Gamma Ray – Land of the Free II

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Alfredo, Alfredo de la Mancha, Delfos, Mascote, Alfred%23U00e3o, Delfianos

Não é segredo que o Gamma Ray é minha banda preferida. Delfonautas dedicados e não tão dedicados sabem muito bem disso. Inclusive, lembro da época em que publicamos esta resenha e recebi um scrap furioso de um fã do Edguy dizendo algo como “você tem que entender que o Edguy é a banda preferida de muita gente. Você deixaria ele (o Guilherme) escrever uma resenha dessas se fosse sobre o Gamma Ray, a SUA banda preferida?”. Pois é, delfonauta. Se eu censuro opiniões, as pessoas reclamam e, se eu as libero, as pessoas reclamam. E pior, elas não vão reclamar para o autor do texto, mas sempre para mim.

Enfim, lembrei dessa historinha porque, apesar da nota que você vê aí do lado, tenho certeza que esse meu texto vai enfurecer muita gente que tem na banda de Kai Hansen seu conjunto metálico preferido, simplesmente porque eu vou apontar um fato inegável: o Gamma Ray parou de compor há mais de 10 anos e hoje em dia só requenta músicas de outros artistas.

Comecei a reparar nos plágios do Gamma Ray quando lançaram o Power Plant, nos idos de 1999. Antes disso, eles já tinham uma vergonhosa quantidade de músicas com o mesmo título de grandes sucessos do Metal (vide Heaven Can Wait), mas aí as coisas começaram a ficar descaradas.

Naquela época, o Iron Maiden estava com os discos The X Factor e Virtual XI, onde começava a fazer algo extremamente irritante: 95% das suas músicas começavam lentas e depois ficavam pesadas. O Gamma Ray, diante de tamanha falta de criatividade, lançou um disco inteiro exatamente assim. Para completar, as únicas que saíam dessa fórmula no álbum em questão eram Heavy Metal Universe, um plágio descarado do Manowar, inclusive repetindo frases inteiras que os estadunidenses tinham usado no Louder Than Hell (exemplo: it’s not only music, it’s a way of life), e Short As Hell, um tanto parecida demais com o estilão dos alemães do Rammstein.

Depois disso, veio o No World Order, disco que eu adoro, mas é inegável que boa parte de suas músicas parece um pouco demais com clássicos do Judas Priest, Deep Purple e Iron Maiden. No Majestic, a mesma coisa.

Em 2005, o Helloween, ex-banda de Kai Hansen, lançou a continuação de seu grande clássico. O que nosso amigo fez, então? Ora bolas! Exatamente a mesma coisa! Bem-vindo à resenha delfiana de Land of the Free II.

O primeiro Land of the Free, de 1995, foi praticamente a primeira e única incursão do Gamma Ray no Heavy Melódico, por mais que eles sejam comumente lembrados como um dos representantes máximos do gênero. Antes disso, eles se alternavam entre o Metal Tradicional com pitadas melódicas e o mais fanfarrão do Hard Rock, inclusive com muito humor. O Land, no entanto, era um disco de Metal Melódico puro, muito mais sério do que tudo que a banda tinha feito anteriormente, mas mantendo o clima alto astral e as mensagens positivas. As letras contavam uma historinha e o disco ainda contava com a participação do Michael “Mamãe, eu odeio o Metal” Kiske. Não deu outra, foi um sucesso mais retumbante do que o nosso Hino Nacional. A partir daí, o Gamma Ray foi ficando cada vez mais pesado. Cada disco que lançava ficava mais sério e mais “mau” e a coisa chegou até a beirar o Thrash Metal, em muitas ocasiões. Até agora.

É errado dizer que Land of the Free II é um retorno às origens, pois o Gamma Ray não começou assim. Ele é, contudo, uma versão mais séria e menos criativa do Land of the Free. E, embora eu goste mais do Gamma fanfarrão dos primeiros discos, é bom ver que a banda deu uma maneirada no peso e na pose de malvados e voltou a fazer aquilo que muitos consideram que Kai Hansen faz melhor: Heavy Melódico.

Mas o retorno não foi tão triunfal assim, pois a quantidade de plágios claros no álbum chega a ser irritante. Não, eu não ouvi o disco procurando por isso, mas quando você tem um certo conhecimento do estilo, é impossível não reconhecer quando você ouve uma música de outro artista. No faixa a faixa abaixo, aponto todos os plágios cuja existência chamou minha atenção, da forma mais detalhada possível, para você poder conferir por conta própria. Se souber de mais algum, deixa aí nos comentários. Vamos nessa?

INTO THE STORM

O nome é plagiado da faixa de abertura do disco Nightfall In Middle-Earth, do Blind Guardian. Felizmente, as semelhanças param por aí. Into the Storm é tudo aquilo que uma faixa de abertura de um CD metálico tem que ser. Rápida, mas sem descambar para pedais duplos em profusão, curta (menos de quatro minutos), de estrutura simples (estrofe/refrão/estrofe/refrão/solo/refrão), empolgante e pegajosa, com um refrão ideal para você gritar a plenos pulmões no início dos shows da turnê conjunta que a banda está fazendo com o Helloween. O único defeito dela é o fato de que ela começa com 20 segundos de ventinho. Eu odeio ventinhos, trovõezinhos e todos esses efeitinhos de estúdio que as bandas de Metal tanto gostam de colocar no início das faixas. Será que eles não sabem que, quando a gente coloca uma faixa para tocar, queremos a música começando imediatamente, sem precisar dar fast-forward?

FROM THE ASHES

A combinação perfeita para se iniciar um CD de Metal, na minha opinião, é que a primeira música siga a descrição acima, e a segunda seja algo mais comercial, mais bonitinho, manja? O primeiro CD do Gamma Ray, Heading For Tomorrow, faz exatamente isso, com aquela dobradinha que pode ser considerada uma das melhores aberturas da história (Lust For Life/Heaven Can Wait). From the Ashes, contudo, nada tem a ver com a fofa Heaven Can Wait. Essa é a típica música de Metal Melódico. Corais, melodias épicas e velocidade. Pouca coisa mais complexa (inclusive com alguns trechos lentos) e menos pesada que Into The Storm, mas também seria uma boa opção para abrir o disco. Uma excelente faixa.

RISING AGAIN

Essa dura apenas 27 segundos, mas, ao contrário da também pequerrucha Fairtytale, do primeiro Land of the Free, não é uma música completa, mas um interlúdio instrumental, que poderia muito bem ser apenas o início da próxima faixa. É bonitinha, mas eu não criaria uma faixa só para ela. Principalmente quando lembramos que a primeira faixa do disco conta com exatamente o mesmo tempo de ventinho antes da música começar.

TO MOTHER EARTH

Heavy Melódico, cara! Se você estava sentindo falta da típica velocidade do estilo, cheio de pedais duplos, nada tema. Aliás, as semelhanças com Stratovarius não param na velocidade e no estilo, pois a letra ecológica também lembra bastante a banda finlandesa. Ainda assim, o refrão é simplesmente lindo, tanto em termos melódicos quanto líricos, por mais que seja estranho ver o Gamma Ray, que se especializou nas suas letras de ficção-científica, falando como tratamos mal nosso planeta.

Infelizmente, essa faixa também tem a desonra de trazer o primeiro plágio descarado do disco. Ouça o pré-refrão, cuja primeira aparição começa aos 35 segundos e me diga o que lembra. Não reconheceu? Pois eu lhe digo: é exatamente a mesma melodia do pré-refrão de How Many Tears, do Helloween. Não é parecido, é A MESMA MELODIA. E sabe o que é mais triste? O próprio Kai Hansen cantou o pré-refrão da música original. Ou seja, ele não pode nem dizer que não conhece a dita-cuja. E não, How Many Tears não é uma composição do cara, mas do Michael Weikath.

Uma qualidade de To Mother Earth e que está cada vez mais incomum no mundo do Metal é que ela tem pequenos solos de todos os instrumentos, mais ou menos como acontece em outro clássico do Helloween, Eagle Fly Free. Aliás, o Júlio jura que a estrofe e o refrão são plágios da própria Eagle Fly Free, mas nesse ponto eu discordo, pois não vejo tanta semelhança assim.

RAIN

Esta é a primeira composição não-Hanseniana do disco, e ficou a cargo do simpático guitarrista narigudo Henjo Richter. O estilão me lembrou o que a banda fazia na época do Insanity and Genius, ou seja, é um Hard Rock pesadão, com cara de Heavy Tradicional. Bem legal. Rain tem o único traço de humor presente no álbum quando, em determinado momento, nosso amigo criador do Metal Melódico pergunta: “Where the fuck is my Superman outfit?”. Não tem absolutamente nada a ver com o restante da letra, o que deixa ainda mais absurdo e engraçado.

Contudo, parece que não é só nosso amigo Caio Rançudo que andou ouvindo muito Helloween ultimamente, nem podemos dizer que ele é o culpado de todos os plágios. Adiante a música para seus dois minutos e vinte e oito segundos. A melodia puxada pelo baixo, e logo somada à guitarra e vocais, é “coincidentemente” muito parecida com o refrão de A Million to One, presente no álbum The Time of the Oath. Mas que coincidência, não?

LEAVING HELL

O riff de abertura me parece extremamente familiar, mas eu sinceramente não consigo apontar exatamente de qual música ele foi tirado, se é que realmente foi roubado de algum lugar. Leaving Hell tem a maior cara de Land of the Free e isso é muito positivo. Tem uma bateria legal, um refrão pegajoso e até uns ô-ô-ôs.

EMPRESS

Empress é a mais diferente do disco. Única composição do baterista Dan Zimmerman (que compôs algumas das minhas preferidas da banda, como Dethrone Tyranny e Damn the Machine), é basicamente um Hard Rock, mas está bem longe do Hard Rock que os Rays fizeram desde o primeiro disco. Na verdade, o refrão tem uma semelhança assustadora com uma banda que nunca teve nada a ver com eles: o Therion.

Calma, delfonauta. Neste caso, não é um plágio, apenas uma semelhança de estilo. E não é o operístico de álbuns como o Deggial, nem o Death Metal dos velhos tempos. Lembra o Therion recente, aquele mais comercial e metalizado de discos como o Gothic Kaballah e Sirius B. Na verdade, até a letra mística, falando de uma imperatriz das trevas, lembra o estilo dos suecos. Eu conseguiria imaginar fácil esse refrão presente em qualquer um destes álbuns, cantados pelos épicos corais da turminha de Christofer Johnsson. Mas, ei, é uma música legal e o refrão em questão talvez seja o mais pegajoso do disco.

WHEN THE WORLD

O início vai lembrar qualquer banger escolado da introdução de Flash of the Blade, presente no Powerslave, do Iron Maiden. Não dá para dizer que é um plágio, nota por nota, mas é um tanto parecido demais para ser coincidência. Na melhor das hipóteses, os Rays se “inspiraram” na música da donzela. E as semelhanças não param por aí. Até a melodia da estrofe é semelhante à MESMA música do Maiden. Na verdade, o troço é tão parecido que parece homenagem, pois, em determinado momento da letra, tem uma frase bem sintomática: “branded with a sign/the number of the beast”.

Esquecendo a donzela, o restante da música é tipicamente Gamma Ray, sobretudo no refrão, daquele tipo “vamos todos cantar juntos”. Gosto, sobretudo, da mudança de bateria que rola no segundo refrão, deixando-a mais “batucada”. Ainda tem uma parte com um coral épico bem legal, que promete fazer miséria nos shows. É uma música legal, mas até aí, a Flash of the Blade também era.

OPPORTUNITY

Essa é a única composição do baixista Dirk Schlächter, que há muito não escrevia nada para a banda. Salvo engano, sua última contribuição tinha sido justamente a melhor música dos caras na minha opinião, Shine On, do álbum Somewhere Out In Space, de 1997.

Infelizmente, estes 10 anos foram cruéis para a capacidade criativa do cara, pois Opportunity é a mais fraca do disco. Eu ainda gosto dela, mas está muito abaixo do restante do disco em matéria de qualidade. Também é a única que traz um andamento cadenciado, mais próximo de um Black Sabbath, já que todas as outras variam entre o rápido e o muito rápido.

Para completar, adiante até os três minutos e meio e preste atenção na linha de baixo. Pois é, amigão. Novamente o Iron Maiden volta a aparecer por aqui, com um plágio de Rime of the Ancient Mariner. Questionado sobre essa parte, Kai Hansen disse que o baixista Dirk Açougueiro (pois é, Schlächter é açougueiro em alemão, você não sabia?) vem tocando esse riff há anos e que ele nunca tinha ouvido Rime of the Ancient Mariner.

Convenhamos, o cara pode até ter criado esse riff há anos, mas dizer que ele não conhecia a faixa em questão é tão queima-filme quanto o nosso presidente Lula dizendo que não sabia dos casos de corrupção no governo. Ora, era função do presidente saber disso, se ele não sabia, é porque é um inútil. E, se ele sabia, é porque é um corrupto.

O mesmo se aplica ao Dirk neste caso. Será possível que ele não conheça uma das músicas mais famosas da maior banda de Metal do mundo, banda que obviamente influenciou deveras seu próprio grupo? Ou será que ele conhecia e, “por coincidência”, inventou um riff igualzinho. Você escolhe, delfonauta. Dirk é um ignorante musical ou é corrupto? Ou vamos dar a ele o benefício da dúvida e dizer que foi simplesmente coincidência? ,)

REAL WORLD

Lembra do que eu falei lá no início sobre como eu acho que deve ser a segunda música de um disco? Pois Real World é exatamente assim. É a mais comercial do álbum e a mais divertida. Simplesmente não dá para não se empolgar na parte que fala “Let me hear you say yeah!”.

O nome é igual o de uma faixa da carreira solo do Bruce Dickinson (que é bônus do Chemical Wedding), mas musicalmente, Real World lembra muito I Want Out, clássico composto pelo próprio Kai Hansen em seus tempos de Helloween.

Não chega a ser um auto-plágio, mas a estrutura e o climão geral é exatamente o mesmo. De qualquer forma, eu sempre achei que é nessas músicas mais radiofônicas que o cara realmente se supera, vide clássicos como Heaven Can Wait, Heaven or Hell e Send Me a Sign. Real World continua a tradição e é uma das melhores do álbum.

HEAR ME CALLING

Segunda e última composição do cara do nariz, Henjo Richter. Hear Me Calling é a segunda mais curta do disco (a título de curiosidade, a primeira é Into the Storm e a terceira é Leaving Hell). Esta é mais um típico Heavy Melódico que poderia estar orgulhosamente no primeiro Land of the Free, embora alguns de seus trechos lembrem a faixa The Winged Horse, do mais pesado Somewhere Out In Space.

INSURRECTION

O grande sucesso do primeiro Land of the Free é a tremendona Rebellion in Dreamland. Pois se você é um dos muitos que considera essa uma das melhores composições do Kai Hansen, regozije-se. Insurrection é a Rebellion in Dreamland desta segunda parte.

Ao longo de seus mais de 11 minutos, temos diversas mudanças de andamento, muitas melodias (uma mais bonita que a outra) e vários solos e harmonias caprichados. Calma, delfonauta com medo de Rock Progressivo. Pode apagar suas três luzes vermelhas, pois, apesar da extensa duração, Insurrection não tem aqueles trechinhos chatos de enrolação (como na Heading For Tomorrow), onde os caras param de fazer música para ficar fazendo barulhinhos. É simplesmente uma composição que realmente necessitava de mais tempo para ser completamente desenvolvida, na mesma linha que maravilhas como Halloween e Keeper of the Seven Keys.

A única coisa que senti falta aqui é de um refrão ao mesmo tempo pegajoso e estiloso como na Rebellion. Ainda assim, é seguro dizer que, se Land of the Free II vai acrescentar mais um clássico nos anais metálicos, este será ele.

Porém, como não poderia deixar de ser, aqui também existe um plágio. Procure por ele aos seis minutos e quinze segundos e terá o desprazer de ouvir um trecho não creditado de Tom Sawyer, do Rush. O lado bom é que, pelo menos nesse caso, é um trecho bem pequeno de uma música bem longa.

BLOOD RELIGION (LIVE IN MONTREAL)

Essa é a faixa bônus presente no álbum japonês. Nenhuma novidade, é simplesmente uma versão ao vivo da música que já conhecemos do Majestic.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Cacilda, Corrales! Como um disco com tanto plágio pode levar a nota máxima? Você está se contradizendo, pô! Você não gosta de Metal, vai ouvir pagode!”, deve estar exclamando o delfonauta com uma inteligência mais diminuta e adepto dos argumentos fáceis e comuns em fóruns e sites de Heavy Metal. Pois eu respondo que, apesar do excesso de “homenagens”, eu gostei de todas as músicas desse disco, e isso é muito raro de se conseguir.

O Gamma Ray pode não ser mais uma banda tão criativa como foi no passado e Kai Hansen definitivamente não é mais um grande mestre do Metal. Ainda assim, os caras sabem como poucos requentar clichês e composições de outras bandas nas suas próprias e, com isso, conseguir uma mistura deveras agradável, ainda que não exatamente honesta. Na verdade, se não fosse pelo excesso de plágios, Land of the Free II levaria a maior honraria da indústria do entretenimento, o Selo Delfiano Supremo. Como os plágios estão aí, contudo, leva “apenas” cinco Alfredos. E já é uma das maiores notas que eu dei para um disco nos últimos anos. Sem falar que essa provavelmente é a resenha de CD mais longa aqui no DELFOS. E digo mais, talvez seja a resenha de CD mais longa já escrita. Acho que eu deveria estar no Guiness. ,)

Atualizada: Me falaram que existe um vídeo no YouTube apontando diversos plágios nesse disco, inclusive alguns que eu não apontei. Essa resenha foi feita sem assistir a vídeo nenhum e coloquei aí apenas as semelhanças que percebi sem ficar necessariamente procurando por eles. Particularmente, acho que um vídeo tiraria a graça da brincadeira, então não faço nenhuma questão de assisti-lo. Se você quiser, contudo, procura lá.