos – do que costumamos ver no cinema.
A narrativa quebrada e nonsense certamente afastará muitas pessoas. Eu sei que me afastou de David Lynch todas as vezes que tentei assistir a algo seu. Porém, aqui, ela me cativou de alguma forma. Mas não foi o suficiente para afastar o tédio e o cansaço gerados pela sua duração extrema.
Beau Tem Medo é um filme difícil de quantificar. Eu gostei de ter visto, mas dificilmente vou querer vê-lo de novo – e não digo isso por causa do incômodo de sua narrativa. Mesmo agora, algumas horas depois de sair do cinema, não consigo resumi-lo a um simples “gostei” ou “não gostei”. E talvez dividir seja realmente a sua intenção. Beau Tem Medo é o melhor filme ruim a que já assisti. Ou talvez o pior filme bom. Escolha qual definição prefere.