<- Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante, li uma matéria humorística cujo título era: “Como ser um crítico de cinema chato”. Uma das “dicas” dada pelo autor era algo como iniciar a crítica do novo Star Wars com uma citação de Nietzche em alemão. Achei isso tão engraçado (principalmente porque é exatamente o tipo de coisa que um crítico chato costuma fazer) que prometi para mim mesmo que um dia faria isso. E agora você está lendo o resultado, que até agora não falou nada do filme em si, mas chegaremos lá. Mais exatamente no próximo parágrafo. Então, sem mais delongas, meu amigo delfonauta, eu lhes apresento: o próximo parágrafo.
Como já enrolei o suficiente na introdução, vou falar logo o que todo mundo quer saber: o Episódio III é detonante. Aliás, você já deve ter percebido isso pelo Selo Delfiano Supremo que está lá em cima (esta é a primeira vez que ele é publicado, embora outros filmes já o tenham faturado).
Finalmente chegou a hora da estréia do filme mais esperado do ano (por mim). Devo admitir que sou fanático por Star Wars e no momento em que apareceu a famosa frase “A long time ago, in a galaxy far, far away” seguida do logo da série, do conhecidíssimo tema musical e do tradicional texto introdutório, eu estava arrepiado, empolgado e meus olhos brilhavam de forma a iluminar a escuridão da sala do cinema (obviamente esta última parte é uma hipérbole, mas deu para entender o que quero dizer).
Como acontece em todos os episódios da série, a introdução foi seguida por uma daquelas cenas de ação de encher os olhos e sem muita conexão com o resto do filme. Mas, meu amigo, que cena de ação foi essa. Tudo começa com um duelo aéreo impressionante e belíssimo, seguido, é claro, das tradicionais lutas de sabre-de-luz. Posso dizer sem exagero que essa é a melhor cena de ação introdutória de toda a série.
Já nessa cena, Anakin começa a ser definitivamente tentado pelo lado negro da força. Daí em diante, o espectador fica permanentemente apreensivo, pois sabemos que ele vai ceder, mas não sabemos quando. A história é tão bem conduzida e mesmo as motivações de Anakin são tão puras que não dá para evitar ficar torcendo para que não aconteça. Para variar, tudo acontece por amor. Nosso amigo Anakin não queria o poder simplesmente pela necessidade de poder, mas porque precisava dele para evitar que sua amada Amidala (que apesar do nome, não fica localizada na sua garganta) sofra um destino terrível. É como nosso amigo Bruno Sanchez disse em um de seus textos: “Amor é um dos sentimentos mais bonitos e perigosos da raça humana”.
Na primeira metade do filme, Episódio III é um Star Wars bem tradicional. Tudo que os fãs querem ver está lá. Inclusive o alívio cômico novamente a cargo dos dróides R2-D2 e C-3PO. O odiado Jar Jar Binks (será que eu sou a única pessoa do mundo que gosta desse personagem?) aparece apenas como enfeite, já que nem falas tem. Na verdade, essa primeira metade é bem alegre e divertida, como sempre foram os filmes da série (na boa, por mais que todo mundo fale isso, não concordo com quem diz que O Império Contra-Ataca seja um filme sombrio).
Contudo, assim que Anakin cede ao lado negro, o filme muda radicalmente. Vira um verdadeiro drama espacial, realmente triste, com cenas que dá até vontade de chorar. Principalmente o momento pós-luta entre Obi-Wan e Anakin. Não chega ao ponto de ser um “Titanic no espaço”, como disse George Lucas, mas que deixa com um nó na garganta deixa.
Já que citei a luta entre os ex-amigos, vamos elaborar um pouco sobre esse assunto. A motivação dela é novamente o amor. Admito que estava um pouco receoso, achando que iam colocar um pretexto qualquer apenas para fazer a luta acontecer. Porém desta vez George Lucas caprichou no roteiro e cada peça que faltava no quebra-cabeça vai se encaixando naturalmente, deixando a impressão de que não poderia ser de outra forma.
Sim, sim, eu gostei muitíssimo do filme, mas como crítico, tenho a obrigação de exercer minha “imparcialidade parcial” falando também de seus problemas. Episódio III traz de volta alguns personagens conhecidos e apresenta outros novos com um grande potencial. Um dos velhos conhecidos que volta a aparecer é o wookie Chewbacca, talvez um dos retornos mais esperados da série, ao lado de Vader. Infelizmente, sua participação é mínima e sem grande importância para a história.
Outro mal-aproveitado é Conde Dookan, interpretado pelo tremendão Christopher Lee, que poderia ter rendido ótimos momentos, mas sua participação é pouco mais de uma ponta. Uma ponta emocionante, porém curta demais. Já achava que sua participação tinha sido pequena no Episódio II e esperava que ele tivesse uma importância maior aqui, o que infelizmente não aconteceu.
O extremamente alardeado General Grievous também é muito mal-aproveitado. Para começar, o personagem no filme lembra muito pouco aquele caçador de jedis do desenho Guerras Clônicas, que é absurdamente grande e perigoso. No longa, Grievous diminuiu de tamanho e ficou bem mais fraco. Fica a toda hora tossindo e engasgando, o que lhe dá um ar quase patético. Ele é praticamente um Darth Vader que não deu certo (e essa provavelmente era a intenção mesmo). Para piorar, ele se movimenta como uma galinha, o que deve render muitas piadas entre os desafetos de Star Wars. Para encabeçar, sua participação também é bem pequena, sendo apenas um pouco maior que a de Christopher Lee.
E o Darth Vader, tio Carlos? Bão, como já era esperado, a participação da icônica armadura é resumida a umas duas cenas lá pelo final do filme. E embora não seja divulgado nos créditos, tudo indica que sua voz é feita pelo Mufasa em pessoa, James Earl Jones, que infelizmente, deixa um pouco a dever em sua interpretação. O diálogo também não ajuda já que é um tanto cafona demais para um momento como aquele. Particularmente, gostaria de ter visto mais o personagem, mas todo mundo já imaginava que sua aparição seria nos últimos minutos, o que diminui um pouco a decepção.
Palpatine (Ian McDiarmid) também deixa um pouco a dever na sua interpretação. Protagoniza, ao lado de Mace Windu (Samuel L. Jackson) uma das melhores cenas de ação da nova trilogia, mas quando a ação termina e os diálogos ganham importância, seu papel se torna patético, completamente diferente do político frio e calculista que conhecemos nos filmes anteriores. Talvez fosse o caso de fazer mais alguns takes na cena, ou mesmo de reescrevê-la, pois esse momento é muito contraditório com a personalidade do personagem.
Ainda na “volta dos que não foram”, outros que reaparecem e que vão levar os fãs a alguns orgasmos múltiplos são alguns dos cenários utilizados para a trilogia clássica, como as naves dos rebeldes, o trono do imperador e afins.
Episódio III tem em Yoda um de seus grandes trunfos. O bichinho verde luta, faz planos e tudo mais a que um grande mestre tem direito. Yoda aparece mais neste longa do que em todos os outros, o que também deve levar fãs de todo o mundo ao delírio.
Senti falta de Boba Fett (que achei que apareceria como um adolescente nesse filme), mas isso não é um grande problema. Também senti falta de Qui-Gon, o mestre de Obi-Wan, que morreu no Episódio I. Tem uma cena específica, onde tudo indica que seu fantasminha vai aparecer, como acontece com Obi-Wan na trilogia clássica, mas isso também não chega a acontecer.
Um problema mais grave deste filme é que ele parece não resolver tudo. De certa forma, talvez teria sido melhor se Anakin tivesse se rendido ao lado negro no episódio anterior. Entre este último A Vingança dos Sith e Uma Nova Esperança, passam-se vinte anos. Seria legal acompanhar Darth Vader em seus primeiros dias como uma quase máquina, o que nos é negado aqui. Já foi anunciado que será realizada uma série de TV que acontecerá entre esses dois episódios, e pode ser que Lucas esteja reservando isso para essa série, mas enfim, Episódio III tem 140 minutos que não parecem ser suficientes para contar tudo que os fãs queriam saber.
Também seriam bem-vindas cenas que mostrassem o treinamento de Vader no lado negro da força, já que vemos apenas sua queda para este lado e, da próxima vez que o vemos, no Episódio IV, ele já é um grande mestre Sith.
As lutas também decepcionam um pouco. Não por serem simplistas ou algo do gênero, mas por utilizar planos muito próximos da ação, impedindo que o espectador admire os belos movimentos “samuraísticos” dos melhores jedis da galáxia, afinal, nesse filme vemos todos os grandes mestres lutando.
Elogios devem ser feitos a Ewan McGregor e sua equipe de maquiagem que, embora não tenha conseguido esconder as perebas de seu rosto, o deixaram bem mais velho, muito parecido com Alec Guiness, que fez o personagem na trilogia clássica. Admito que nunca gostei muito de McGregor, mas dessa vez ele parece ter acertado na interpretação, passando toda a sabedoria digna de seu personagem. Principalmente na já citada cena, após sua luta com Anakin, que é de cortar o coração. Só não digo que eu chorei porque eu sou espada e quem é espada não chora, mas admito que a vontade veio. :-)
Também não posso deixar de comentar a ridícula legendagem brasileira, que aderiu ao politicamente correto, mudando o folclórico “lado negro da força” para “lado sombrio da força”. Ora, já que é para ser politicamente correto, por que não traduzem de uma vez para “lado afro-americano da força”? Putz, é melhor nem sugerir. Vai que decidem refazer a legenda para o DVD.
E falando em DVD, eu quero o DVD desse filme! Sempre quando saio de um filme super-hiper-mega-turbo-tremendão, fico com vontade de comprar o DVD logo na saída para assistir assim que chegar em casa. Putz, esperar até o Natal para assistir esse filme de novo vai ser dose. Provavelmente vou acabar indo ao cinema para assisti-lo novamente.
Pois é, amigão. Star Wars – Episódio III tem tudo para ser o melhor filme da série. Só não afirmo isso com todas as letras, porque posso mudar de idéia ao assisti-lo mais vezes. Mas posso garantir que essa é minha opinião no momento. Este filme resume muito bem tudo que um nerd de carteirinha espera de Star Wars. Um pouco mais sombrio do que de costume, é verdade, mas isso já era esperado considerando a história que ele deveria contar.
A estréia é amanhã, 19 de maio. Mas se você for absurdamente nerd, existem sessões em São Paulo a partir das 23:50 de hoje. Mas não interessa em qual sessão você for, assista a esse filme no cinema (movimento da mão como fazem os jedis). O DELFOS recomenda com todas as forças, pois esse é daqueles filmes que devem estar na lista dos melhores do ano de toda nossa equipe.
Ah, não deixe de ler nossa resenha para aquele que é considerado por muitos o melhor filme da série: O Império Contra-Ataca.->